Vários livros da Agatha Christie foram editados para remover linguagem potencialmente ofensiva, adiantou o The Telegraph. As reedições incluem retirar insultos e referências à etnia.
Os mistérios de Poirot e da Miss Marple, escritos entre 1920 e 1976, sofreram reedições, ora alterando passagens, ora removendo.
As novas edições publicadas pela HarperCollins retiram descrições consideradas ofensivas pelo público moderno, principalmente as que envolvem personagens que os protagonistas encontram fora do Reino Unido.
Um dos exemplos é no livro Morte no Nilo, de 1937, onde ao invés de a personagem se queixar das crianças que a estão a importunar dizendo "eles voltam e ficam a olhar, e a olhar, e os seus olhos são simplesmente nojentos, tal como os seus narizes, e eu não acredito que goste realmente de crianças", passa a dizer "eles voltam e ficam a olhar, e a olhar. E eu não acredito que goste realmente de crianças".
Esta decisão de adaptar os livros de Agatha Christie surge depois de passagens dos livros do escritor Roald Dahl, autor de "Charlie e a Fábrica de Chocolate" e "Matilda", entre outros livros infantis, terem passado pelo mesmo processo.
O primeiro livro de Ian Fleming Casino Royale faz em abril 70 anos, e a Ian Fleming Publications, empresa que detém os direitos das obras literárias do autor, também aproveitou a ocasião para reler e fazer mudanças nos livros, com o objetivo de eliminar expressões racistas.
Houve um vasto debate sobre a eliminação de expressões potencialmente ofensivas. A editora Puffin Books, dada a polémica levantada, decidiu mudar o seu plano editorial. Além da versão que substitui, por exemplo, "gordo" por "enorme", com o objetivo de se adaptar às novas gerações, também decidiu lançar uma versão sem alterações.
A Associação Portuguesa de Escritores, questionada pelo SAPO24, afirmou "uma irredutível oposição a todas e quaisquer formas de adulteração com origem editorial ou outra, piores se censórias na base de uma invocada 'sensibilidade contemporânea', das obras dos autores que escreveram e publicaram nos diferentes contextos da História Literária - internacional e, especificamente, portuguesa".
Laura Hackett, editora literária adjunta do The Sunday Times, comparou a decisão da editora a uma "cirurgia mal feita" e Suzanne Nossel, CEO da PEN America, organização de direitos humanos e liberdade de expressão, defendeu, por sua vez, que não se deve restringir o leitor de ler e reagir aos livros como eles foram escritos.
Também Salman Rushdie, escritor que já ganhou o Booker Prize e o Booker of Bookers, criticou abertamente a decisão que considerou uma "censura absurda".
*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel
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