O camião da Ferrovial, empresa prestadora de serviços da associação, está pronto para sair do aterro sanitário do Planalto Beirão, em Tondela, às 13:00 de sexta-feira, já devidamente desinfetado e preparado para percorrer várias residências e instituições onde existem resíduos sólidos urbanos (RSU) contaminados por o novo coronavírus.
“Agora, já vou com menos medo, mas, quando o meu encarregado me disse para ir, a minha primeira reação foi não e resisti um bocado. Depois, acabei por perceber que era seguro, porque eu ia devidamente protegido e iria desinfetar sempre tudo”, explicou à agência Lusa o condutor do veículo.
Marco Marques não esconde que “do medo inicial ainda existe algum, mas muito menos, porque no início o medo era mesmo muito”.
“Aliás, o medo está cá sempre, também nos ajuda a estar mais alerta”, adiantou o motorista, ideia partilhada pelo seu parceiro de jornada, Marco Matos, com quem divide o camião desde o dia 6 de abril.
As rotas não são todas iguais, “porque nem sempre há resíduos para recolher”, mas na sexta-feira o camião partiu em direção a Nelas, a um apartamento, seguindo para Seia, distrito da Guarda, também para uma casa particular, e depois para Gouveia, onde, além de uma residência, também passou pelos bombeiros e um lar.
Seguindo para Mangualde, a equipa passa pelos bombeiros, mas também no Lar de São José, em Santiago de Cassurrães, que contava na quinta-feira, segundo a autarquia, com 63 pessoas infetadas, das 73 contabilizadas no concelho.
A maior recolha do dia é precisamente aqui. Cerca de 40 sacos vão para o camião e, também por isso, Luís Almeida, que foi o primeiro a fazer a rota, deixou o conselho de se usarem contentores para que a recolha “se possa tornar ainda mais segura” e se possa “evitar amontoados de sacos” no recinto do lar.
“Este serviço é excelente. Não há outro termo, porque se eles aqui não viessem buscar os sacos este lixo iria acabar lá fora nos contentores do lixo normal”, assumiu à agência Lusa uma colaboradora do lar.
Uma iniciativa da Associação de Municípios da Região do Planalto Beirão, que “requisitou à Ferrovial um serviço extra do que é normalmente feito” e que foi igualmente louvado por moradores em Gouveia e em Viseu para onde se dirigiu o camião.
“Isto foi de uma grande ajuda. Muita mesmo, se não tinha de ir levar os sacos lá acima à estrada, porque não podia ficar aqui à porta de casa”, contou à agência Lusa Júlia Pereira, residente numa freguesia rural do concelho viseense.
“O número de pontos de recolha, atualmente de 40, é muito volátil, embora tenha vindo a aumentar. Mas há quem deixe de precisar e outros que pedem pela primeira vez, como os bombeiros e, numa rota, somos capazes de chegar a uns 20”, contou.
Luís Almeida também considerou que, “tendo em conta o número de casos positivos nos concelhos de atuação” da Planalto Beirão, o “número de recolhas é irrisório, talvez por vergonha ou por desconhecimento, apesar de ter sido divulgada” pela associação.
O Associação Planalto Beirão é constituída por Carregal do Sal, Castro Daire, Mangualde, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, Santa Comba Dão, São Pedro do Sul, Sátão, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela (distrito de Viseu).
Mas também do distrito de Coimbra estão Oliveira do Hospital e Tábua e, do distrito da Guarda, pertencem Aguiar da Beira, Gouveia e Seia.
“Viu as pessoas todas a olharem por causa dos fatos vestidos e da proteção? É também esta exposição que as pessoas não querem ter, mas na verdade se estes resíduos não forem levantados por nós, vão parar aos contentores normais e colocam em perigo os nossos homens e a própria comunidade onde estão inseridos”, defendeu Luís Almeida.
Esta “rota de resíduos covid”, como é chamada na empresa, termina num “aterro mais pequeno que foi aberto para o efeito, até porque ainda ninguém sabe quanto tempo o coronavirus sobrevive nos resíduos”.
Após sete horas na estrada, “o que nem foi mau, porque a senhora do Sátão cancelou o serviço e a de Vila Nova de Paiva ainda não tinha o saco a 2/3, que é como deve ficar” fez com que na sexta-feira o camião tivesse ficado pelos 225 quilómetros, porque o número “às vezes é bem maior”.
O dia só termina quando o carro fica todo desinfetado e os colaboradores se desequipam para seguirem para casa. “Para a semana há mais, tem de ser, pelo bem de todos”, dizem.
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