A notícia está a ser avançada pelo jornal Nascer do Sol, que cita fonte próxima do bispo, segundo a qual D. Manuel Clemente "está profundamente triste e agastado com o julgamento na praça pública e passar de bestial a besta após 50 anos de missão na Igreja".
O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, foi ontem recebido pelo Papa Francisco a propósito dos acontecimentos das últimas semanas, relacionados com suspeitas de abusos de menores na igreja em Portugal, revelou o Patriarcado.
Em comunicado, o Patriarcado de Lisboa diz que o Manuel Clemente foi recebido, a seu pedido, “em audiência privada”.
“O encontro, pedido pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, realizou-se num clima de comunhão fraterna e num diálogo transparente sobre os acontecimentos das últimas semanas que marcaram a vida da Igreja em Portugal”, acrescentava a nota.
Segundo o jornal Nascer do Sol, a audiência não versou apenas os acontecimentos das últimas semanas, relacionados com notícias de encobrimento por parte de bispos portugueses de casos de abuso sexual, mas serviu também para discutir a continuidade de D. Manuel Clemente no cargo.
Este mostrou-se disponível para sair caso seja esse o desejo do Papa Francisco, reiterando todavia que "as decisões tomadas por si e por D. José Policarpo seguiram as diretrizes de então da Igreja", escreve o jornal.
Havendo uma sucessão, segundo o jornal, o nome apontado nesta altura é o do cardeal Tolentino de Mendonça.
Esta semana, o Observador noticiou que o atual cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, “teve conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado e chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas optou por não comunicar o caso às autoridades civis e por manter o padre no ativo com funções de capelania”.
O caso denunciado remonta a 1999.
“Além disso, o sacerdote continuou a gerir uma associação privada onde acolhe famílias, jovens e crianças, com o conhecimento de D. Manuel Clemente. Tudo, porque, justifica o próprio Patriarcado ao Observador, a vítima, que alega ter sofrido os abusos na década de 1990, não quis que o seu caso fosse público e queria apenas que os abusos não se repetissem”, noticiou o jornal.
De acordo com a investigação do Observador, a atuação do patriarca “contraria (…) as atuais normas internas da Igreja Católica para este tipo de situações, que determinam a comunicação às autoridades civis de todos os casos”, adiantando que “os dados sobre este caso em concreto contam-se entre as mais de 300 denúncias já recebidas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa — e o nome deste sacerdote é também um dos sete que já se encontram nas mãos da Polícia Judiciária para serem investigados”.
Em resposta, numa carta aberta, o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, assegurou que “desde a primeira hora” deu instruções, no Patriarcado, “para que a Tolerância Zero e a Transparência Total sejam regra conhecida de todos” quanto ao abuso de menores.
Segundo Manuel Clemente, o seu antecessor “acolheu e tratou o caso em questão tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar”.
“Uma vez patriarca, marquei um encontro com a vítima, encontro esse que foi adiado a pedido da mesma. Em 2019, regressado do Encontro dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa sobre o tema ‘A proteção dos menores na Igreja’ promovida pelo Santo Padre em Roma, sobre a temática dos abusos, pedi um novo encontro à vítima, com quem conversei presencialmente. A sua preocupação era a não haver uma repetição do caso, sem desejar de forma expressa, a sua divulgação”, refere o patriarca na carta aberta hoje divulgada.
O cardeal entende não ter estado “perante uma renovada denúncia da feita em 1999. Se assim tivesse sido, a mesma teria sido remetida à Comissão Diocesana, criada por essa altura, e teriam sido cumpridos todos os procedimentos recomendados à data”.
“Recordo que as regras e recomendações de 16 de julho de 2020 são posteriores”, escreve Manuel Clemente, acrescentando que “em relação ao sacerdote em causa, o mesmo foi acompanhado e até à atualidade nunca houve qualquer denúncia ou reparo sobre o seu comportamento moral. Nunca ninguém comunicou, nem sob anonimato, qualquer acusação”.
Já ontem, de acordo com uma notícia publicada pelo jornal Expresso, o bispo da Guarda, Manuel Felício, e o bispo emérito de Setúbal, Gilberto Reis, são também suspeitos de encobrimento.
“Há pelo menos mais dois bispos que, além de Manuel Clemente, terão tido conhecimento de queixas de abusos por parte de padres e que não comunicaram essas suspeitas quer à Polícia Judiciária quer ao Ministério Público, as autoridades civis com competência para investigar este tipo de crimes”, escreveu o semanário.
O jornal avançou ainda com a notícia de que, há cerca de dois meses, um pároco — cujo nome não foi identificado — testemunhou perante a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja e identificou 12 sacerdotes sobre os quais terá indícios, mais ou menos fortes, de terem assediado ou abusado menores.
No início deste mês, recorde-se, o Patriarcado de Lisboa informou que afastou um padre de todas as suas funções por suspeitas de violação.
"O Patriarcado de Lisboa recebeu uma denúncia relativa a um possível crime de violação praticado por um sacerdote diocesano", lê-se na nota publicada no site oficial da instituição, tendo decidido "dar início aos procedimentos canónicos previstos para este tipo de casos" e afastar "o padre de todas as suas funções até ao apuramento dos factos.
Ainda segundo o Patriarcado de Lisboa, o caso "foi comunicado às autoridades civis competentes", sendo que "não se enquadra no âmbito da Comissão de Proteção de Menores". Tanto a vítima e como o sacerdote foram ouvidos.
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