Em conferência de imprensa, António Lacerda Sales, secretário de estado da Saúde, referiu que a taxa de letalidade global é de 3,7% e a taxa de letalidade acima dos 70 anos é de 13,3%.

Lacerda Sales referiu ainda que 86,1% dos casos de infeção estão em tratamento domiciliário e que 4,9% estão em internamento (0,9% em UCI e 4% em enfermaria).

"Portugal ultrapassou a barreira dos 300 mil testes realizados. Desde o dia 1 de março foram realizados cerca de 302 mil testes de diagnóstico covid-19 no nosso país", referiu. "Estamos a falar de uma testagem de 27.925 pessoas por milhão de habitante", reforçou, referindo que são números superiores aos registados na Noruega,  Suíça, Itália ou Alemanha.

Do total de testes, cerca de 49% foram realizados em laboratórios públicos, 45% no setor privado e 6% noutras instituições académicas ou militares.

"Há também cada vez mais utentes inseridos na plataforma Trace Covid. Neste momento são já mais de 135 mil nesta ferramenta que permite o seguimento" dos utentes. Mais de 30 mil estão em vigilância clínica, frisou Lacerda Sales.

Sobre os testes serológicos e a sugestão do ministro do Ensino Superior de testar a imunidade dos estudantes para “transmitir confiança” no regresso às aulas presenciais, em entrevista ao Observador, o secretário de Estado da Saúde concordou.

“Dada a importância que os testes serológicos terão na avaliação da imunização da população, as instituições poderão perfeitamente fazer os seus testes”, afirmou António Lacerda Sales.

O governante acrescentou que o Ministério da Saúde vai iniciar “um projeto piloto com cerca de 1.700 pessoas na amostra para começar a fazer uma validação da metodologia dos testes serológicos”.

“Sendo testes devidamente adequados àquilo que é o objetivo e se o objetivo for começar a avaliar a imunização da população, nada temos a opor”, frisou Lacerda Sales.

O secretário de estado deixou ainda uma palavra de apreço às pessoas que se encontram em recuperação em casa, "respeitando o isolamento obrigatório e garantindo não só a sua recuperação individual, mas protegendo a nossa saúde coletiva".

Lacerda Sales referiu também que, desde 9 de março, foram transferidos cerca de 2.300 doentes dos hospitais do SNS para as unidades da rede nacional de cuidados integrados continuados. No mesmo período, foram encontradas 230 respostas sociais que permitiram libertar camas hospitalares cruciais para o tratamento de doentes da covid-19.

"Continuamos empenhados em garantir que o Serviço Nacional de Saúde continue a responder positivamente às diferentes fases da epidemia e o esforço de todos continua a ser tão determinante hoje como foi ontem", adiantou o secretário de estado. 

Questionado pelos jornalistas sobre as consultas e cirurgias adiadas, Lacerda Sales referiu que foi preciso adaptar a situação no país. "Durante esta fase, e apesar de estarmos focados na questão covid, manteve-se toda a atividade de urgência e por isso temos mantido o apelo constante a que pessoas que sintam descompensação no seu estado de doente crónico que se dirijam à linha SNS24, aos seus médicos de família ou à urgência em casos mais graves. É seguro ir à urgência em casos mais graves", disse.

O Serviço Nacional de Saúde registou uma quebra 6,6% de consultas nos cuidados primários e de 5,7% nos hospitais, no primeiro trimestre desde ano.

“Há uma variação do primeiro trimestre deste ano em relação ao período homólogo de 2019 de menos 6,6% de consultas nos cuidados primários, menos 5,7% de consultas nos hospitais e foram realizadas menos 5,3% cirurgias”, disse Lacerda Sales.

Em contrapartida, houve um aumento de 26,6% na utilização de teleconsultas, com recurso a ferramentas digitais ou ao telefone, uma nova forma de “continuar a fazer o acompanhamento de doentes”, segundo o secretário de estado.

Portugal teve de preparar o Serviço nacional de Saúde para a emergência de saúde publica provocada pelo novo coronavírus, e, segundo o secretário de Estado, isso provocou uma inversão “na trajetória que vinda sendo bem conseguida no acesso à atividade programada na saúde”.

“O número de cirurgias estava a aumentar cerca de 12,5% em relação a período homologo do ano passado”, acrescentou.

O Ministério da Saúde está a elaborar um plano para recuperar toda a atividade médica assistencial não covid, e isso implica “assegurar capacidade de o sistema assegurar equipamentos de proteção individual para profissionais e doentes e preservar a capacidade de instalar no SNS também a resposta à covid-19”.

Lacerda Sales voltou a garantir a segurança dos doentes no acesso aos cuidados de saúde, dizendo que "é seguro e os fluxos estão bem definidos". "Estamos, todos os dias, a tentar melhorar a nossa informação", garantiu.

O "ponto de equilíbrio", a utilização de máscaras e a situação nos lares

Para Graça Freitas, tomar a decisão de gradualmente serem retomadas algumas atividades económicas e sociais "é complexo" e tem em conta a conjugação de um conjunto de fatores como “a evolução da epidemia, a capacidade de resposta do sistema de saúde e a capacidade de monitorização”.

“Descomprimir ou não as medidas que estão a ser tomadas dependem da curva epidémica, dependem da capacidade do sistema ter ainda folga e aguentar, porque sabemos que quando diminuirmos as restrições a curva [epidémica] vai tender a subir e é assim mesmo, e ainda a capacidade que os países têm de monitorizar a curva e o sistema de saúde”, afirmou Graças Freitas na habitual conferência de imprensa para dar informação sobre a pandemia por covid-19.

