Em conferência de imprensa, o secretário de estado da Saúde, António Lacerda Sales, lamentou as mortes por covid-19, referindo que "não são apenas números, são pessoas que fazem falta a alguém". Regista-se uma taxa de letalidade global de 4,2% e uma taxa de letalidade acima dos 70 anos de 15,7%.

"Estamos no primeiro dia da segunda fase de desconfinamento, é natural que as pessoas tenham receios, como também tiveram quando foi necessário recolhermo-nos nas nossas casas. É um caminho que percorreremos coletivamente, com consciência, com responsabilidade e com civismo. Mas um caminho onde não nos podemos esquecer que cada ação nossa tem impacto no outro e, por isso, temos o dever de continuar a respeitar escrupulosamente as regras estipuladas pelas autoridades de saúde. Continuamos todos a ser agentes de saúde pública e não podemos vacilar, nem relaxar, nem esmorecer", lembrou Lacerda Sales.

Sobre a situação nos lares, o secretário de estado da Saúde referiu que a situação "está estável". Neste momento, 315 lares (12%) têm casos de covid-19: cerca de 2 mil utentes positivos, 10% dos quais em internamento. No que diz respeito aos funcionários, num total de 14 mil,  998 testaram positivo (6,8%). Cerca de 400 aguardam ainda resultados e 720 estão em isolamento profilático.

O que nos diz o boletim da DGS desta segunda-feira?

Portugal regista hoje 1.231 mortes relacionadas com a covid-19, mais 13 do que no domingo, e 29.209 infetados, mais 173, segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção Geral da Saúde.

Em comparação com os dados de domingo, em que se registavam 1.218 mortos, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 1,1%.

Relativamente ao número de casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus (29.209), os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) revelam que há mais 173 casos do que no domingo (29.036), representando uma subida de 0,6%.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (698), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (279), do Centro (223), do Algarve (15), dos Açores (15) e do Alentejo, que regista um caso, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de sábado, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.

Registam-se ainda 6430 casos recuperados (mais 1.794 recuperações, o maior número diário de sempre). Em internamento estão 628 pessoas (menos 21), 105 das quais em Unidade de Cuidados Intensivos (menos 3).

Em vigilância pelas Autoridades de Saúde estão 25.360 pessoas.

O total de casos suspeitos, desde 1 de janeiro, é 295.449.

O aumento do número de recuperações

Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, referiu, sobre a diferença nos números apresentados no boletim, que "está na altura de começar a melhorar a informação sobre os recuperados".

"De ontem para hoje já repararam que há muito mais neste boletim, quer dizer que as instituições começaram a reportar mais, já estão mais aliviadas no seu trabalho assistencial e começam a melhorar a informação. Nós vamos caracterizar todas essas pessoas", precisou, dizendo que para já ainda não há estatísticas a apresentar.

Com estes dados, explicou, vai conseguir-se caracterizar todas estas pessoas em função das idades, em que hospitais estiveram e saber quantos testes tiveram negativos para poderem ser dados como recuperados.

“Não quer dizer que já tenhamos essa estatística trabalhada”, disse Graça Freitas, explicando que muitas vezes se diz que “a informação sobre uma epidemia só se consegue saber toda no final da epidemia”, porque estão a acontecer “muitos fenómenos ao mesmo tempo”.

“Mas nós temos estes dados em bases de dados e, quando é necessário e possível, conseguimos visitar e saber exatamente que tipo de pessoas, quantos dias é que levou entre a data de diagnóstico e a data de recuperação”, sublinhou.

Ou seja, será possível perceber “todo o processo que se seguiu no acompanhamento destes doentes até ao resultado final da sua doença, uma vez que esta doença não é uma doença crónica é uma doença aguda e, portanto, tem um princípio, uma evolução e depois tem um fim”, disse Graça Freitas.

Os ajuntamentos nas praias e a propagação do vírus

"Nós continuamos a confiar naquilo que é a consciência social e o civismo do povo português, não temos razão nenhuma para não acreditar [que não vai continuar]", respondeu Lacerda Sales questionado pelos jornalistas quanto à questão dos ajuntamentos nas praias, referindo contudo que é necessário estar alerta.

Sobre o caso concreto do Algarve, o secretário de estado referiu que "não haverá certamente grandes problemas" e a diretora-geral da Saúde frisou que "não se deve aligeirar" as medidas de segurança, uma vez que foi uma zona com poucos casos comparativamente ao restante país.

