No início de março, na apresentação das suas previsões intermédias, a OCDE admitiu, equacionando o pior cenário, que a covid-19 poderia reduzir em metade o crescimento da economia mundial em 2020, situando-o em 1,5%, o que poderia levar à recessão de economias como a europeia e a japonesa.

“Agora parece que já avançámos muito mais do que o cenário mais severo que foi previsto então”, assumiu o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, numa nova plataforma digital lançada na sexta-feira à noite pela organização para agrupar dados e políticas de resposta económica à pandemia da covid-19.

Ángel Gurría defende “um nível de ambição” parecido ao do Plano Marshall (plano de recuperação económica europeia no pós-II Guerra Mundial por iniciativa dos Estados Unidos) e uma “visão similar” à do New Deal (reformas financeiras aplicadas pelos Estados Unidos entre 1933 e 1939), mas, desta feita, com um alcance mundial.

Segundo o secretário-geral da OCDE, a pandemia da covid-19 é o terceiro choque económico, financeiro e social do século XXI, depois dos atentados do 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e da crise financeira global de 2008.

Como consequências dos efeitos da covid-19, Ángel Gurría enumerou a suspensão da produção nos países afetados, com repercussões nas cadeias mundiais de abastecimento, e uma forte quebra no consumo.

Gurría advertiu que as medidas restritivas adotadas pelos países, apesar de essenciais para travar a propagação da pandemia, estão a levar as economias a “um estado de congelação profunda sem precedentes e do qual a recuperação não será direta nem automática”.

Para o dirigente da OCDE, é prioritário também um esforço coordenado de governos e bancos centrais contra a “grande crise económica”, que continuará quando passarem os efeitos da crise sanitária.

Ángel Gurría pediu aos governos para que reduzam os critérios de acesso a indemnizações por desemprego e avisou os bancos centrais de que o foco de atuação não deve estar em “respostas soltas e inconsistentes”.

O novo coronavírus já causou pelo menos 11.401 mortos em todo o mundo, depois de ter sido identificado pela primeira vez em dezembro, de acordo com um balanço de hoje da agência noticiosa France-Presse.