Em comunicado, o teatro nacional - tutelado pelo Organismo de Produção Artística (Opart) - explica que Patrick Dickie informou hoje a ministra da Cultura da sua decisão, tomada por "razões pessoais".

Segundo o teatro nacional, o mandato de Patrick Dickie termina a 31 de agosto, dia em que efetivamente cessará funções como diretor artístico.

Patriick Dickie deixa delineada a temporada 2019/2020, ainda por anunciar, disse à Lusa fonte do teatro nacional.

A saída de Patrick Dickie é conhecida numa altura em que os trabalhadores do TNSC e da Companhia Nacional de Bailado estão em greve e que o conselho de administração do organismo que os tutela, o Opart, liderado por Carlos Vargas, não será reconduzido para um segundo mandato.

O Ministério da Cultura deverá anunciar ainda esta semana a composição do novo conselho de administração do Opart.

Em 2016 Patrick Dickie era consultor artístico do TNSC quando foi nomeado diretor artístico do teatro lírico para um mandato de três anos, na sequência de um concurso internacional.

Em julho de 2016, dois meses antes de assumir oficialmente funções na direção artística, Patrick Dickie dizia em entrevista à agência Lusa que queria revitalizar o público do São Carlos.

Na altura, Patrick Dickie considerava que o TNSC tinha "um público tradicional, em alguns aspetos, que ama repertório operático italiano, mas que já apresentou no passado um repertório raro e menos usual, o que revela também uma audiência que tem curiosidade e uma mente aberta".

A fantasia lírica "L'enfant et les sortilèges", de Maurice Ravel, sob direção da maestrina Joana Carneiro e com encenação de James Bonas, a celebração dos 25 anos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, a estreia de obras dos compositores Luís Tinoco e Ana Seara, a produção italiana da ópera “I Capuleti e i Montecchi”, de Vicenzo Bellini, e a ópera “Elektra”, de Richard Strauss, numa encenação de Nicola Raab, foram alguns dos momentos das temporadas do TNSC sob a alçada de Patrick Dickie.

Na ligação de Patrick Dickie ao TNSC, como diretor, desde 2016, e como consultor artístico, na temporada anterior, destacam-se ainda a estreia nacional "The rape of Lucretia", ópera de Benjamin Britten de 1946, com encenação de Luís Miguel Cintra e elenco totalmente português.

Luís Miguel Cintra dirigira já, em 2016, "Dialogue des Carmélites", de Poulenc, com direção musical de João Paulo Santos.

"Idomeneo", de Mozart, com encenação do australiano Yaron Lifschitz, "La Traviata", de Verdi, em junho, pelo encenador português Pedro Ribeiro, radicado em Londres, “Pagliacci”, de Leoncavallo, e “Der Zwerg” ("O Anão"), de Zemlinsky, numa estrutura cénica comum, foram outras produções do TNSC, apresentadas durante a sua direção.

Antes de assumir funções em Lisboa, Patrick Dickie foi produtor da English National Opera, durante mais de 17 anos, assim como no Aldeburgh Music e no Almeida Theatre, em Londres, tendo programado compositores como Thomas Adès, Giorgio Battistelli, John Casken e Jonathan Dove, entre outros.

Estreou óperas de Daniel Kramer ("Punch and Judy") e Fiona Shaw ("Riders of the Sea", "Elegy for Young Lovers") e "colaborou com entidades pioneiras no teatro imersivo", como La Fura dels Baus ("Le Grand Macabre", de Gyorgy Ligeti), destaca o 'site' do TNSC.

"O seu trabalho é estruturado numa procura incessante de colaborações, criando condições propícias simultaneamente para artistas e público, com o intuito de desenvolver e apoiar artistas", escreve o teatro nacional português, na biografia do diretor artístico.

Patrick Dickie iniciou a carreira como diretor de recursos humanos na English National Opera e encenou produções musicais em diferentes contextos, incluindo a estreia inglesa de Peter Eotvos "As I Crossed a Bridge of Dreams" (Almeida Opera, 2007).

É consultor do Festival de Spitalfields, conclui o TNSC.

(Notícia atualizada às 19h47)