“Uma proporção plenamente significativa de doentes oncológicos conseguiram criar uma resposta a nível de produção de anticorpos considerada adequada", conclui o estudo português, realizado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, cujo objetivo era obter resultados que pudessem sustentar as decisões clínicas dos oncologistas.

Segundo o Diário de Notícias, o estudo publicado na revista "The Oncologist" contou com 72 doentes infetados com o SARS CoV-2, dos quais 19 eram doentes oncológicos.

“Quando começámos a ver estes doentes, a tratá-los e a acompanhá-los, sentimos que havia algo a fazer e numa colaboração mais estreita com a investigação científica, pois sabemos que é esta relação entre prática clínica e ciência que nos permitirá, no futuro, prestar melhores cuidados de saúde", conta Catarina Mota, especialista em Medicina Interna que ajudou a montar o projeto levado a cabo por uma equipa de médicos do Hospital de Santa de Maria e de cientistas do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM).

O projeto partiu da iniciativa de um dos médicos internos de oncologia médica, em estágio no Serviço de Medicina Interna, Miguel Esperança Martins, e, segundo a professora Catarina Mota,"este trabalho deve-se muito a todos os internos, quer de medicina interna quer de oncologia médica".

"Começámos por selecionar doentes positivos ao SARS-CoV-2, internados no serviço, mas com alguma heterogeneidade em termos de gravidade clínica", explica, acrescentando que selecionaram "doentes com sintomas ligeiros e com sintomas mais graves para fazermos a recolha de amostras em dois momentos diferentes, na altura da admissão e ao fim de sete dias, o que nos permitiu ter amostras biológicas de doentes numa fase ligeira da doença e já numa fase gravíssima, porque alguns evoluíram para cuidados intensivos".

A proposta inicial sugeria a criação de um biobanco, com colheitas de amostras biológicas de doentes com SARS-CoV-2 internados na enfermaria, cuja colheita de amostras foi realizada de 15 de março a 17 de junho. "O biobanco existente no iMM tinha apenas amostras de 2013 a 2018 e a recolha de amostras de doentes infetados com SARS-CoV-2 acabou por ser uma das grandes vantagens da parceria entre hospital e iMM, porque estas poderão agora ser utilizadas na resposta a novas questões", referem.

Em cima da mesa estavam quatro questões que surgiram pelo "interesse de se estudar mais profundamente a resposta imunológica dos doentes oncológicos ao longo do tempo", explica Miguel Esperança Martins, primeiro autor do estudo.

De acordo com o autor, em primeiro, era necessário "perceber qual era a resposta imune, capacidade de produção de anticorpos, por parte dos doentes oncológicos infetados por SARS-CoV-2. Em segundo, "que correlações poderia haver entre esta resposta ou ausência dela e o tipo de neoplasia e estádio e o cumprimento das terapêuticas, como quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia". "A terceira questão passou por compreender se esta resposta serológica estava relacionada ou não com uma melhor ou pior evolução do doente do ponto de vista clínico", e, por último, "a quarta questão assentava na comparação direta entre os níveis de anticorpos dos doentes oncológicos e dos doentes não oncológicos. Havia que perceber se existiam diferenças ou não. E os resultados que obtivemos foram extraordinariamente interessantes".

O estudo verificou que “cerca de 58% dos doentes oncológicos conseguiram criar anticorpos e defender-se do vírus, independentemente da sua doença oncológica, do tipo de neoplasia e do estadio de gravidade". Miguel Esperança Martins explica que "todos os doentes, que foram tratados da mesma forma para o SARS-CoV-2, reagiram bem aos tratamentos".