Criada por duas médicas, Sandra Cerdeira e Renata Aguiar, e por um técnico de comunicação, João Marques, aos quais mais tarde se juntou o doutorado em ciências biomédicas Vítor Teixeira, o projeto surgiu do “desespero das pessoas que não estavam a ter resposta do SNS24″, disse à Lusa o responsável pela área da comunicação.
“No início de março não havia grandes informações sobre nada, além das recomendações mais básicas”, recordou João Marques sobre a génese de uma ação que “congrega hoje 618 mil seguidores”.
Com 391 membros “de todo o país e ilhas”, os gestores da página garantem “que todos os membros são certificados” e que entre esses colaboradores “há muita gente que está na linha da frente”, havendo registos de “médicos de Medicina Geral e Familiar que, entre consultas, acedem à página e respondem a duas ou três perguntas”.
Questionado sobre o que permite observar-se de quem pergunta, João Marques respondeu: “Permite ver que as pessoas estão assustadas, que precisam de alguém que as acalme, por vezes em pequenas coisas. Exemplo clássico disso é a tosse, que normalmente não se valoriza, mas que, hoje em dia, pensa-se que pode ser algo de muito mais grave”.
“Todos os dias temos relatos de pessoas que dizem estar horas à espera de conseguir atendimento no SNS24 e a situação agrava-se quando as pessoas se encontram em grupos de risco”, relatou o responsável sobre queixas, também, de que as autoridades “dão informações vagas”, como é o caso da “obrigatoriedade ou não do uso da máscara”.
Atendendo ao “baixo nível de literacia em saúde da população portuguesa”, João Marques reconheceu a necessidade de “usar nas respostas uma linguagem acessível”.
Desse serviço surgiram ideias que “evoluíram para ações em concreto”, como “aulas de ioga em direto”, com cerca de “20 mil visualizações”, ou “sessões de meditação”, que alcançaram os “mesmo números”.
Em jeito de balanço do primeiro mês de existência da página, que se completou a 15 de abril, João Marques testemunhou à Lusa “perceber-se hoje que as pessoas, muito lentamente, vão conseguindo ficar com mais informação e conhecimento a cerca das boas práticas, por exemplo, da etiqueta respiratória”, para o que tem “contribuído”, frisou, os “questionários ‘online'”.
Neste percurso de conhecimento mútuo os membros da página ficaram a saber também que “no início toda a gente utilizava vinagre para desinfetar tudo, quando o vinagre não é aconselhado. Hoje já é rara a pergunta sobre ele, mas há um mês era o suprassumo dos desinfetantes e matava tudo o que era vírus”, disse.
Perguntas como “se podiam encomendar comida, por exemplo, pizzas, e que cuidados deveriam ter para a comer” ou se “o bicho [vírus] se movimenta depois de cair numa superfície” foram realidades que neste período os membros se debateram e que levaram os administradores da página a publicar um vídeo “a explicar como podem fazer pesquisa no grupo”, evitando, dessa forma, que “haja repetição de perguntas”.
No regresso da conversa aos números, João Marques revelou “que as interações gerais estão a chegar aos dois milhões”, gerados a “partir das 20 mil perguntas respondidas”.
Num trabalho “incrível, mas que começa também a revelar-se desgastante”, as únicas limitações à informação verificam-se aos “pedidos que chegam de gente a viver no Brasil e noutros países de expressão portuguesa”, explicando João Marques “que as normas e as orientações são diferentes nesses países”.
“Por muito que queiramos ajudar, podemos acabar por desajudar, porque as organizações são muito diferentes e não é fácil lidar com isso”, explicou sobre um eventual ímpeto de alargar a disponibilidade da página aos países de língua portuguesa também a viver, e a sofrer, com a pandemia.
Portugal regista 687 mortos associados à covid-19 em 19.685 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Relativamente ao dia anterior, há mais 30 mortos (+4,6%) e mais 663 casos de infeção (+3,5%).
Das pessoas infetadas, 1.253 estão hospitalizadas, das quais 228 em unidades de cuidados intensivos, e 610 foram dadas como curadas.
O decreto presidencial que prolonga até 02 de maio o estado de emergência iniciado em 19 de março prevê a possibilidade de uma “abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais”.
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