A operação de fiscalização da Guarda, com a participação de seis militares, arrancou por volta das 08:30 e decorreu na estrada nacional (EN) 255, entre Moura e Pias, no concelho vizinho de Serpa, distrito de Beja, na “fronteira” dos dois municípios.
Os militares da Guarda dividiram-me pelo dois sentidos da faixa de rodagem e a professora Alice Félix, que reside em Moura e que dá aulas numa escola de Serpa, foi uma das primeira a parar para ser fiscalizada.
A docente admitiu estar preocupada com a situação da pandemia de covid-19 em Moura, mas afiançou que as medidas mais apertadas “não são por existirem mais casos agora” no concelho, mas por “um surto” que foi anteriormente detetado.
“É exagerado” aplicar estas medidas em Moura e o concelho “devia ter sido avaliado” com os dados atuais e “não com os de há duas semanas”, defendeu.
Quem apresentou igualmente justificação para circular foi Ana Silva, que também é professora, mas leciona na escola de Pias.
“Regras são regras”, afirmou Ana Silva, que se mostrou resignada com as medidas aplicadas em Moura e, ao mesmo tempo, preocupada com o impacto destas medidas a “nível económico”, sobretudo, no “pequeno comércio”.
Enquanto entrega documentação sua e do automóvel ao militar da GNR que a solicitou, esta professora pediu que se revejam os critérios, nomeadamente a relação do “número de casos com o número de habitantes” para não prejudicar meios mais pequenos.
José Costa foi outro dos automobilistas a parar nesta operação da GNR e nas declarações à Lusa fez subir o tom das críticas, por considerar que “é ridículo que Moura esteja nesta situação”, uma vez que existem “pouquíssimos casos” de infeção por SARS-CoV-2.
“Tínhamos 14 casos na semana passada e, agora, acho que estamos com 10 e não há nenhum novo caso há dois ou três dias”, assinalou.
A trabalhar no setor do olival, José Costa apresentou justificação para seguir caminho e atirou: “a agricultura não pode parar”.
“É triste, porque Moura já não tem assim tantos casos positivos”, referiu, por sua vez, Hélder Calado, ao volante de um ligeiro de mercadorias, que disse não ter dúvidas de que o recuo para a primeira fase do desconfinamento “entristece a todos um pouco”.
Já o consultor imobiliário Weuler Ribeiro concordou com as medidas mais restritivas, por estar “muito preocupado” com a pandemia de covid-19, e até disse que as escolas não deviam ter ainda iniciado as atividades presenciais.
Neste ação, a GNR fiscalizou quase meia centena de viaturas e não foi elaborado qualquer auto de contraordenação, segundo o comandante do Destacamento Territorial de Moura da Guarda, o capitão Nelson Pestana.
“Todas as pessoas que estavam a sair do concelho de Moura tinham justificação para tal e quase todas apresentaram razões relacionadas com o trabalho”, exceto um dos condutos fiscalizados que “ia fazer o teste de covid—19″, precisou.
O oficial adiantou que a GNR de Moura recebe “diariamente” duas patrulhas, com dois militares cada uma, do Comando Territorial de Beja e do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) para o reforço das ações de fiscalização e sensibilização.
Moura é um dos quatro concelhos do país, juntamente com Odemira, Portimão e Rio Maior, que recuaram para a primeira fase do desconfinamento, por registarem, pela segunda avaliação quinzenal consecutiva, uma taxa de incidência de casos de covid-19 acima de 240 por 100 mil habitantes em 14 dias.
Nestes quatro municípios, voltam a estar encerradas as esplanadas, lojas até 200 metros quadrados (m2) com porta para a rua, ginásios, museus, monumentos, palácios, galerias de arte e similares, assim como está proibida a realização de feiras e mercados não alimentares e a prática de modalidades desportivas de baixo risco.
Além destas restrições, os residentes de Moura, Odemira, Portimão e Rio Maior não podem circular para fora do município, proibição que se aplica diariamente, desde segunda-feira e durante 15 dias, ainda que estejam previstas exceções, como trabalho ou assistência a familiares.
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