Numa curta mensagem na rede social Twitter, Bolsonaro escreve "RT-PCR para Sars-Cov 2: negativo", acompanhado de uma fotografia onde se mostra sorridente, a tomar o pequeno-almoço, com uma caixa de hidroxicloroquina na mão, droga usada para combater a covid-19 no Brasil, que não tem eficácia científica comprovada.
O presidente brasileiro, de 65 anos, não disse quando fez o novo teste, sendo que na quarta-feira, ele testou positivo pela terceira vez. Bolsonaro sempre demonstrou ceticismo sobre o perigo da doença, que chegou a comparar com uma "gripezinha".
Desde que confirmou a infeção por covid-19, no dia 07 de julho, Bolsonaro passou a despachar por videoconferência a partir da sua residência oficial em Brasília, o Palácio da Alvorada, onde garantiu que permanecia isolado e sem contacto com os seus familiares.
O chefe de Estado brasileiro não esclareceu quando planeia retomar a agenda oficial, embora se acredite que o fará a partir da próxima segunda-feira.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados e de mortos (mais de 2,3 milhões de casos e 85.238 óbitos), depois dos Estados Unidos..
A administração de hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 não apresenta efeitos antivirais visíveis em células humanas, apesar de alguma resposta em testes realizados com macacos, adianta um estudo publicado na revista científica Nature.
De acordo com o grupo de investigadores responsável pela pesquisa, “a hidroxicloroquina mostrou atividade antiviral em células renais do macaco verde africano, mas não num modelo de epitélio das vias aéreas humanas”. Por isso, a investigação defende, nas conclusões, “não apoiar a sua utilização como agente antiviral para o tratamento da covid-19 em humanos”.
A avaliação negativa dos efeitos desta substância em humanos surge depois de ter sido utilizada em diversos países como terapêutica para doentes internados. A hidroxicloroquina ganhou especial mediatismo quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu tomá-la de forma profilática e por o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ter anunciado que estava a tomar após ter sido infetado pelo novo coronavírus.
O estudo revela também ter testado a hidroxicloroquina em diferentes momentos, ou seja, antes da infeção, num estágio inicial antes do pico de carga viral e até depois de se atingir o máximo de carga viral. Contudo, os diversos ‘timings’ de administração “não demonstraram atividade antiviral nem eficácia clínica”, nem mesmo quando usado como profilaxia pré-exposição ao vírus, uma vez que “não conferia proteção contra a aquisição de infeção”.
Os investigadores foram ainda mais longe e descartaram também a eficácia da hidroxicloroquina quando combinada com azitromicina.
“Nem a hidroxicloroquina, nem a sua combinação com azitromicina mostraram um efeito significativo nos níveis de carga viral em qualquer um dos compartimentos testados. Os nossos resultados não apoiam a utilização da hidroxicloroquina, quer isoladamente quer em combinação com a azitromicina”, pode ler-se no estudo.
Também na revista Nature foi publicado um outro estudo que apontou na mesma direção da falta de eficácia da cloroquina. Um grupo de investigadores alemães defende que esta substância usada no tratamento da malária – e administrada na resposta à covid-19 pela inibição de propagação do vírus na linha celular derivada dos rins Vero 1-3 - não evita a infeção de células pulmonares humanas pelo SARS-CoV-2.
“A expressão artificial de TMPRSS2, uma protéase celular que ativa o SARS-CoV-2 para a entrada nas células pulmonares, torna a infeção por SARS-CoV-2 das células Vero insensível à cloroquina. Além disso, relatamos que a cloroquina não bloqueia a infeção por SARS-CoV-2 da linha de células pulmonares TMPRSS2 Calu-3. Estes resultados indicam que a cloroquina visa uma via de ativação viral que não é operativa nas células pulmonares e é pouco provável que proteja contra a propagação da SARS-CoV-2 nos e entre os doentes”, refere o estudo.
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