"Em resposta ao seu pedido expresso, apresento-lhe a minha renúncia ao cargo de ministro da Saúde", escreveu Ginés González García na sexta-feira, em carta enviada ao presidente.

O escândalo estourou depois de o jornalista Horacio Verbitsky ter dito na sexta-feira, na rádio, que, graças à sua longa amizade com o ministro, conseguiu-se vacinar no seu gabinete.

"Decidi-me vacinar. Fui descobrir onde podia fazer isso. Liguei parao  meu velho amigo, Ginés González García, que conheci muito antes de ser ministro", contou Verbitsky.

O escândalo causou uma onda de reações nas redes sociais com a hashtag #vacunasvip (vacinas vip).

Segundo a imprensa local, além de Verbitsky, outras pessoas próximas do Governo se vacinaram no Ministério da Saúde.

Na carta de demissão, González García ressalvou que "as pessoas vacinadas pertencem aos grupos incluídos dentro da população alvo da campanha vigente", em alusão aos maiores de 70 anos.

Além da atuação como jornalista, Verbitsky, de 71 anos, também preside o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), dedicado aos direitos humanos.

Roberto Navarro, dono da Destape Radio, emissora em que Verbitsky fez a revelação, anunciou que cancelou as suas colaborações. “É uma imoralidade que com 50 mil mortos hajam vacinados VIP. É imoral quem autorizou e quem foi vacinado”, disse Navarro no Twitter.

González García, de 75 anos, que já tinha estado à frente da pasta durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), assumiu em dezembro de 2019 e teve que gerir todo o combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Marcada por altos e baixos, a gestão da luta contra a covid-19 foi definitivamente maculada pelas vacinações "privilegiadas" na sede do Ministério da Saúde, reveladas no mesmo dia em que a cidade de Buenos Aires disponibilizou a solicitação de agendamentos online para a imunização de pessoas com mais de 80 anos a partir da próxima segunda-feira, sistema que entrou em colapso quase de imediato devido à enorme demanda.

Para substituí-lo foi nomeada a atual secretária de acesso à Saúde, Carla Vizzotti, uma especialista em medicina interna de 48 anos, que prestará juramento ao cargo na tarde deste sábado, anunciou a Presidência.

Vizzotti destacou-se por ter conseguido a vacina russa contra a covid-19 Sputnik V para a Argentina, o primeiro país da América a aprová-la e utilizá-la.

Carla Vizzotti, à direita do ex-ministro da Saúde da Argentina.
créditos: JUAN MABROMATA / AFP

Até agora, na Argentina, apenas os profissionais de saúde foram vacinados. Na quarta-feira começou a vacinação para maiores de 70 anos na província de Buenos Aires. No país, com cerca de 44 milhões de habitantes, há registo de mais de dois milhões de infeções de covid-19 e mais de 51 mil óbitos.

A vacinação começou no país no final de dezembro com a Sputnik V, do laboratório russo Gamaleya, mas o processo avança muito mais lentamente do que estava inicialmente previsto devido à escassez de doses.

O presidente Fernández e a vice-presidente Cristina Kirchner, ambos na casa dos 60 anos, foram vacinados diante das câmeras para transmitir confiança na vacina.

Até o momento, a Argentina recebeu 1,22 milhões de doses da Sputnik V e 580 mil da Covishield, vacina do Serum Institute of India, estas últimas chegadas na quarta-feira.

O plano de imunização argentino inclui, mais adiante, vacinas da aliança britânica Oxford/AstraZeneca e de outros contratos, inclusive por meio do mecanismo de cooperação internacional Covax, totalizando 62 milhões de doses até o fim do ano.