“Temos de olhar para os setores mais vulneráveis, mais afetados pela crise, aqueles que ainda não recuperaram, e projetar como é que se vão encontrar em setembro de 2021 e temos de agir com antecipação”, referiu Mário Centeno, adiantando que o BdP tem em curso um trabalho para caracterizar a evolução do tecido económico e empresarial do país.
“As nossas perspetivas são de que Portugal vai conseguir acompanhar a recuperação da atividade económica a nível mundial, mas temos algumas incertezas e questionamo-nos como se irá desenvolver a atividade económica destes setores mais afetados que dependem da recuperação da economia em Portugal”, sublinhou Mário Centeno que está a ser ouvido na comissão de Orçamento e Finanças sobre as moratórias de crédito.
Vários partidos têm sugerido o prolongamento das moratórias, mas o governador do BdP considerou que Portugal não pode correr o risco de se “singularizar” na recuperação, alertando que o país não deve isolar-se no contexto das decisões europeias e que as medidas devem ser vistas e usadas em conjunto e não de forma isolada. “Não devem ser só os bancos, o Estado ou as empresas e as famílias a responder a esta crise”, acrescentou.
As chamadas moratórias privadas para o crédito à habitação terminam esta quarta-feira, dia 31 de março, o que significa que muitos particulares retomam o pagamento destes empréstimos já em abril, situação que tem levado deputados de vários partidos a alertar que muitos não terão capacidade financeira para tal e a pedir novas respostas.
A adesão às moratórias públicas por parte de empresas e particulares termina também na quarta-feira e permitem que no máximo os encargos com o crédito (capital e/ou juros) possam ser diferidos por mais nove meses. Regra geral, contudo, a moratória pública termina em 30 de setembro.
A adesão às moratórias de crédito foi mais significativa do que em outros países europeus, o que poderá ter-se ficado a dever também ao facto de os critérios de acesso serem menos restritivos, precisou o governador, reiterando que crises anteriores mostram que fazer depender a resposta apenas de um setor não tem bons resultados.
Perante a necessidade de continuar a responder a uma crise que se está a revelar assimétrica, Mário Centeno reafirmou que o momento não é para retirar medidas, sendo necessário em simultâneo avaliá-las e adaptá-las ao “estádio seguinte, que todos desejamos que seja o do crescimento económico”.
Mário Centeno adiantou ainda que em 2020 os bancos constituíram 2.000 milhões de euros em imparidades, numa resposta de precaução face aos riscos futuros que esta crise possa ter.
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