Apesar de Rui Pereira, administrador do Café Santiago, ter começado a “tomar medidas preventivas” logo após os primeiros relatos do surto de Covid-19 na China, a procura “não dava sinais de abrandamento”.
“Com as notícias que a todos iam chegando, percebemos que o risco que estávamos a correr e, consequentemente a provocar nas famílias de todos os envolvidos era incontrolável”, admitiu, em declarações à Lusa, Rui Pereira, que na segunda-feira decidiu fechar o estabelecimento na Rua Passos Manuel e cujas francesinhas são diariamente procuradas por centenas de pessoas que chegam a fazer filas à porta.
Encerrado “teoricamente” até ao final do mês de março, Rui Pereira acredita, no entanto, que terá de manter o Café Santiago fechado “por tempo indeterminado”, até porque “muitos fornecedores” estarão, igualmente, de portas fechadas.
Os subsídios de férias, que estavam programados para ser pagos aos funcionários durante o mês de julho, foram antecipados e o administrador do estabelecimento garantiu que “irá pagar os salários devidos, enquanto assim for possível”.
“Garantimos os empregos a todos, mesmo àqueles cujos contratos findem durante o período de fecho, renovando os mesmos até que possa ser restabelecida alguma normalidade que nos permita tomar decisões seguras. Com isto, estamos a fazer um esforço financeiro gigante, uma vez que até ao momento não temos apoio de ninguém”, salientou.
Sem dívidas a fornecedores, é ao “fundo de maneio” que Rui Pereira vai recorrer para pagar aos funcionários, bem como para pagar os impostos, a renda, a água, a luz e outros encargos. Contudo, só enquanto este “durar”.
“Quando acabar, acabará para todos e logo se verá”, admitiu o administrador, ciente que “demorará anos” a voltar a alcançar o volume de trabalho de 2019 e inicio de 2020.
“Vamos lutar, depois trataremos das feridas”, concluiu Rui Pereira.
À semelhança do Café Santiago, também os históricos Majestic (na movimentada Rua de Santa Catarina) e Guarany (nos Aliados) encerraram portas na segunda-feira e não têm, até ao momento, “data prevista de abertura”.
Fernando Barria, gerente dos dois estabelecimentos portuenses, garantiu à Lusa que não vai abrir portas “até ter condições para servir o público”.
“Isto é muito complicado”, confessou o gerente, que acabou por mandar, durante 15 dias, os mais de 50 funcionários dos dois espaços “tirarem férias”.
“Os funcionários vão receber na mesma o mês [de março] e a entidade patronal vai assegurar os ordenados o meses que forem precisos, não sei se em abril, maio ou junho já poderemos abrir novamente, mas é nossa obrigação moral assegurar os funcionários”, garantiu.
Foi também com o intuito de salvaguardar os postos de trabalho que Ricardo Graça Moura, sócio-gerente dos restaurantes Flow e Mistu, mandou, no dia 14 de março, os 55 funcionários “para casa”.
Ricardo Graça Moura começou, ainda durante o mês de fevereiro, a ver serem canceladas “reservas de grandes grupos” no dois estabelecimentos e, apesar de ser “cuidadoso na tesouraria e não ter despedido ninguém”, sem o apoio do Governo, admitiu que aguenta, no limite, apenas “mais um mês”.
“Perante um cenário catastrófico de vendas e um cenário de potencial risco para os nossos colaboradores, que até já estavam a colocar a hipótese em cima da mesa de não trabalhar, não tínhamos outra hipótese que não a de encerrar”, contou.
Em declarações à Lusa, o sócio-gerente adiantou ter entregado hoje o 'lay-off' de cada um dos funcionários na Segurança Social. No entanto, esta ferramenta de apoio institucional “deixa-lhe dúvidas”.
“O 'lay-off' é a única ferramenta que estamos a considerar, mas o mesmo fala de um período homologo de três meses. Se esperarmos três meses, é o fim completo de tudo. Ninguém aguenta sequer até ao final de março”, salientou Ricardo Graça Moura, adiantando ser necessário que o “Estado se coloque do lado dos empresários da restauração”.
“Estamos preparados para aguentar mais dois meses se tivermos apoio do Estado nesta medida”, concluiu.
À semelhança destes estabelecimentos, outros tantos estão também a fechar portas na cidade do Porto, tendo usado mesmo as redes sociais para anunciarem a medida aos clientes.
"Considerando o atual estado de emergência de saúde pública e atendendo às mais recentes evoluções da propagação da infeção COVID -19, informamos os nossos clientes que, a partir e dia 15 de Março, o nosso restaurante se encontrará encerrado. É nossa intenção proteger colaboradores e público em geral através do isolamento social preventivo", lê-se na página do Mood, situado na muito procurada Rua da Picaria.
Da mesma rua, o Cruel escreve: "no seguimento da situação atual do Covid-19, estamos encerrados por tempo indeterminado. Quando isto acabar vai ser festa sem parar. Até lá aproveitem as mesas das vossas casas, joguem jogos de tabuleiro e outras coisas que, eventualmente, tenham vindo a esquecer".
Apesar destes e tantos outros estabelecimentos na cidade do Porto estarem a fechar portas, outros seguem as determinações do Governo, como é exemplo a Casa Guedes, tipicamente conhecida na zona dos Poveiros pelas suas sandes de pernil.
"Entendemos que neste momento deveriamos prestar um serviço mínimo para a população que seria o delivery/take away (...). Além de seguirmos as normas de higienização, reduzimos a capacidade da casa para 40% (o governo determinou 70%) para quem queira vir até cá", afirmou Joana Vale.
Em declarações à Lusa, o dirigente do Sindicato de Hotelaria do Norte admitiu na segunda-feira que muitos estabelecimentos aguardam pela reunião do Conselho de Estado convocada para hoje pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para discutir a eventual decisão de decretar o estado de emergência.
Também o presidente da Associação de Comerciantes do Porto, Joel Azevedo, afirmou que “tudo fará” para dar “resposta” e salvaguardar o interesse dos estabelecimentos de restauração e comércio da cidade.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país.
Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.
O Governo também anunciou o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham de se deslocar por razões profissionais.
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