Graça Freitas resumiu a regra para os ajuntamentos: "Não se devem verificar. Ponto. Tirando pessoas coabitantes, não se devem verificar ajuntamentos, com ou sem máscara. O distanciamento físico é a principal medida para evitar transmissão do vírus. Todos nós temos de ter muito cuidado, não ir para sítios muito povoados, desviarmo-nos. Se houver de facto uma densidade populacional num determinado sítio devemos evitar frequentá-lo. Não há outra receita para os ajuntamentos".

Sobre a questão de a Organização Mundial da Saúde ter referido que o vírus pode não se propagar em superfícies, Graça Freitas referiu que têm sido vários estudos. "A OMS refere de facto que é mais difícil do que se pensava a transmissão do vírus e das gotículas de superfícies — as maçanetas das portas, por exemplo, que eram um sítio de risco — para o nosso trato respiratório. Dito isto, não é um assunto encerrado. A OMS continua a recomendar como essencial a desinfeção dessas superfícies. Na dúvida, porque há outros vírus cuja história conhecemos melhor e que se transmitem por essa via, é melhor continuarmos a ter precauções em relação aos objetos e superfícies e a tentar não levarmos diretamente as nossas mãos para o trato respiratório", explicou.

"Se for assim, é uma boa notícia porque permitirá o nosso retorno à nossa vida normal, mais à vontade do que aquilo que estamos a fazer agora. Mas é ainda um pouco cedo", alertou.

A revisão das estratégias de testagem

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, admitiu hoje fazer uma revisão das estratégias de testagem à covid-19 em função do dinamismo do novo coronavírus SARS-Cov-2.

"Em função deste dinamismo do surto estamos numa fase em que também temos que ter a humildade democrática de fazer uma revisão sobre, também, as próprias estratégias de testagem", afirmou o governante, comentando os dados de um inquérito da Ordem dos Médicos, segundo o qual 47% dos médicos com sintomas de covid-19 ou que tiveram contacto com casos suspeitos nunca foram testados.

António Sales lembrou, contudo, na conferência diária da Direção-Geral da Saúde sobre a pandemia, que as instituições de saúde têm que respeitar a orientação número 13 da DGS sobre a testagem aos profissionais de saúde.

"Este é um surto dinâmico, aquilo que em nos encontrávamos em março e abril não é aquilo em que nos encontramos em maio, portanto, nós temos que nos ir ajustando ao próprio dinamismo desse surto", sublinhou.

Segundo o secretário de Estado da Saúde, têm estado a fazer-se cada vez mais testes.

"Temos em testes acumulados mais de 650 mil testes, testamos por milhão de habitantes mais de 60 mil pessoas, e, portanto, há um reforço cada vez maior na nossa capacidade de testagem", salientou.

António Sales agradeceu ainda à Ordem dos Médicos e aos profissionais de saúde "todos os contributos que possam dar para melhorar" a "capacidade de resposta em todas as suas vertentes".

Sobre o mesmo tema, Graça Freitas referiu que têm sido tomadas "decisões de saúde pública e de saúde individual em função da evolução da doença".

"Neste momento parece que já estamos noutra fase da epidemia. Vamos ver como vai ser a evolução nos próximos dias e nas próximas semanas, em função das medidas de desconfinamento progressivo que temos adotado. Estamos a ser cautelosos nesse desconfinamento para que a nossa vida volte à normalidade possível sem grandes repercussões na epidemia. É este o equilíbrio difícil", alertou.

Os equipamentos de proteção individual

Outro dos temas abordados por Lacerda Sales na conferência de imprensa prendeu-se com os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) utilizados no combate à covid-19, ressalvado que "a proteção dos profissionais de saúde e de todos os que prestam cuidados serão uma preocupação".

"Há neste momento seis entidades acreditadas para proceder à certificação das empresas que pretendam fabricar máscaras cirúrgicas, sociais ou outros dispositivos de proteção", afirmou o governante.

"O Instituto Português de Qualidade e o Instituto Português de Acreditação estão a trabalhar para que sejam estabelecidos critérios para outorgar competência acreditadora pelo que em breve deverá haver mais entidades com esta capacidade", sublinhou.

Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed presente na conferência de imprensa, deixou alguns esclarecimentos sobre os equipamentos de proteção individual, nomeadamente sobre as máscaras, frisando a publicação, a semana passada, de um documento com infografias sobre a temática.

"Temos essencialmente três grupos [de máscaras] que têm a ver com o tipo de profissionais. Os profissionais de saúde são o grupo que precisa de máscaras com maior exigência do ponto de vista da sua performance", começou por explicar, fazendo um breve resumo do documento.

