“Quando terminar o estado de emergência e retomarmos as nossas atividades e as nossas vidas, temos de o fazer de forma diferente, mantendo muitas regras que aprendemos e aplicámos nestas últimas três semanas”, afirmou Graça Freitas na conferência de imprensa diária de acompanhamento da pandemia de Covid-19 em Portugal.
Se a população deixar de observar essas regras quando for regressando ao trabalho e forem reabrindo as atividades económicas, a curva epidémica no país “vai subir porque o vírus continua a circular em Portugal, na Europa e no Mundo e o sistema de saúde vai ser submetido a uma grande pressão”.
“Nas próximas semanas e durante muito tempo” vai ser preciso manter “o equilíbrio entre a epidemia e a capacidade do sistema de saúde” à medida que a população volte à rua e a trabalhar, frisou.
Portugal conseguiu conter uma “subida rápida” do número de casos e manter a capacidade do sistema de saúde para tratar as pessoas doentes com “milhões de pessoas que adquiriram uma nova forma de estar na vida”. "Não podemos perder esse capital que conseguimos", apelou a diretora-geral da Saúde, recordando que, com o atual número de casos, "o nosso sistema de saúde tem a capacidade de nos atender, de nos tratar bem e de cuidar de nós".
Mesmo “reatando relações sociais e reavivando o tecido económico”, será tarefa dos cidadãos “observar medidas de distanciamento social, higiene das mãos e das superfícies, etiqueta respiratória e, quando se justificar, a utilização de um método de barreira” como máscaras, defendeu Graça Freitas.
Graça Freitas deu assim eco às palavras de António Lacerda Sales, secretário de estado da Saúde, que se dirigiu aos portugueses, dizendo que têm sido "extraordinariamente responsáveis na forma como têm respeitado o confinamento", pedindo para que também o sejam "na hora do desconfinamento, que ao contrário da primavera, ainda não chegou". "Será um processo gradual para que todo este esforço coletivo não tenha sido em vão", alertou.
Medidas de desconfinamento remetidas para dia 28
Perante a aparentemente evolução positiva da pandemia nas últimas semanas, vários países europeus começaram a proceder a medidas de desconfinamento, sendo que Portugal também tem previsto uma ação semelhante para início de maio.
No entanto, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças já veio advertir que “levantar as medidas [de restrição implementadas] demasiado rápido, sem uma monitorização apropriada e a capacidade do sistema de saúde [de cada país] restaurada, poderá causar uma ressurgência súbita da transmissão comunitária”.
A este respeito, Lacerda Sales recordou que "o estado português tem seguido sempre as orientações da OMS e do ECDC, adaptando essas orientações àquilo que são as nossas especificidades enquanto país".
"Com certeza que, relativamente às novas orientações, haverá ponderação e estudo e avaliação devida", garantiu o secretário de estado da Saúde, indicando que "o Governo e a Autoridade de Saúde estão a analisar as medidas de desconfinamento e com certeza que a reunião do próximo dia 28 será muito importante e fundamental para que sejam anunciadas essas medidas".
Antes, Lacerda Sales saudou a redução do número de casos de internamento em cuidados intensivos, de 204 para 188, assim como o aumento de recuperações, de 1201 para 1228.
O responsável referiu que a taxa de letalidade global manteve-se nos 3,7% e a taxa de letalidade acima dos 70 anos subiu para 13,5% (estava em 13,3%)
Lacerda Sales indicou ainda que 86,2% dos casos de infeção estão em tratamento domiciliário e que 4,7% estão em internamento (0,8% em UCI e 3,9% em enfermaria).
O secretário de Estado da Saúde disse também que o país tem capacidade para reforçar os testes de diagnóstico covid-19 em lares e responder à decisão da ministra do Trabalho para uma “testagem mais massiva” naqueles espaços.
“Se a senhora ministra [do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social] entendeu fazer uma testagem mais massiva, nós acompanharemos. E, sempre que for necessária a nossa colaboração, lá estaremos”, afirmou António Lacerda Sales.
“Desde o dia 1 de março foram realizados cerca de 317 mil testes de diagnóstico covid-19 em Portugal", referiu, adiantando que a passada terça-feira, dia 21, foi “o dia em que foram processadas mais amostras, 14769, das quais 7,6% com resultado positivo”. Tais números demonstra, segundo o secretário de estado, "que o aumento de testagem não se tem refletido num aumento proporcional de casos positivos”, o que é “um sinal positivo”.
A média de testes situa-se, desde o dia 1 de abril, nos 10729 testes por dia, e o governante notou que “Portugal está a testar cerca de 30 mil pessoas por milhão de habitante”, mais do que “Itália, Alemanha ou Áustria”, pelo que, se reforçar ainda mais a capacidade de testagem, terá capacidade de alargar os testes feitos em lares.
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social revelou que mais de 17.000 testes ao novo coronavírus já foram feitos em lares de idosos em Portugal e as autoridades pretendem atingir os 70 mil em maio.
O responsável voltou a referir-se ainda à questão ontem mencionada dos ventiladores vindos da China, dizendo que a maioria dos que viu estavam "em inglês” e que os restantes que "tivessem eventualmente em chinês, tinham os indicações universais de saturação de CO2 ou de O2”.
Questionado quanto a uma potencial necessidade de formação dos profissionais para operar com estes ventiladores, Lacerda Sales frisou que existem "cerca de 250 intensivistas", que "com a colaboração de anestesistas, pneumologista e internistas, têm uma capacidade de formação muito grande, quer ao nível técnico, quer ao nível clínico”, assegurando o secretário de estado que "Portugal estará bem preparado do ponto de vista da capacidade dos cuidados intensivos”.
