Quem entrasse esta manhã no recinto da feira de Carcavelos iria deparar-se com um cenário “totalmente diferente” daquele que encontraria em 12 de março, o último dia em que este mercado ambulante funcionou sem qualquer tipo de limitação.

Metade dos feirantes, todos eles de máscara ou viseira, bancas mais espaçadas e a presença em cada uma delas de uma embalagem de álcool gel, para os clientes desinfetarem as mãos, passa a ser a partir de hoje e até um prazo indefinido a nova realidade desta feira.

“Isto está muito vazio. É muito triste ver isto assim”, afirma Maria Pereira, enquanto observa uma mala, numa das poucas bancas existentes.

Entre os feirantes, por algumas conversas bem audíveis, notava-se um misto de emoções, entre o alívio por voltar ao negócio e a mágoa pela falta de apoio durante os mais de dois meses em que a feira esteve encerrada.

“Acho muito bem que comece a feira, porque nós não temos a ajuda de ninguém. Precisamos da feira para ganhar dinheiro e pagar as nossas dividas e podermos comer”, afirma à agência Lusa Carla Romero, junto à sua banca de malas.

Vendedora neste espaço há 30 anos, Carla Romero queixa-se de que a feira de Carcavelos “já estava a morrer” e que a epidemia apenas veio agravar a sua sobrevivência.

“Não é aquilo que era. Antes diziam assim: Vamos à feira de Carcavelos e agora ninguém diz porque a feira está a morrer a pouco e pouco”, observa.

Sobre as mudanças, a feirante destaca o facto de todos usarem máscara e manterem as distâncias de segurança: “Eu não tive de mudar muita coisa, apenas usar máscara e trazer gel desinfetante para os clientes”, comenta.

Numa banca mais à frente, Cármen Tavares, cliente habitual desta feira, manuseia umas calças, que retirou de uma pilha de roupa, onde se encontram outro tipo de peças de vestuário.

“Acho que como toda a gente estamos todos ansiosos de começar a contactar uns com os outros. A fazer a nossa vida normal. Estamos a sair do desconfinamento e é um cheiro a vida nova”, diz à Lusa, com um sorriso percetível, apesar da máscara lhe tapar quase todo o rosto.

Já Teresa Rego, outra cliente habitual da feira, manifesta-se satisfeita com as alterações, apontando mesmo vantagens na redução do número de bancas e feirantes.

“Está mais calmo e é melhor. É mais fácil circular. Nos outros dias era mais difícil fazer as compras”, considera.

Opinião diferente tem o feirante Anacleto Fernandes, que apesar de ter hoje menos “concorrência” deseja que tudo “volte ao normal”.

“Esta é uma situação que somos obrigados a vivê-la devido a esta pandemia, mas era bom que a feira ficasse toda composta como era antigamente”, afirma.

Para voltar a reabrir ao público a feira de Carcavelos teve de introduzir um conjunto de medidas que tiveram de ser discutidas e consensualizadas com os 120 feirantes, como explicou à Lusa o vereador das atividades económicas da Câmara Municipal de Cascais, Nuno Piteira Lopes.

“Basicamente foi decidido reduzir o número de vendedores a metade, o número máximo de duas pessoas em cada banca, a higienização das mãos, o uso de máscara e viseira e que não poderiam permanecer mais do que quatro clientes em cada banca”, enumerou o autarca.

Além disso, os feirantes comprometeram-se no final da feira a ajudar na limpeza do espaço.

“As medidas de forma geral foram bem recebidas. Nunca conseguimos gerar unanimidade, mas foi possível encontrar consensos. É o momento nós reinventarmos o mercado e restabelecermos a confiança nos comerciantes e nos clientes”, sublinhou.

O autarca referiu ainda que os feirantes vão ficar isentos do pagamento de taxas de ocupação daquele espaço até 30 de setembro, “uma forma de compensar as perdas de receita”.

Portugal regista hoje 1.277 mortes relacionadas com a covid-19, mais 14 do que na quarta-feira, e 29.912 infetados, mais 252, segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde.

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

*Por Fábio Canceiro (texto) e Mário Cruz (foto), da agência Lusa 

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