"O PS em momento algum deve viabilizar nenhuma recomendação do Chega" disse Pedro Nuno Santos aos jornalistas, durante uma visita aos bairros do Zambujal e Cova da Moura.

O presidente da Câmara de Loures afirmou na semana passada, em sessão do executivo municipal, que todos os envolvidos nos distúrbios que residam em habitação social deveriam ser despejados: "É para despejar, ponto final" - afirmava Ricardo Leão.

"Todos os eleitos do PS, seja para a Assembleia da República, seja para os órgãos municipais, seja para os órgãos regionais, estão comprometidos, obrigados já agora, com o cumprimento da lei, com o cumprimento da Constituição, com os objetivos da reinserção social e, para além da lei, com os princípios do humanismo, do respeito pelo outro e da empatia." — sublinha o líder do partido.

O líder do PS criticou o primeiro-ministro por ainda não ter ido aos bairros na periferia de Lisboa onde nas últimas semanas houve desacatos, considerando já ser “um padrão” a ausência de Luís Montenegro no terreno com as pessoas.

Pedro Nuno Santos respondia aos jornalistas numa visita ao Bairro do Zambujal, Amadora, após questionado sobre a polémica suscitada pelas declarações do presidente da Câmara de Loures e líder da FAUL, Ricardo Leão, sobre despejos em habitações municipais, depois de o PS ter juntado os seus votos aos do PSD para aprovar uma recomendação do Chega de alteração do regulamento municipal para permitir despejar de casas municipais quem comete crimes.

"Todos nós, na nossa vida, nas nossas profissões, temos momentos, temos melhores momentos e momentos piores. Isso não nos define. O que nos define é o nosso contínuo, é o nosso trabalho ao longo do tempo e o trabalho que o Partido Socialista e o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, tem realizado em Loures é um trabalho muito importante", destacou.

Perante a insistência dos jornalistas para dizer se condenava aquelas declarações de Ricardo Leão e se considerava que este tinha sido um mau momento do autarca, Pedro Nuno Santos disse a dado momento: "eu já eu já vos disse que todos nós temos bons momentos e momentos menos bons. Obviamente que este não foi um bom momento na Câmara Municipal de Loures".

"Eu acho que o Partido Socialista, em nenhum lado, em nenhum sítio, deve viabilizar moções do Chega, muito menos moções do Chega com aquele teor", condenou.

Na quinta-feira, o presidente da Câmara de Loures esclareceu que só defende o despejo de inquilinos de habitações municipais que tenham sido condenados e o caso transitado em julgado, assegurando que o município "irá sempre cumprir a lei".

O esclarecimento do autarca surgiu na sequência de declarações que proferiu na quarta-feira, na reunião pública da Câmara de Loures, durante a qual defendeu o despejo "sem dó nem piedade" de inquilinos de habitações municipais que tenham participado nos distúrbios que têm ocorrido na Área Metropolitana de Lisboa, após a morte do cabo-verdiano Odair Moniz, baleado por um agente da PSP.

"É óbvio que eu não quero que um criminoso que tenha participado nestes acontecimentos, se for ele o titular do contrato de arrendamento é para acabar e é para despejar, ponto final, parágrafo", afirmou na ocasião Ricardo Leão.

Críticas ao primeiro-ministro

“Em relação ao senhor primeiro-ministro já é um padrão porque também fui eu o primeiro a ir ao terreno a seguir aos incêndios. Quem governa o país não se pode furtar a estar presente no terreno com as pessoas”, respondeu Pedro Nuno Santos aos jornalistas no final de uma manhã de visitas ao Bairro do Zambujal, em Lisboa.

O secretário-geral do PS referiu que Luís Montenegro, quando foram os incêndios de setembro, só ter ido visitar as zonas afetadas depois da visita da comitiva socialista que liderou.

“Eu espero que o senhor primeiro-ministro visite vários dos bairros que nós temos no país”, defendeu.

Segundo Pedro Nuno Santos, quando os políticos ouvem e estão próximos das pessoas fazem melhor o seu trabalho.

“Quando nós a única coisa que fazemos é chamar as associações para se reunirem connosco num gabinete, nós não estamos a cuidar de ouvir as pessoas”, criticou.

O secretário-geral do PS está a visitar esta semana projetos comunitários nos bairros do Zambujal e da Cova da Moura, no concelho da Amadora, e em Caxias, Oeiras, e tem agendadas reuniões com os sindicatos da polícia.

Estas visitas do secretário-geral do PS decorrem depois de, na passada sexta-feira, também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter estado no Bairro do Zambujal, na Amadora, onde visitou a esquadra da PSP e conversou com familiares de Odair Moniz, baleado mortalmente por um polícia na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura.

Esta visita, que não constava da agenda do chefe de Estado transmitida à comunicação social, foi divulgada posteriormente, através de uma nota na página da Presidência da República.

Na semana a seguir à morte de Odair Moniz registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.