As obras de Roald Dahl, autor de "Charlie e a Fábrica de Chocolate" e "Matilda", entre outros livros infantis, vão ser revistas pela editora Puffin Books.
A editora de livros infantis, parte da Penguin Random House, decidiu agora analisar os livros do escritor e sugerir alterações. O objetivo é editar, cortar, alterar e acrescentar de acordo com as "sensibilidades contemporâneas", adiantou o The Telegraph, adaptando a linguagem em temas como o peso, a saúde mental, a violência, o género e a raça.
Por exemplo, no livro "Charlie e a Fábrica de Chocolate", originalmente publicado em 1964, "enormemente gordo" foi substituído por "enorme", como adiantou o The Guardian. Os Oompa Loopmpas deixam de ser "pequenos homens" e passam a ser "pequenas pessoas". Já no livro "O Fantástico Sr. Raposo", a palavra "preto" foi retirada da descrição dos terríveis tratores, que passaram a ser descritos como "monstros assassinos e brutais".
Esta decisão editorial tem causado muita polémica. Salman Rushdie, escritor que já ganhou o Booker Prize em 1980 e o Booker of Bookers de 1993, reagiu com irritação, considerando-a uma "censura absurda".
Laura Hackett, editora literária adjunta do The Sunday Times, disse que "os editores da Puffin deviam ter vergonha da cirurgia mal feita que realizaram em algumas das melhores obras de literatura infantil do Reino Unido". Acrescentou que guardaria as cópias originais das obras de Dahl para que um dia os seus filhos as possam apreciar.
Suzanne Nossel, CEO da PEN America, organização de direitos humanos e liberdade de expressão, defendeu que o problema de reeditar as obras clássicas é que "começa-se a querer substituir uma palavra aqui e outra ali, e acaba-se a inserir ideias inteiramente novas (como foi feito com o trabalho de Dahl)". Acrescenta ainda que se não se permitir que os leitores leiam e reajam aos livros como eles forem escritos"corremos o risco de distorcer o trabalho de grandes autores e de ofuscar as lentes essenciais que a literatura oferece à sociedade".
A Roald Dahl Story Company, que controla os direitos dos livros, disse que trabalhou com a editora Puffin com o objetivo de garantir que "as histórias e as personagens maravilhosas de Dahl continuam a ser apreciadas por todas as crianças hoje em dia". Segundo a Inclusive Minds, grupo com o objetivo de tornar a literatura infantil mais inclusiva e acessível que participou nestas alterações, as mudanças foram "pequenas e cuidadosamente consideradas".
Dahl morreu em 1990, com 74 anos, com mais de 300 milhões de cópias vendidas e livros traduzidos para 68 idiomas. O escritor é uma figura controversa pelos comentários antissemitas que fez ao longo da sua vida, e sobre os quais a sua família se desculpou em 2020.
*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Alexandra Antunes.
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