A notícia chegou ao fim da tarde e Luana, com a filha de 3 anos ao colo, não escondeu a alegria: "Recebi agora mesmo um telefonema de uma senhora do consulado a dizer que já estamos garantidos para o voo desta quinta-feira", disse à Lusa.

Luana, o marido e a filha viviam há ano e meio em Portugal.

“O meu marido era padeiro e eu trabalhava em pastelaria. Ele tinha contrato eu não, mas ficámos sem nenhum apoio", explicou quando tinha acabado de receber a notícia do consulado sobre o lugar assegurado no último dos seis voos fretados recentemente pelo Estado brasileiro para repatriar viajantes que ficaram retidos em Portugal por causa das consequências da pandemia.

"O voo é na quinta, dia 30, de nós três. Está confirmado", reforçou.

A família chegou ao aeroporto no domingo de manhã, na esperança de conseguir entrar no voo de domingo para São Paulo, mas não conseguiu. Não passou a noite no aeroporto ali, por causa da filha, tendo regressado hoje de manhã.

Agora, apesar de já ter recebido a confirmação por ‘email’, tem de ficar ali até quinta-feira, como que lhe disse "a senhora do consulado".

Mas isso não é um problema, “porque os senhores do aeroporto já disseram” à família que a deixa ficar no interior, “por causa do frio e da criança", esclareceu.

A mesma sorte não teve Yane dos Santos, 53 anos, que ainda vai passar a noite sentado numa cadeira de rodas cedida pelo aeroporto.

Quando falou com a Lusa hoje ao fim do dia tinha no colo várias mantas, no corpo casaco sobre casaco e uma perna estendida sobre um carrinho. É diabético e foi operado recentemente a um pé, depois de uma ferida complicada.

Trabalhava numa empresa de apoio domiciliário a idosos, com um contrato de prestação de serviços, quando chegou a pandemia da covid-19 a Portugal.

"De quarentena, sem trabalho, sem dinheiro para a renda, vou ficar na rua a fazer o quê?”, respondeu quando questionado por que quer regressar ao Brasil.

"Estava internado quando o consulado me mandou ‘email’ a perguntar se queria ir no voo de dia 18, que saiu do Porto”, declarou, referindo que queria ir, “mas estava hospitalizado”.

“Eles mandaram depois um ‘mail’ a dizer que o último voo era dia 26 e que se quisesse vir teria de trazer autorização médica para viajar", explicou, referindo que informou da sua presença.

Porém, chegou ao aeroporto, mas o seu nome “não estava na lista".

Yane sabe, porque as pessoas ali instaladas dizem, que há voo para São Paulo na quinta-feira e prometeu não arredar pé da porta do aeroporto enquanto não lhe arranjarem lugar no avião.

"O consulado ofereceu-me um abrigo por causa do meu pé, mas eu não quis”, afirmou, temendo que, ao sair dali, fosse esquecido.

“Nós estamos aqui para chamar a atenção", disse Yane dos Santos

E tanto chamaram à atenção que ao longo do dia de hoje receberam doações de portugueses, brasileiros e até de italianos.

Ao final do dia continuavam a chegar carros a descarregar caixas de comida e agasalhos.

O cônsul adjunto do Brasil em Lisboa já tinha garantido hoje à tarde à Lusa que o último dos seis voos fretados pelo Estado brasileiro para repatriamento de turistas se realizaria "em breve" e admitiu que poderia haver mais, não só para turistas, mas também para pessoas em situação de vulnerabilidade.

"Pode haver mais voos fretados para turistas e pessoas que residam em Portugal e estejam numa situação limite de vulnerabilidade", afirmou à Lusa, por telefone, Eduardo Hosannah.

O cônsul adjunto acrescentou: "Se for necessário, pediremos autorização a Brasília para a realização de mais voos e ampliamos o contrato com a companhia aérea TAP".

Quanto ao sexto e último dos voos para repatriamento de cerca de 1.600 viajantes do Brasil retidos em Portugal na sequência das medidas de restrição e cancelamento de voos resultantes da pandemia da covid-19, o diplomata garantiu que se realizaria "em breve".

Em 16 de abril, dia em que partiram para São Paulo os dois primeiros voos da TAP, dos seis fretados pelo Governo brasileiro, a 1.ª secretária do consulado do Brasil em Lisboa disse que o sexto voo não era garantido que se viesse a realizar.

"São seis voos. Em princípio, operaremos cinco e poderemos vir a operar um sexto, ao longo do mês de abril", afirmou então à Lusa Izabel Cury.

Naquele dia, como a Lusa verificou no local, uma boa parte das dezenas de passageiros que se encontravam na fila de espera para entrar na porta principal das partidas do aeroporto de Lisboa, não eram só turistas, mas também residentes sem emprego e estudantes universitários.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já contagiou mais de três milhões de pessoas e provocou 209.388 mortes em todo o mundo.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.