Pelo menos 20% das infeções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença Covid-19, são em médicos “e um número não divulgado, mas seguramente elevado, atinge outros profissionais de saúde”, denuncia a Ordem dos Médicos.

Questionado pela imprensa, ao início desta tarde em Lisboa, o secretário de Estado da Saúde afirmou que são cerca de três dezenas os profissionais infetados, dos quais 18 são médicos.

“Na segunda-feira, com 331 casos confirmados, existiam cerca de 30 profissionais de saúde infetados, sendo 18 médicos”, disse António Lacerda Sales na conferência de imprensa diária de atualização de informação relativa à infeção pelo novo coronavírus (Covid-19), onde esteve presente a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Já no domingo o presidente do Sindicato Independente dos Médicos tinha avançado que mais de 50 médicos estavam infetados com o novo coronavírus e mais de 150 estão em quarentena.

O secretário de Estado da Saúde afirmou que os “médicos e outros profissionais estão sempre na linha da frente deste combate e, portanto, é sempre também possível que sejam infetados não só nas respetivas instituições também o possam ser noutros locais na comunidade”.

“Portanto, não será exclusivamente nas respetivas instituições”, disse, António Sales, deixando “uma palavra de grande agradecimento e de reconhecimento” a estes profissionais.

Adiantou ainda que está a ser reforçado o número de profissionais de saúde, respondendo “a todas as necessidades das instituições do Ministério da Saúde que têm agora autonomia para contratação com dispensa de quaisquer formalidades”.

Segundo o governante, foram recebidos pedidos para a contratação de cerca de 450 profissionais de várias classes muitos já autorizados pelo Ministério da Saúde. Os restantes estão em condições de serem aprovados pelas administrações hospitalares de imediato.

Destacou também o papel das ordens profissionais com quem o ministério da Saúde reuniu no final da semana passada e que apresentaram a sua disponibilidade para fazer face à epidemia

“Médicos, enfermeiros, biólogos, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, dentistas e veterinários” disponibilizaram e “estamos já a estudar a melhor forma de integrar essas ajudas na resposta global ao surto através da Direção-Geral de Saúde”.

Neste momento, avançou, há mais de 1.800 médicos disponíveis para reforçar o Serviço Nacional de Saúde na resposta à epidemia e mais de 1.000 enfermeiros entre outros profissionais “todos eles indispensáveis neste combate”.

Questionado sobre uma notícia do Correio da Manhã de que há uma fábrica em Penafiel (Bastos Viegas), que tem exportado muito equipamento de proteção individual e que “responde a todas as solicitações internas e neste momento não tem qualquer pedido sem resposta”, o governante afirmou que foram dadas indicações para que toda a produção que vier a ser feita pela empresa possa ficar em Portugal.

“Estamos a gerir os meios da melhor forma possível através da partilha de recursos e estamos a ir todos os dias ao mercado para adquirir “o mais rapidamente possível” estes materiais.

“Durante esta semana vão ser distribuídos mais de dois milhões de máscaras e à volta de 150 mil equipamentos de proteção individual”, salientou.

Em comunicado, o organismo liderado por Miguel Guimarães lembrou esta terça-feira que “desde o primeiro momento do surto, a Ordem dos Médicos tem vindo a alertar para a importância de serem divulgadas orientações claras sobre que equipamentos usar e em que circunstâncias, devendo os mesmos ser disponibilizados a todos os profissionais que estão no terreno a combater esta situação de emergência de saúde pública internacional, já declarada como pandemia pelo Organização Mundial de Saúde”.

Miguel Guimarães diz ainda que têm chegado à Ordem dos Médicos, e a si diretamente, “vários relatos de escassez ou inexistência de equipamentos de proteção individual, bem como falta de orientações claras sobre os equipamentos que os médicos devem usar e quando, instando a que todos os colegas reportem as falhas e exijam trabalhar devidamente protegidos, por si, pelos doentes e por todos os portugueses”.

“Na fase em que nos encontramos não é possível continuarmos a só proporcionar equipamentos de proteção individual em locais de apoio direto ao COVID-19. Neste momento, com cadeias de transmissão desconhecidas, todas as pessoas que estão no terreno, em todas as unidades de saúde, precisam de estar devidamente protegidas”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos, citado no comunicado.

“Esta falta de equipamentos de proteção individual para profissionais está a ser o calcanhar de Aquiles no combate ao novo coronavírus. Arriscamo-nos a que muitos médicos e profissionais de saúde fiquem doentes o que, para além do drama pessoal e familiar, significa não termos os médicos e profissionais necessários para tratar dos doentes enquanto atingimos o pico da epidemia. Se queremos ser bem-sucedidos temos de seguir o exemplo de Macau e não de Itália”, acrescenta Miguel Guimarães.

A Ordem diz que a continuar assim, “com muitas unidades de saúde (hospitais e centros de saúde) a não cumprirem as regras mínimas de proteção individual e coletiva, a situação pode tonar-se crítica e instável”.

A instituição garante estar “atenta a tudo o que está a acontecer no terreno e a procurar, por todos os meios e a vários níveis, contribuir para proteger a vida dos doentes e dos profissionais de saúde”.

O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou cerca de 170 mil pessoas, das quais 6.850 morreram. Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.

O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 140 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Depois da China, que regista a maioria dos casos, a Europa tornou-se o epicentro da pandemia, com quase 60 mil infetados e pelo menos 2.684 mortos.

A Itália com 2.158 mortos (em 27.980 casos), a Espanha com 309 mortos (9.191 casos) e a França com 127 mortos (5.423 casos) são os países mais afetados na Europa.

A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou na segunda-feira que Portugal registou a primeira morte.

Há 331 pessoas infetadas até segunda-feira, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS). Dos casos confirmados, 192 estão a recuperar em casa e 139 estão internados, 18 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

Das pessoas infetadas em Portugal, três recuperaram.

Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.

O Governo também anunciou segunda-feira o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham que se deslocar por razões profissionais.

(Artigo atualizado às 15:36)