Em comunicado, o organismo recordou que recebeu “entre 14 e 27 de abril de 2020, dez participações contra a TVI relativamente a informação sobre a propagação e o impacto da covid-19 na região Norte do país prestada durante a edição de segunda-feira, dia 13 de abril de 2020, do serviço noticioso Jornal das 8”.
Estas participações contestavam “a conclusão aventada”, segundo a ERC, de que o Norte de Portugal foi “mais afetado pela covid-19 porque tem uma ‘população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares’, acusando a TVI de falta de rigor e isenção, assim como de discriminar e ofender a reputação da região e das suas populações”.
Numa peça onde a TVI tentava encontrar explicações para “a maior incidência e letalidade da covid-19 na região Norte”, nessa altura, o canal ouviu “dois especialistas: o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e um elemento da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, que afloraram os fatores que da sua perspetiva contribuíam para a situação”, tendo invocado “questões sociodemográficas e de estrutura produtiva, realçando a predominância do setor secundário, incompatível com o teletrabalho”, de acordo com a ERC.
“Entrecortando as declarações do catedrático, que discorria sobre as ligações produtivas e de mobilidade relativamente a Espanha e à Itália e a maior presença de lares de idosos no Norte do país, em off, a jornalista da TVI refere: ‘Razões de caráter social e demográfico também ajudam a explicar o fenómeno. A população está mais concentrada do que em regiões como o Centro ou o Alentejo, e é tendencialmente mais pobre, menos educada e mais envelhecida do que a de Lisboa e Vale do Tejo’”, citou o organismo.
Num oráculo aparece a frase: “população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”, sublinhou a ERC.
“Estas conclusões, que são contestadas pelos participantes, não são enunciadas pelos especialistas, nem lhes são atribuídas no trabalho jornalístico que é apresentado pela TVI”, realçou o organismo.
No dia seguinte, e face a variadas queixas, o diretor de Informação da TVI e TVI24, Sérgio Figueiredo, "emitiu um comunicado a lamentar a informação veiculada na véspera”, explicando que “a intenção da sua equipa foi a de questionar a diferença entre os números da região Norte e do resto do território nacional, procurando chegar às razões desse fenómeno e ajudar a encontrar respostas para a sua resolução” e adiantando que “à jornalista foi solicitado que procurasse explicações junto das autoridades de saúde”, lê-se no comunicado da ERC.
O mesmo responsável disse que a intenção foi “genuinamente construtiva e socialmente relevante”, mas acrescentou que isso não justifica a “frase infeliz no ecrã, nem a parte do texto que a suportava. Nomeadamente aquela que, entre as razões demográficas e sociológicas indagadas, sugeria níveis de educação abaixo da média nacional”, lembrou a ERC.
No mesmo dia, 14 de abril, no Jornal das 8, “a TVI perseverou na assunção do erro e consequente pedido de desculpa”.
“Fê-lo através da intervenção inicial do jornalista José Alberto Carvalho, pivô do noticiário de horário nobre da TVI, e da presença do próprio diretor de Informação”, dedicando a abertura e os 15 minutos iniciais ao tema, segundo a ERC.
“A TVI promoveu, assim, um extenso e aprofundado momento de retratação e de esclarecimento dos espectadores relativamente a uma falha informativa, que foi assumida e prontamente retificada conforme estipulam as regras ético-deontológicas e legais da profissão jornalística”, ajuizou a ERC.
“Constatando que a autorregulação se antecipou, o que se distingue pela positiva, entende-se que a intervenção da ERC se afigura supérflua, razão pela qual se propõe o arquivamento das participações contra a TVI”, concluiu o organismo.
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