Os líderes das duas Coreias, Kim Jong-un e Moon Jae-in, acordaram hoje tomar medidas para a “completa desnuclearização” da península coreana, durante a histórica cimeira realizada na fronteira entre os dois países.

“O Sul e o Norte confirmaram a sua meta comum de conseguir uma península livre de armas nucleares através da completa desnuclearização”, refere a declaração conjunta, assinada por ambos os líderes no final da cimeira.

Os detalhes sobre como será conduzida esta desnuclearização ainda não são claros.

As duas Coreias vão procurar também este ano acabar com a guerra de modo permanente, 65 anos após o conflito ter terminado com um armistício.

Os dois vizinhos procurarão com os Estados Unidos e talvez também com a China – ambos signatários do cessar-fogo, na ausência de um tratado de paz – “declarar o fim da guerra e estabelecer um regime de paz permanente e sólido”, refere o texto. Detalha a BBC, nesta matéria, que o objetivo é transformar o armistício de 1953 num acordo de paz ainda este ano.

A declaração conjunta, escreve a Reuters, inclui ainda a promessa de reduzir o armamento militar, parar com atos hostis — como propaganda contra o país vizinho —, transformar a fronteira fortificada numa "zona de paz" e reforçar laços diplomáticos com outros países, como os Estados Unidos.

Após a assinatura, o líder norte-coreano, Kim Jong Un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, deram um abraço dando corpo a uma das afirmações mais importantes deste comunicado: "não haverá mais guerra na península coreana".

Kim Jong-un prometeu ainda fazer o possível para aplicar os compromissos alcançados hoje. As duas Coreias vão coordenar-se para garantir que "não se repete a história infeliz dos acordos intercoreanos anteriores que não deram em nada", declarou, acrescentando que "pode haver contragolpes, dificuldades e frustrações no caminho, mas não se pode alcançar a vitória sem dor".

O Presidente da Coreia do Sul anunciou ainda que vai visitar a Coreia do Norte no outono deste ano. Moon visitará a capital norte-coreana no segundo semestre, afirma o comunicado. Por outro lado, durante esta cimeira, Kim Jong-un mostrou-se disponível para visitar Seul. Moon disse ao líder norte-coreano que poderia mostrar-lhe coisas bem melhores do que as visíveis das instalações onde decorre a cimeira, nomeadamente a Casa Azul, o palácio presidencial em Seul. “Irei à Casa Azul a qualquer momento se me convidar”, respondeu, por sua vez, Kim Jong-un.

O arranque da cimeira

"Estou feliz por o ver”. Foi assim que o presidente da Coreia do Sul cumprimentou o homólogo do Norte, Kim Jong-un, no palarelo 38, no arranque de uma cimeira história entre os dois países, e que os Estados Unidos (a par do mundo) acompanharam atentamente.

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, "tiveram um diálogo sincero e franco sobre a desnuclearização e o estabelecimento de uma paz permanente na península coreana, assim como sobre o desenvolvimento das relações intercoreanas", afirmou o porta-voz da presidência da Coreia do Sul, Yoon Young-chan, aos jornalistas, no decorrer desta cimeira histórica, princípios que acabaram por se materializar na declaração conjunta agora conhecida.

No começo da cimeira desta sexta-feira, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, disse ao líder norte-coreano, Kim Jong Un, que esperava um "acordo ousado". "Espero que nos envolvamos em conversas francas e cheguemos a um acordo ousado para que possamos dar um grande presente a todo o povo coreano e às pessoas que querem a paz", disse Moon no arranque no encontro.

Já o homólogo do Norte assinalava um novo período na história intercoreana. "Eu vim para cá determinado a enviar um sinal de começo no limiar de uma nova história", disse Kim, prometendo uma "mentalidade franca, séria e honesta".

Depois de darem um aperto de mão por cima da linha que separa as duas Coreias, no paralelo 38, Kim Jong-un e Moon Jae-in seguiram para as instalações da cimeira, no lado sul da fronteira, onde iniciaram conversações. De acordo com as imagens transmitidas em direto pelas televisões noticiosas internacionais, o aperto de mão deu-se em cima da linha que separa os dois países, com ambos os líderes sorridentes e com o presidente da Coreia do Sul a dizer ao seu homólogo do norte: “estou feliz por o ver”.

De seguida Kim Jong-un deu um passo em frente e entrou em território sul-coreano, tendo de imediato convidado Moon Jae-in a saltar consigo a fronteira e pisar solo norte-coreano, novamente sob aplausos dos presentes.

Após o cumprimento, Kim Jong-un recebeu um ramo de flores das mãos de duas crianças e seguiu, ao lado de Moon Jae-in, para uma guarda de honra.

