“Ainda está muito contraditório, há uma mensagem um pouco confusa e isto causa alguma hesitação nas pessoas”, disse à agência Lusa a professora catedrática, do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa.
“Estamos a viver um tempo que exige precauções, mas não podemos ficar o resto da vida fechados em casa”, afirmou, frisando que o confinamento teve benefícios na contenção do contágio pelo novo coronavírus, mas também teve efeitos nefastos na sociedade.
O país deve agora enfrentar a nova realidade, frisou, sublinhando que esta nova etapa não é voltar ao dia em que tudo parou.
“Penso que é necessário um discurso de equilíbrio”, defendeu, lembrando que a maioria dos jovens do ensino secundário não sentia confiança para regressar às aulas, de acordo com um estudo da Universidade de Minho, divulgado na segunda-feira pelo jornal Público.
Para Cristina Ponte, vive-se agora um tempo diferente e, do ponto de vista pedagógico, “não é muito produtivo ficar em casa”.
“Na Europa do Sul há uma cultura muito protecionista. É importante que nas famílias se faça pedagogia, mas para a autonomia, não com superproteção e excesso de zelo”, sustentou, frisando: “Não podemos abandonar o zelo, mas se esse zelo nos paralisa é excesso”.
Na opinião de Cristina Ponte, deve ser feita uma campanha pensada na necessidade de transmitir uma mensagem mais clara. “Continuamos a ver a campanha ´Fique em Casa`. Deve ser mostrada a importância da retoma da vida pública”, precisou.
Ao mesmo tempo, indicou, “deve ser contrariada a ideia de que vamos voltar ao antigamente”.
Enquanto docente, Cristina Ponte anseia por retomar o contacto com os alunos, mas admite que a retoma das atividades representa“um grande desafio”.
“É preciso passar a ideia que é um tempo diferente, mas vamos passá-lo em conjunto”, declarou, recordando que muitos cidadãos não puderam ficar em casa e outros “perderam muito” com esta situação, que levou à perda de rendimentos e desemprego.
“Precisamos de ter mais um sentido de sociedade e de não estar a pensar só na nossa conchinha”, preconizou.
A investigadora considerou que é preciso “uma voz mais coerente” a dizer que o tempo de ficar em casa, só em casa, agora tem de “dar lugar a um tempo diferente”.
Relativamente ao teletrabalho, que a pandemia veio potenciar, a investigadora defendeu que vai ser necessária regulamentação.
"Estamos a viver uma revolução e não nos apercebemos, uma rutura!", exclamou.
Portugal contabiliza 1.231 mortos associados à covid-19 em 29.209 casos confirmados de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.
No dia 03 de maio, o país entrou em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência, desde 19 de março.
Esta nova fase prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
O Governo aprovou na sexta-feira novas medidas, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.
O regresso das cerimónias religiosas comunitárias está previsto para 30 de maio e a abertura das praias para 06 de junho.
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