A Associação dos Médicos de Saúde Pública e a Associação dos Médicos de Família discordam do levantamento gradual das restrições já no início de maio, alegando que ainda é cedo e que o cenário epidemiológico é muito semelhante ao que existia quando foi renovado o estado de emergência, em vigor até 02 de maio.

Além dos fatores enumerados, a diretora-geral de saúde destacou também a sua necessária conciliação com questões sanitárias, sociais e económicas.

“Não são soluções fáceis, vão-se implementando nos diversos países com diversas metodologias e nós vamos aprendendo e temos de ter a capacidade de acompanhar o efeito do levantamento das medidas na evolução da epidemia”, frisou.

Sobre o "número de pessoas a partir de um caso infetado que se infetam", Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, referiu que "não há um número mágico".

O indicador R0 é o número de pessoas que é necessário infetar para que a epidemia se mantenha, ou seja, o que é que cada infetado transmite a um determinado número de pessoas.

"Para dar o exemplo: um R de 2,5 quer dizer que uma pessoa origina, em média, mais 2,5 pessoas. Quanto maior for o R, maior é a capacidade de a curva subir e subir exponencialmente", afirmou, explicando que o objetivo é sempre diminuir o valor.

Nós, em Portugal temos [o valor] de 1. Estamos equilibrados, em algumas regiões ligeiramente acima de 1, noutras abaixo. Por isso é que temos andado no planalto, obviamente com alguma tendência decrescente, mas ainda é cedo para dizer. Estamos, neste momento, no ponto de equilíbrio".

No que diz respeito ao stock de ventiladores vindos da China, António Lacerda Sales referiu que foi necessário recorrer ao mercado. "O nosso recurso foi de facto o mercado chinês. Sabemos que alguns ventiladores vêm com indicadores e botões em chinês, mas também sabemos que nesses ventiladores existem indicadores universais, por exemplo, de saturação de CO2 ou de O2, e esses permitem-nos ter o acesso facilitado e por isso relativamente fácil", referiu, dizendo que, caso isso não aconteça, "haverá maneira de fazer a respetiva formação dos profissionais".

O secretário de estado da Saúde referiu ainda que os ventiladores passam por um processo de análise e validação antes de serem repartidos pelos diferentes hospitais onde são necessários.

Sobre as máscaras, Graça Freitas referiu que, à data, existem três tipos no mercado: respiradores, que dão proteção máxima e são usadas por profissionais de saúde em determinadas circunstâncias; máscaras cirúrgicas, as mais conhecidas; e as de uso comunitário ou sociais, tipologia criada devido à pandemia.

"A recomendação vai no sentido de serem utilizadas pela comunidade em geral em determinadas circunstâncias: em transportes públicos, em ambientes fechados, como farmácias, supermercados, lojas, quando não for possível manter o distanciamento social", frisou.

Sobre a obrigatoriedade da utilização, foi referido que a DGS emite normas, orientações e recomendações com base em evidências científicas, como indicadores de "boa prática". As normas, com o caráter de obrigatoriedade, têm sido relativas aos meios de saúde.

No caso específico das celebrações do 25 de abril, Graça Freiras começou por dar o exemplo daquilo que acontece durante a conferência de imprensa diária, em que ninguém usa máscara. "Dentro desta sala conseguimos, com a lotação, manter o distanciamento social. Estamos a cumprir outras regras", frisou, referindo ainda a importância da lavagem e desinfeção das mãos.

"É o que se vai passar na Assembleia da República. É um edifício grande, tem uma área grande, tem uma parte de baixo e galerias e estarão garantidas todas as condições para que as pessoas estejam em distanciamento social. Existem circuitos de entrada, de saída, as pessoas não se cruzam necessariamente. E portanto eu creio que os serviços da Assembleia da República são autónomos nessa ação, têm um plano de contingência excelente e temos que ver as condições arquitectónicas do edifício e a taxa de ocupação que o edifício vai ter", explicou.

No que diz respeito aos lares, Graça Freitas referiu que existe uma percentagem pequena onde foram declarados casos de covid-19, mas esses lares têm uma grande concentração de pessoas, o que aumenta a propagação da doença. Assim, ocorreram 327 óbitos em lares, devido à população "idosa, concentrada e doente".

"A distribuição pelo país é de 180 na região norte, 106 no centro, 39 na zona de Lisboa e Vale do Tejo, um caso no Alentejo e outro no Algarve", precisou.

"Estar num lar não é uma fatalidade. A maior parte das pessoas que adoeceram em lares estão hoje recuperadas", reforçou a diretora-geral da Saúde.

Portugal regista hoje 820 mortos associados à covid-19, mais 35 do que na quarta-feira, e 22.353 infetados (mais 371), indica o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

Comparando com os dados de quarta-feira, em que se registavam 785 mortos, hoje constatou-se um aumento percentual de 4,5%.

Relativamente ao número de casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, os dados da DGS revelam que há mais 371 casos do que na terça-feira, representando uma subida de 1,7%.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (475), seguida da região Centro (179), de Lisboa e Vale Tejo (146), do Algarve (11), dos Açores (8) e do Alentejo, que regista um morto, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.

(Notícia atualizada às 16h18)