Nível I: equipamento de proteção individual ou dispositivo médico (para profissionais de saúde e doentes)
Nível II: dispositivo médico ou artigo têxtil (para profissionais que não sendo da saúde estão em contacto frequente com o público)
Nível III: artigo têxtil (profissionais que não estejam em teletrabalho ou população em geral para as saídas autorizadas em contexto de confinamento)

"As duas entidades aqui com responsabilidades são o Infarmed, no que diz respeito às máscaras cirúrgicas e outros dispositivos médicos, e a ASAE, no que diz respeito aos chamados respiradores, os FFP2", referiu.

"Com a declaração da pandemia, a 11 de março, houve necessidade de reforçar os mecanismos para dispormos destes equipamentos. Como sabem, começou a sentir-se alguma escassez a nível mundial. Ao nível do Ministério da Saúde, foi desencadeada uma reserva estratégica com aquisições centralizadas através da central de compras e aqui houve que ir ao mercado que estava mais disponível, neste caso a China", acrescentou o presidente do Infarmed.

Sobre a recomendação da Comissão Europeia sobre estes equipamentos, Rui Santos Ivo referiu que o essencial é que "estes disponham de garantias de segurança para quem os vais usar" e que este documento serviu para que a indústria nacional começasse a sua produção. "Isso permitiu a empresas que normalmente não estavam a fazê-lo que o pudessem passar a fazer", frisou.

O presidente do Infarmed referiu também que os produtos que chegam do estrangeiro são fiscalizados na Alfândega, pelo que, se não passarem na fiscalização, não passam para as entidades de venda.

A ocupação dos cuidados intensivos

A taxa de ocupação das unidades de cuidados intensivos (UCI) situa-se no 54%, sendo cerca de 30% doentes com covid-19, disse o secretário de Estado da Saúde.

“Temos no dia de hoje uma taxa de ocupação de cerca de 54%, tem rondado entre os 50 e os 54%, o que reflete mais uma vez a nossa capacidade de expansibilidade”, disse António Lacerda Sales.

Segundo o governante, entre “30 a 33%” das camas de cuidados intensivos estão ocupadas com infetados pelo novo coronavírus, o que mostra que tem vindo a diminuir gradualmente a taxa de ocupação de covid-19 nas UCI.

Relativamente à capacidade de ventilação mecânica, Lacerda Sales afirmou que era de cerca de 6,4 camas por 100 mil habitantes, mas com "o esforço que foi desenvolvido”, com a chegada de cerca de mais 400 ventiladores, entre os quais doações, empréstimos e aquisição central, aumentou para as "713 camas, o que é significativo e reflete o nível de expansibilidade já interessante nesta fase em termos de ventilação mecânica”.

Sublinhando que a média europeia ronda as 11,5 camas por 100 mil habitantes, António Lacerda Sales defendeu: “há que melhorar e aproveitar esta capacidade, esta renovação da nossa capacidade de ventilação mecânica para nos aproximarmos e se possível ultrapassarmos esta média europeia”.

Este aumento da capacidade ventilatória tem “não só o objetivo” de aumentar a capacidade das UCI nesta fase covid-19, mas também no futuro com os ventiladores que já chegaram e com que chegarão nas próximas semanas, disse o secretário de Estado, adiantando que os ventiladores que já foram pagos por Portugal já estão na embaixada de Portugal em Pequim.

Os centros de dia e as IPSS

A diretora-geral da Saúde afirmou que ainda não está prevista a reabertura dos centros de dia porque têm “especificidades que têm de ser respeitadas”.

Graça Freitas explicou que “às vezes coexiste” na mesma instituição um centro de dia para idosos e “um sítio especial para crianças”, situações que “têm que ser acauteladas”.

“Nós temos falado muito em separação de circuitos para separar riscos, mas isto pressupõe que exista pessoal, quer em número suficiente, quer pessoal treinado para manter estas separações”, sublinhou.

A diretora-geral da Saúde adiantou que o país “paulatinamente” vai “voltando ao normal, treinando procedimentos e depois expandindo esses procedimentos para situações parecidas, mas com algumas coisas específicas”.

Esse é o plano genérico que existe e a Direção-Geral da Saúde está disponível para encetar com as “instituições que têm determinadas particularidades o diálogo que as ajude a aplicar regras gerais de separação”.

Relativamente às instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que acolhem pessoas com deficiência, Graça Freitas disse que se aplicam, de um modo geral, todas as regras que já existem para outras instituições como creches e lares de idosos

Mas, ressalvou, “há especificidades no tratamento e no acompanhamento destas pessoas que terão que ser os seus cuidadores e as entidades que gerem estas instituições a adaptar”.

A Direção-Geral da Saúde, além de fazer regras gerais, “está sempre disponível, obviamente, para dar informação adicional para certas situações específicas e particulares, nomeadamente quando se trata de população com deficiência”, reforçou Graça Freitas.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.

(Notícia atualizada às 17h05)