Um dia de voto na capital francesa. A cavalo no 'Vélib', decido percorrer as ruas de Paris neste momento de grande tensão. Hoje votei, e como muitos senti um arrepio, uma dúvida, e se.... ?
Depois de alguma hesitação neste roteiro por Paris que vou fazer ao longo da tarde e noite para o SAPO24, decidi que o meu ponto de partida seria no Bataclan.
Porquê? Porque se tornou, sem dúvida, num terrível símbolo da história de Paris. O que aconteceu atrás destes muros não era suposto acontecer num país dito civilizado. Foi como uma injeção brutal que nos trouxe a realidade: o que acontece lá fora, as guerras africanas e orientais, também tem a ver connosco.
Do meu bairro em Buttes Chaumont, passei pelo canal Saint Martin, perto do bataclan, para depois seguir para a Bastilha, lugar mítico da revolução francesa de 1789. Próxima estação Republique, nova praça da esquerda francesa depois dos atentados.
As filas intermináveis da CRS (Companhia Republicana de Segurança) tornaram-se uma imagem habitual e banal do dia a dia parisiense.
Pelo caminho já me cruzei, na Place de la République, com três portuguesas a viver em França. As três já votaram.
Virgínia, Idália e Polínia são três primas instaladas em Paris há mais de 30 anos. A Virgínia e a Idália foram votar, a Polínia não o fez porque não pediu a nacionalidade francesa, mas não deixa de ter uma opinião. Elas representam toda a incerteza na qual se encontra o cidadão francês. Fillon, Mélenchon, Hamon e Le Pen foram todos opções antes de irem a votos.
A Virgínia acabou por votar Hamon convencida pelo presidente da câmara da cidade de Essonne, onde mora. O voto foi sem convicção, cumpriu o que entende ser o seu dever de cidadã, mas sente-se perdida. A Idália bem teve vontade de dar um pontapé no formigueiro ... escolhendo Marinne Le Pen. Mas acabou por votar Fillon. Garante, apesar da vontade que teve, que não votaria Le Pen numa segunda volta. As três primas concordam, no entanto, que a esquerda no poder não deu nada e que afinal é tudo a mesma coisa. Os governos são todos iguais, lamentam.
Paris, uma cidade militarizada. Ao passar pelo Hotel de Ville, câmara municipal central, uma fila de camiões da Gendarmerie, equivalente da GNR portuguesa, encontra-se aí estacionada. Na ilha da Cité, a um minuto de bicicleta, encontra-se a Catedral de Notre Dame. O dispositivo é igualmente impressionante, com polícias e militares.
Para um domingo de primavera, o número de turistas é escasso. Pouco antes do ataque nos Campos Elísios, o turismo parisiense tinha recuperado níveis de visita equivalentes ao dos anos anteriores, antes do terrorismo.
À porta da sede de Emmanuel Macron, o aparato é grande, à medida que se conhecem as primeiras projeções que o dão como vencedor da primeira volta.
O ambiente dentro da sede de Emmanuel Macron antecipa a vitória que as projeções indicam. Muitos jornalistas e a agitação típica de uma noite eleitoral:
Marie Laure Vercambre trabalha para uma associação ecológica e nunca tinha feito política até hoje. Sente-se muito feliz. Emmanuel Macron tem uma personalidade que conforta a sua vontade de acreditar numa França progressista dentro da União Europeia. No passado votou à esquerda. Hamon e Mélenchon têm projetos muito bonitos, mas falta-lhes consciência do mundo, afirma.
Samuel Mingot e Marine Louis sentem-se entusiasmados. A vitória final é para eles uma certeza. Marine considera que a opção nem esquerda nem direita é opção certa para governar o país. Os dois jovens acreditam que assim se pode inspirar o melhor de cada ideologia. O facto de Macron ser um pro-europeu assumido ajudou e facilitou a escolha no momento do voto. Agora é preciso conseguir o maior resultado possível frente a Marine Le Pen para que o novo presidente possa chegar com força ao momento das eleições legislativas.
Eman é líbia chegou há 4 meses a França para estudar Relações Internacionais. Descobriu a política francesa há pouco e ficou muito seduzida pelo discurso de Emmanuel Macron. Não vota, mas queria estar presente para festejar a derrota da Marine Le Pen que representa uma grande ameaça para uma refugiada como ela.
É uma sede em festa que espera por Emmanuel Macron.
Emmanuel Macron discursa e prepara apoiantes para a segunda volta.
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