“Temos plena consciência de que não podemos parar e que, com isso, estamos a correr sérios riscos, tal como outros profissionais, com a agravante do potencial de propagação da doença Covid-19 devido às nossas constantes deslocações pelo país e pela Europa”, lê-se numa carta aberta endereçada pelo Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ao primeiro-ministro, António Costa.
Justificando a carta aberta com a “total ausência de resposta aos dois pedidos feitos anteriormente [a 13 e 19 de março] a vários ministérios, associações patronais e até outros sindicatos representativos do setor”, o SIMM diz que os motoristas de mercadorias têm “plena consciência da importância” da sua missão no atual momento, mas sentem-se “abandonados”.
Entre as medidas de proteção reclamadas estão a adoção de “legislação sobre a obrigatoriedade de as entidades patronais fornecerem equipamentos de proteção individual contra a Covid-19″, já que “alguma da legislação já existente não está a ser cumprida”, assim como a criação de “uma rede de infraestruturas nacional de apoio aos motoristas, com locais de alimentação (‘take-away’), WC e locais para a higiene diária” destes profissionais.
Exigem ainda “que sejam adotadas medidas de proteção social para os motoristas que possam contrair a doença no exercício das suas funções” e a instalação de “postos de controlo nas fronteiras para despistagem da Covid-19 aquando do regresso ao país” dos profissionais de transporte.
“Devido às medidas tomadas (e bem) para contenção de contágio, a penosidade e dificuldade desta profissão sofreu um enorme agravamento. Vivemos na estrada, literalmente, contactamos com inúmeros agentes potencialmente contagiados, as nossas famílias estão protegidas em casa (assim acreditamos) mas, principalmente para quem faz linhas de e para fora de Portugal, a alegria do regresso deu lugar ao medo. Não estaremos nós a levar a doença para junto dos nossos entes mais queridos e até para o resto da população?”, questionam.
Recordando a greve dos motoristas de mercadorias no verão de 2019, para reivindicar “um salário justo e o pagamento de todas as horas trabalhadas devidamente declaradas e tributadas”, o SIMM diz que, “na altura, foram tomadas medidas que tinham o objetivo de impedir que toda uma classe profissional pudesse lutar por uma relação laboral mais justa e com isso uma maior proteção social, com o argumento de que teria que ser assegurado o abastecimento às populações por ser um período de férias e de grandes deslocações e que o setor dos transportes era vital para a economia e era necessário minimizar os prejuízos que a greve pudesse causar”.
“Com as devidas diferenças, não deveriam ser tomadas medidas agora para permitir que os motoristas pudessem trabalhar no abastecimento às populações com o mínimo de segurança e dignidade?”, interroga.
Em Portugal, há 14 mortes e 1.600 infeções confirmadas de Covid-19.
O país está em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira, até às 23:59 de 02 de abril.
O novo coronavírus já infetou mais de 324 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 14.300 morreram.
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