A data de 17 de novembro marca o dia em que a revolta estudantil contra a junta militar que governava a Grécia foi esmagada pelas autoridades.

A efeméride é assinalada todos os anos com cerimónias de colocação de coroas no Politécnico de Atenas, em homenagem aos que ali morreram, seguido por marchas até à embaixada dos Estados Unidos, que apoiaram a ditadura que governou a Grécia entre 1967 e 1974.

Porém, o Governo proibiu as marchas este ano, citando preocupações de saúde pública, enquanto o país luta para conter a propagação da covid-19.

Um confinamento nacional foi imposto até ao final do mês, mas as autoridades aumentaram as restrições durante o aniversário do levantamento do Politécnico, proibindo reuniões de mais de três pessoas entre 15 e 18 de novembro.

Milhares de polícias foram posicionados em Atenas e em Salónica, no norte do país, para evitar as marchas.

Os partidos da oposição, de esquerda, condenaram a proibição, mas um recurso tardio no mais alto tribunal administrativo da Grécia, o Conselho de Estado, para declarar a proibição inconstitucional não teve sucesso.

Um sindicato apoiado pelo Partido Comunista e alguns outros partidos de esquerda desafiaram essa proibição.

Uma reunião inicial do sindicato realizou-se hoje de manhã em frente à embaixada dos EUA, onde cerca de 200 pessoas que usavam máscaras marcharam em formação, mantendo o distanciamento social e cantando ‘slogans’ como: “O Politécnico vive, fora com os norte-americanos”.

Os manifestantes reuniram-se também ao início da tarde no centro de Atenas, novamente mantendo o distanciamento social.

Porém, com o aumento da tensão, a polícia deteve várias pessoas e mais tarde usou gás lacrimogéneo e um canhão de água para interromper a manifestação.

Na cidade de Salónica, no norte, cerca de 250 pessoas realizaram também uma manifestação fora do Consulado dos EUA, sem que tenha sido relatada violência.

O ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, que lidera o principal partido da oposição, Syriza, publicou uma fotografia sua a participar numa manifestação enquanto mantinha a distância social.

“Com responsabilidade e cumprindo as medidas de proteção sanitárias, este ano voltamos a homenagear os mortos e as lutas do nosso povo pela democracia, independência e justiça”, afirmou nessa publicação.

“Nós quebramos a proibição que não tem sentido. A memória democrática e histórica não pode ser colocada em quarentena”, acrescentou.

Outros grupos de esquerda e anarquistas também prometeram desafiar a proibição de reuniões ao final do dia.

As marchas anuais no Politécnico costumam tornar-se violentas, com manifestantes a entrarem em confrontos com a polícia de choque.

O primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, depositou uma coroa de flores no Politécnico de Atenas hoje de manhã, acompanhado por um forte dispositivo de segurança.

“Cada aniversário importante ganha um novo significado com as condições em que é celebrado”, apontou Mitsotakis, acrescentando que as prioridades atuais são proteger a saúde pública e mostrar solidariedade com os jovens afetados pela crise financeira.

A Grécia está em confinamento até 30 de novembro, enquanto as autoridades lutam para conter o ressurgimento do novo coronavírus, que causou um aumento de infeções em todo o país.

No domingo, a Grécia registou o maior número de mortes por covid-19 num único dia com 71 óbitos confirmados.

A nação da União Europeia de 11 milhões de habitantes tem agora mais de 76.000 casos confirmados e mais de 1.100 mortes, enquanto as Unidades de Cuidados Intensivos estão com 78% de ocupação.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.328.048 mortos resultantes de mais de 55 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.