Mesmo com testes serológicos ex-infetados têm de continuar a proteger-se
A diretora-geral da Saúde alertou também que “todas as pessoas vão ter de continuar a ter as mesmas medidas de proteção” face à Covid-19, mesmo que tenham tido a infeção ou realizado testes serológicos para aferir a imunidade.
“Não vamos pensar que isto [os testes serológicos] é a resposta a todos os nossos anseios. É mais uma pista da ciência para perceber o grau de imunidade da população. São precisos resultados mais sólidos [sobre os testes]. Temos de agir em função do princípio da precaução”, disse Graça Freitas, na conferência de imprensa diária de atualização de informação sobre a pandemia.
Segundo a diretora-geral da Saúde, “a ciência indica que todas as pessoas vão ter de continuar a ter as mesmas medidas de proteção”.
A responsável assegurou que Portugal vai fazer estes testes e que os procedimentos serão adaptados conforme a evolução científica, mas alertou para um estudo “publicado há poucos dias”, segundo o qual foi detetado o surgimento de anticorpos em 14% da população infetada pelo novo coronavírus, mas “não se sabe se são suficientes para dar proteção [contra nova infeção covid] ou se a proteção será duradoura”.
Partos induzidos ou cesarianas sem indicação clínica não são recomendação da DGS
Durante a conferência de imprensa, Graça Freitas recusou hoje que exista qualquer recomendação para a indução de parto ou cesariana sem indicação clínica durante a pandemia de covid-19, notando que a decisão deve ser articulada entre os clínicos e as mães.
"Essa é uma decisão clínica que é tomada sempre em acordo entre os médicos e os progenitores, especialmente da mãe. As circunstâncias em que isto é decidido passam-se no foro do atendimento da grávida e das condições do parto", justificou a responsável
A diretora-geral da Saúde assegurou também não existir, até ao momento, prova de risco de transmissão do novo coronavírus através do leite materno de mães infetadas, pelo que os seus benefícios recomendam continuar a administrá-lo, mesmo que prescindindo da amamentação ou usando máscara durante a mesma.
"Os benefícios do aleitamento materno serão superiores aos riscos eventuais de transmissão que não está comprovada", disse Graça Freitas, admitindo, ainda assim, poder recorrer-se a soluções como utilização de meios de proteção por parte da mãe ou retirada do leite materno da mãe e posterior administração.
A diretora-geral da Saúde notou que esta decisão deve, também, ser articulada entre a mãe e o clínico assistente.
A Associação pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto alertou na quinta-feira a DGS de que há grávidas a ser sujeitas a indução do trabalho de parto e a cesarianas sem indicação clínica devido à pandemia de covid-19.
Linha de apoio para dependentes reforçada, SICAD aumenta financiamento para respostas
Uma das novidades apresentadas durante esta conferência de imprensa foi quanto ao reforço da linha de ajuda 1414 para apoiar utilizadores de substâncias durante o período da pandemia.
Segundo João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), esta linha, a "mais antiga de ajuda telefonóica em Portugal", estava "em perda de importância" em relação à Linha SNS24, mas foi agora reforçada de capacidade humana para lidar com problemas específicos.
Estes, segundo o responsável, prendem-se não só com cidadãos "utilizadores de substâncias, lícitas ou ilícitas", mas também com pessoas com vício de jogo, "nomeadamente o acesso de plataformas online de jogo a dinheiro”, sendo que quem liga pede "informação sobre quais as respostas disponíveis nas circunstâncias atuais".
Segundo João Goulão, há "quatro profissionais dedicados durante todo o dia" a responder a um "volume de chamadas ainda bastante baixo", situando-se "na ordem das dezenas por dia", mas que tem tido um crescimento "paulatino".
Para além desta ferramenta, o SICAD tem também tido um importante papel na coordenação de respostas a grupos como as populações sem abrigo, os migrantes ou o toxicodependentes, assegurando a "coordenação dessas respostas num trabalho conjunto com várias entidades no terreno, autarquias, ONGs, bombeiros, INEM, entre outras", anunciou Lacerda Sales.
Por essa razão, o secretário de estado da Saúde diz que o SICAD teve um aumento em 12% do financiamento dos programas de respostas integradas, que sendo estas "os protocolos que mantém com as entidades que trabalham nestas áreas, de forma que estas possam ter equipas de espelho e possam continuar a prestar os seus serviços, garantindo a sua segurança e dos que cuidam”.
Na luta pelo asseguramento "das condições mais básicas da dignidade humana" destas populações, João Goulão disse que o reforço do financiamento foi possível através de um protocolo celebrado com a Fundação Calouse Gulbekian e que permitiu "financiar uma boa fatia desse reforço" em 300 mil euros.
O presidente do SICAD valorizou ainda o "papel inestimável que as autarquias têm desenvolvido, ao fazerem um pivot de todas as instituições do Estado e das entidades privadas e ONGs que, desenvolvendo um trabalho de proximidade, têm sido inovadoras e acorrer às necessidades que têm sido identificadas".
Novo coronavírus SARS-CoV-2
A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.
A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).
Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.
Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.
A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.
Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.
Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.
Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.
Onde posso consultar informação oficial?
A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.
- https://covid19.min-saude.pt
- https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal
- https://www.dgs.pt/em-destaque.aspx
Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.
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