Segundo a France Press, antes de a cimeira ter início Kim Jong-un saudou o nascimento de uma nova era de paz. “Uma história nova começa agora – no ponto de partida da história e de uma era de paz”, escreveu o líder norte-coreano no livro de honra colocado nas instalações, no lado sul da fronteira, onde decorrem as conversações.

No arranque dos trabalhos, e segundo a Associated Press, Kim Jong-un disse a Moon Jae-in que não iria repetir o passado onde as duas partes se mostraram “incapazes de alcançar acordos”. Este encontro é o terceiro do género desde o fim da guerra da Coreia, que terminou em 1953.

Sob o olhar atento da Casa Branca

O presidente norte-americano, Donald Trump, saudou hoje a cimeira entre os líderes da Coreia do Norte e do Sul, ressaltando, contudo, que "o tempo dirá" se os resultados foram bons.

"Depois de um ano furioso em lançamentos de mísseis e testes nucleares, está a acontecer um histórico encontro entre as Coreias do Norte e do Sul", escrever Trump na rede social Twitter. "Estão a acontecer coisas boas, mas apenas o tempo dirá", afirmou, acrescentando que "os EUA deveriam estar orgulhosos" do que está a acontecer na Coreia.

“Por favor, não nos esqueçamos da grande ajuda que o meu bom amigo, o Presidente Xi da China deu aos EUA, particularmente na fronteira da Coreia do Norte”, acrescentou ainda Trump. “Sem ele o processo teria sido muito mais longo e duro”, acrescentou o líder norte-americano.

No arranque deste encontro, os Estados Unidos manifestaram a esperança de que a cimeira entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, conduza a “um futuro de paz”. “Esperamos que as conversações permitam caminhar para um futuro de paz e de prosperidade para toda a península coreana”, afirmou a Casa Branca em comunicado.

Washington desejou ainda “boa sorte ao povo coreano” e sublinhou a sua intenção de “prosseguir as discussões aprofundadas para a reunião prevista entre o presidente Donald J. Trump e Kim Jong-un nas próximas semanas”.

O secretário-geral da NATO disse hoje que a Aliança Atlântica apoia plenamente uma solução política para a tensão na península da Coreia, destacando os progressos e os compromissos assumidos pelos líderes das duas Coreias.

“A NATO apoia plenamente uma solução política para a tensão na península. Acolhemos com agrado os progressos feitos hoje, e os compromissos que os dois líderes fizeram para resolver os problemas de forma pacífica”, comentou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa, após a primeira fase da reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, a decorrer em Bruxelas.

Reação portuguesa

O Presidente da República saudou o encontro de hoje entre os líderes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte e a sua "abertura ao diálogo", considerando que deram um "significativo passo no sentido da paz".

Marcelo Rebelo de Sousa deixou esta mensagem numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet.

Nesta nota, o chefe de Estado "saúda o encontro mantido hoje entre os Presidentes da República da Coreia [Moon Jae-in] e da República Popular Democrática da Coreia [Kim Jong-un]".

"Associada ao recente anúncio pelo Presidente Kim Jong-un da suspensão pelo seu país dos ensaios nucleares e balísticos, esta abertura ao diálogo manifestada por ambos os líderes coreanos constitui um novo e significativo passo no sentido da paz e da concórdia e da desejada normalização das relações intercoreanas e desnuclearização da Península Coreana", considera Marcelo Rebelo de Sousa.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou hoje que “o gelo está quebrado” com a aproximação entre as duas Coreias, mas alertou que os gestos protagonizados pelos dois líderes são apenas o primeiro passo no sentido da paz na península.

“O gelo está quebrado. Nestes processos o primeiro passo é o mais difícil e esse primeiro passo está dado. Portanto, estou otimista”, assumiu Augusto Santos Silva.

O chefe da diplomacia portuguesa, que falava à margem da reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, a decorrer hoje em Bruxelas, sublinhou que “os gestos são muito importantes em política externa e nas relações diplomáticas, mas ainda são gestos”.

“Há aqui um ato refundador, que é a possibilidade de ter havido uma reunião face a face dos líderes das duas Coreias, mas agora é preciso avançar no sentido de termos resultados concretos, no sentido da paz e da estabilidade na região”, completou.

Santos Silva disse que há vários resultados concretos que podem ser alcançados com esta aproximação e o primeiro será o fim formal da guerra da Coreia.

“Mas mais importante é que haja um espaço para que as conversações necessárias entre a Coreia do Norte e outros países muito importantes, como os Estados Unidos, possam fazer-se em condições produtivas e a breve trecho e que possamos avançar todos no sentido da desnuclearização da península da Coreia”, indicou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português defendeu ainda que é “muito importante” que a comunidade internacional, designadamente através das Nações Unidas, possa acompanhar este processo.