Maduro denunciou um plano para "usurpar" o poder. Milhares de chavistas saíram às ruas em defesa da sua vitória, quase uma semana após as eleições de 28 de julho, questionada pelos Estados Unidos e por vários países da região.

O presidente esquerdista insiste em que as acusações de fraude fazem parte de um plano de golpe de Estado contra ele, e alertou que “não aceitará, com as leis nacionais, que se pretenda usurpar novamente a Presidência", referindo-se ao reconhecimento internacional que Juan Guaidó recebeu em 2019.

'Perderam toda a legitimidade'

Apesar do medo de repressão, milhares de opositores reuniram-se em Caracas, onde María Corina reapareceu, dois dias depois de anunciar que ocultaria o seu paradeiro por motivo de segurança, após Maduro pedir a prisão da opositora e do representante dela na eleição, Edmundo González Urrutia.

“Liberdade, liberdade!”, gritaram milhares de opositores no leste de Caracas, enquanto María Corina passava no tejadilho de uma camião.

"Estamos a defender a soberania popular por meio do voto!", disse a opositora, 56, que vestia uma camiseta branca. "Nunca o regime esteve tão fraco. Perderam toda a legitimidade. Não vamos sair das ruas", proclamou.

Após o ato, María Corina deixou o local numa mota, que partiu em alta velocidade.

"Sinto esperança quando a vejo, apesar das ameaças, sinto que ela é uma luz para a Venezuela. Tenho muita fé que vamos sair desse governo. Não haverá mais miséria. Vamos prosperar", disse à AFP Adrian Pacheco, um comerciante de 26 anos.

A oposição organizou manifestações semelhantes em outras cidades do país, nos Estados Unidos e na América Latina e Europa.

"Maduro é ilegítimo. Não somos terroristas, estamos a lutar pelo nosso país, pela liberdade", disse Jezzy Ramos, chef de cozinha de 36 anos, casada e mãe de uma filha.

Chavistas

A passeata do chavismo foi até o centro de Caracas, onde fica o palácio presidencial. A manifestação reuniu milhares de pessoas - a maioria vestida de vermelho -, que carregavam bandeiras e faixas.

“Temos que vir defender a vitória do nosso presidente legítimo, Nicolás Maduro”, disse o ator Raúl Díaz, 35. "Estamos no começo de uma nova era, a era da consolidação da Revolução, a era do bem-estar”, afirmou o professor universitário Alí García, 69.

Maduro foi ratificado ontem pelo Conselho Nacional Eleitoral como presidente reeleito, e acusa os líderes da oposição de tentarem dar um golpe de Estado.

Com 11 civis mortos desde o início dos protestos espontâneos, na segunda-feira, em rejeição ao anúncio da reeleição de Maduro, e mais de mil presos, os líderes da oposição limitaram suas aparições públicas nos últimos dias.

Na sexta-feira, o líder da oposição e jornalista Roland Carreño, que já havia ficado preso entre 2020 e 2023 por acusações de "terrorismo", foi detido novamente, conforme denunciado por seu partido Voluntad Popular, de Juan Guaidó e Leopoldo López.

De acordo com o Ministério Público, um militar também foi morto durante os protestos.

Provas de fraude

A oposição diz ter provas de fraude, e apresenta um site com cópias de mais de 80% das atas de votação em seu poder. O chavismo alega que os documentos são falsos. Segundo a oposição, González Urrutia recebeu 67% dos votos.

Ontem, em poucas horas, cinco países latino-americanos - Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá - reconheceram a vitória de González Urrutia. O Peru havia sido o primeiro, na terça-feira.

Maduro agradeceu aos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Colômbia, Gustavo Petro; e do México, Andrés Manuel López Obrador, por seus esforços em prol de um acordo político na Venezuela. Entre os países que reconhecem Maduro estão Nicarágua, Rússia e Irão.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apoia a posição do Governo de Portugal e de outros seis países europeus que exigem transparência dos resultados das eleições na Venezuela, anunciou a Presidência.