A funcionária pública que desafiou uma proibição centenária a 2 de janeiro ao entrar no templo de Sabarimala, no estado de Kerala, na Índia, foi abandonada pela sua família, informaram as autoridades.

Kanaka Durga esteve internada entre 15 e 21 de janeiro no hospital depois de, alegadamente, ter sido agredida pela sogra por ter entrado no templo onde, tradicionalmente, é proibida a entrada de mulheres em idade para serem menstruadas — estando o intervalo de idades definido entre os 10 e os 50 anos.

Segundo a assistente social Thankachan Vithayatil, em declarações à BBC, quando Kanaka Durga voltou para casa na segunda-feira, ao final da tarde, encontrou a casa trancada, sem a presença do marido ou dos dois filhos.

"Ela foi acompanhada pela polícia, que a levou de volta para a casa de acolhimento de mulheres", acrescentou Thankachan Vithayatil.

No dia seguinte, a funcionária pública apresentou-se na esquadra de polícia para onde o seu marido, Krishnan Unni, foi chamado para interrogatório. "Ele não estava disposto a levá-la para casa, enquanto ela insistia que iria para onde ele fosse", relatou à estação britânica o superintendente Prateesh Kumar.

O marido acabou por abandonar a esquadra sem a esposa, que regressou à casa de acolhimento.

Segundo as autoridades, o caso segue agora para tribunal, onde já está a correr uma ação contra a sogra por violência doméstica. "Ela vai pedir ao tribunal permissão para entrar em sua casa. Ela está muito transtornada", adiantou Thankachan Vithayatil.

Depois de entrarem no templo de Sarimbala, Kanaka Durga e Bindu Ammini foram forçadas a ficar escondidas, sob proteção policial. A par, protestos e violência tomaram conta do estado de Kerala, chegando a paralisar os serviços. O caso ganhou projeção política e mediática.

A maioria dos templos Hindus não autoriza a entrada de mulheres durante o período menstrual, mas Sabarimala era um dos raros a proibir a sua entrada entre a puberdade e a menopausa. Assim, a tradição local proíbe mulheres com idade para serem menstruadas — entre os 10 e os 50 anos — de entrar no templo, considerando que isso viola o espaço sagrado.

Estas duas mulheres foram as primeiras a fazê-lo no estado de Kerala, depois de o Supremo Tribunal ter levantado a proibição, em setembro de 2018. Mas o templo de Sabarimala, que atrai milhões de devotos todos os anos, recusou obedecer, tendo as tentativas de várias mulheres de entrar no templo sido frustradas por centenas de crentes.

As duas mulheres abordaram a polícia depois de uma tentativa também frustrada de entrar no templo Hindu, a 24 de dezembro. Como resultado, os oficiais fizeram rondas de reconhecimento ao local para determinar a melhor altura para o transporte até ao local.

Durante mais de uma semana as mulheres estiveram debaixo de proteção policial numa localização desconhecida, até para as suas famílias. A 2 de janeiro, ainda de madrugada, a polícia levou-as ao templo numa ambulância para evitar chamar a atenção. É comum existirem ambulâncias no exterior do templo por causa dos peregrinos.

Depois de fazerem as suas orações, as mulheres misturaram-se com a multidão e saíram, acompanhadas de quatro polícias à paisana.

Assim que se soube da visita das duas mulheres o sacerdote do templo encerrou o espaço para rituais de purificação.

Os partidos da oposição em Kerala consideraram o ato uma "traição" e uma "conspiração" do governo estadual, apelando a protestos, que se seguiram de imediato. Os protestos acabaram por gerar atos de violência. Centenas de pessoas foram detidas pelas autoridades.

A entrada no templo teve lugar dias depois de milhares de mulheres formarem um cordão de vários quilómetros em Kerala para demonstrar o seu apoio à igualdade de género. A iniciativa "muro de mulheres" contou com o apoio do governo.