Junto ao Ministério da Administração Interna, os participantes da vigília formaram as palavras “criminosos” e “vergonha”, para lembrar os 73 animais que morreram e as centenas que ficaram feridos num incêndio que atingiu, no passado fim de semana, dois abrigos ilegais em Santo Tirso, distrito do Porto.
Cumprindo com as normas de segurança devido à pandemia de covid-9, nomeadamente com a distância social e o uso de máscara, a cerca de uma centena de pessoas que participaram na vigília ergueram cartazes para exigir “justiça pelos animais”.
“Dar voz a quem não fala como nós!”, “Chega de impunidade, justiça já!” e “Defender a vida ou a propriedade privada?”, foram algumas das frases lançadas pelos cartazes, em que muitos tinham imagens de chamas e animais feridos.
Organizada pelo grupo Acão Direta – Libertação Animal e pela Eco Roots, associação que promove o ativismo na causa animal, a vigília em Lisboa foi promovida na rede social Facebook, registando 1,6 mil pessoas a manifestarem-se “com interesse” em participar.
A representar o grupo Acão Direta – Libertação Animal, Carlos Macedo disse que a ação visa agradecer a todos os que ajudaram para resgatar os animais no incêndio em Santo Tirso e “mostrar ao Estado que a intenção de lutar”, considerando que este incidente vai ser “um marco para todas as organizações que têm como âmbito o bem-estar animal”.
“Está na hora de as pessoas saírem à rua e demonstrar pela forma pacífica que estamos atentos e não vamos deixar que esta situação volte a acontecer, isto é um ato criminoso, não deixar alguém salvar um animal é um ato criminoso”, declarou Carlos Macedo, referindo que houve “uma inoperância de todas as entidades”, porque a mata à volta não estava limpa, o canil não era vigiado pelo veterinário, a Câmara Municipal não fez nada e as autoridades impediram o salvamento dos animais.
Por parte da Eco Roots, Sandra Barbosa classificou a ocorrência de Santo Tirso como “o falhanço total das autoridades”, uma vez que tinham conhecimento da situação desde 2018, quando foram registadas as primeiras queixas, pelo que falharam ” a muitos níveis”.
Presente na vigília em Lisboa, a líder do grupo parlamentar do PAN, Inês de Sousa Real, explicou que “infelizmente os acontecimentos de Santo Tirso vieram trazer ao de cima uma realidade do país bastante cruel, não só a respeito da forma como os animais são tratados em alguns locais, nomeadamente em abrigos animais, como também a ausência de políticas públicas que incluam os animais nos planos de Proteção Civil”.
Para a representante do PAN, o facto de ter sido negado o auxílio aos animais por parte de entidades competentes “é absolutamente inadmissível numa sociedade que se diz humana e de respeito para com os animais”, pelo que o aconteceu em Santo Tirso não pode cair no esquecimento.
Segundo dados da Câmara Municipal de Santo Tirso, o incêndio, que deflagrou em 18 de julho e consumiu parte de um terreno no qual se encontravam diversas instalações de abrigo de animais, “vitimou um total de 69 cães e quatro gatos” e foram recolhidos com vida pelo menos 190 animais.
Neste âmbito, o Ministério da Agricultura indicou que os dois abrigos afetados pelas chamas “não têm qualquer registo” na Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), o ministro da Administração Interna determinou a abertura de um inquérito à atuação da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Proteção Civil no incêndio e a Procuradoria-Geral da República anunciou a abertura de um inquérito do Ministério Público ao caso.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, classificou como “absolutamente intolerável” o incidente em Santo Tirso que levou à morte de dezenas de animais no passado fim de semana e admitiu repensar o quadro legal e a “orgânica do Estado” nesta matéria, inclusive o papel da DGAV.
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