Por estas encostas e lameiros da serra do Alvão, espalham-se 2.000 cabras bravias e cerca de 300 vacas maronesas, duas raças autóctones que são “o motor económico” da freguesia de Alvadia.
Os produtores queixam-se de, este ano, estarem a ser duplamente afetados pelos incêndios e pela seca severa, o que dizem estar a “aumentar os custos de produção”.
Aumentam as despesas mas, segundo disseram, a carne continua a ser vendida ao mesmo preço.
“Estou a sentir uma crise muito grande. Por causa dos incêndios e da seca não há comida para dar ao gado e temos que recorrer a outros alimentos, como feno e cereais, que já estão também a acabar”, afirmou Raul Silva, de 40 anos, que possui um rebanho de 250 cabras e 30 vacas.
São as reservas que estavam guardadas para o inverno, mas que já estão ser gastas.
“Para aguentar o gado está a ser muito difícil. Era preciso que o Governo nos desse alguma ajuda para comprarmos os cereais e os fenos”, salientou. Como os pastos são poucos e o gado é muito, os pastores têm de sair mais cedo para o terreno e andar muito mais. “A área é pequena para tanto gado”, frisou.
Avelino Rego, de 33 anos e representante do baldio de Alvadia, sustentou que a situação “está a ser difícil” e lembrou que, em 2016, arderam 700 hectares no baldio e, em outubro deste ano, 1.011 hectares. E, acrescentou, já em 2010 a freguesia sofreu um grande incêndio.
Avelino Rego finaliza ao dizer que a pecuária é o “motor económico” da freguesia.
Armando Carvalho, dirigente da Associação dos Pastores Transmontanos e da Confederação Nacional de Agricultura, referiu que as dificuldades sentidas em Alvadia se refletem em muitas outras aldeias desta região.
“Estamos muito apreensivos porque as medidas que o Governo tomou, que se traduzem numa linha de crédito, não é o que os produtores pretendem e precisam”, sublinhou o responsável.
Armando Carvalho lamentou que o Governo “esteja apenas preocupado com uma parte do país”. “Queremos que o Governo veja o país num todo e que tome medidas para colmatar as dificuldades deste setor, que tem bastante expressão na região”, frisou.
As dificuldades destes produtores de gado foram expostas hoje ao deputado do PCP Jorge Machado. “Verificamos no terreno a ausência do Estado relativamente a infraestruturas de apoio e até de conhecimento técnico dos problemas que existem. O Estado tem vindo a ser desmantelado da sua capacidade de resposta”, afirmou o parlamentar.
Jorge Machado referiu que, em Alvadia, verificou que a principal medida de apoio que é reivindicada é “um apoio financeiro por cabeça, por animal”. “Vamos considerar essa necessidade de apoio no plano da nossa intervenção. Vamos intervir para minorar os impactos”, sublinhou.
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