Amber Heard foi considerada culpada, esta quarta-feira, por difamar o ex-marido. O júri decidiu que Johnny Depp “provou todos os elementos de difamação”.

O ator pedia uma indemnização de 50 milhões de dólares, mas a atriz foi condenada a pagar 15 milhões. Depp também foi condenado numa das acusações feitas por Heard, por difamação, e terá de pagar dois milhões de euros à ex-mulher.

O júri de sete elementos, cuja identidade é secreta, e que assim permanecerá durante o período de um ano, deliberou durante 13 horas ao longo de três dias no Tribunal de Circuito do Condado de Fairfax, perto da capital norte-americana.

Johnny Depp não esteve presente no tribunal no momento em que a decisão foi anunciada, algo que foi criticado pelos advogados de Amber Heard, que disseram que a ausência "mostra as suas prioridades". O ator está no Reino Unido numa viagem de trabalho, tendo também aproveitado para subir ao palco para tocar com o músico Jeff Beck esta terça-feira, em Londres.

A decisão devia ter sido anunciada pelas 20h00, mas o formulário preenchido pelo júri não estava correto, o que obrigou o julgamento a ser interrompido.

"A decepção que sinto hoje está além das palavras"

A atriz reagiu à decisão do tribunal através das redes sociais. "A decepção que sinto hoje está além das palavras. Estou com o coração partido por a montanha de evidências não ser suficiente para resistir ao poder desproporcional e influência do meu ex-marido", escreveu.

Amber Heard disse ainda estar "mais desapontada" pelo que este "veredicto significa para outras mulheres". "É um retrocesso. Atrasa o relógio para uma época em que uma mulher que se manifestou e se manifestou poderia ser envergonhada e humilhada publicamente. Afasta a ideia de que a violência contra as mulheres deve ser levada a sério", disse, sublinhando acreditar "que os advogados de Johnny conseguiram fazer com que o júri ignorasse a questão-chave da liberdade de expressão e ignorasse evidências tão conclusivas de que vencemos no Reino Unido".

"Estou triste por ter perdido este caso. Mas estou ainda mais triste por parecer ter perdido um direito que eu achava que tinha como americana - de falar livre e abertamente", concluiu.

"Seis anos depois, o júri devolveu-me a vida"

"Há seis anos, a minha vida, a vida de meus filhos, a vida das pessoas mais próximas a mim, e também a vida das pessoas, que por muitos e muitos anos me apoiaram e acreditaram em mim, mudaram para sempre", escreveu Johnny Depp nas redes sociais, numa reação à decisão do tribuna.

Afirmando que toda a sua vida mudou num "piscar de olhos" com "alegações falsas, muito sérias e criminais" feitas contra si através dos media, o que, segundo o ator,  "desencadeou uma enxurrada interminável de conteúdo odioso, embora nenhuma acusação tenha sido feita contra mim".

Sublinhando que as acusações da ex-mulher tiveram um "impacto sísmico", Depp agradeceu: "seis anos depois, o júri devolveu-me a vida".

"Desde o início, o objetivo deste caso era revelar a verdade, independentemente do resultado, dizer a verdade era algo que eu devia aos meus filhos e a todos aqueles que permaneceram firmes em meu apoio. Sinto-me em paz sabendo que finalmente consegui isso", conclui o ator.

O que está em causa?

Johnny Depp processou a ex-mulher Amber Heard por um artigo de opinião que a atriz publicou no jornal "The Washington Post" em dezembro de 2018, no qual se descreveu como uma "figura pública que representa o abuso doméstico".

Apesar de a atriz não ter mencionado o nome de Depp, este pedia 50 milhões de dólares de indenização. Numa contra-acusação, Heard exigiu 100 milhões de dólares, sob a alegação de ter sofrido "violência física e abuso desenfreados".

Na sua alegação final, Elaine Bredehoft, advogada da atriz, disse que a ação judicial iniciada por Depp e uma campanha de "humilhação global" têm feito da vida de Heard "um puro inferno". "Destruiu a sua vida. Isso consumiu-a. Ela está a receber ameaças de morte", afirmou a advogada ao júri.

Benjamin Chew, advogado que faz parte da equipa legal de Depp, respondeu que, embora o ator de "Piratas das Caraíbas" não seja um "santo" e tenha tido problemas com drogas e álcool, "não é um abusador violento".

"Ele não merece ter a sua vida e o seu legado destruídos por uma mentira cruel", disse. "Pedimos, imploramos que devolvam o seu nome, a sua reputação e a sua carreira", declarou o advogado.

Bredehoft, por sua vez, pediu ao júri que "responsabilizasse o ator", já que "ele nunca aceitou a responsabilidade por nada na sua vida".

Um julgamento que ficou marcado pela exposição mediática

Dezenas de testemunhas participaram do julgamento, entre elas, guarda-costas, executivos de Hollywood, agentes, especialistas da indústria do entretenimento, psiquiatras, médicos, amigos e familiares.

Depp e Amber foram alvo de escrutínio internacional durante as várias semanas do julgamento, transmitido pela televisão, que atraiu centenas de fãs, principalmente do ator, e também através das redes sociais, com links em direto no YouTube.

Os jurados ouviram gravações de áudio e vídeos das acaloradas discussões do casal, além de fotos das lesões que Heard afirma ter sofrido durante o casamento.

Especialistas em saúde testemunharam por várias horas sobre um ferimento no dedo, que Depp sofreu durante as filmagens de um dos filmes da saga "Piratas das Caraíbas" na Austrália, em março de 2015. Depp contou que a ponta do seu dedo do meio da mão direita foi cortada quando Amber atirou uma garrafa de vodka contra ele. Amber disse não saber como ocorreu a lesão.

Ambos concordaram que Depp chegou a escrever mensagens nas paredes, nos abajures e espelhos com um dedo ensanguentado.

Amber afirmou que Depp tornava-se um "monstro" fisicamente e sexualmente abusivo quando usava álcool e drogas excessivamente, e que resistiu aos repetidos esforços dela para conter o seu consumo.

De acordo com a atriz, Depp prometeu provocar a sua "humilhação mundial" se ela o deixasse. Amber foi objeto de uma extensa campanha de oposição nas redes sociais sob o lema #JusticeForJohnnyDepp. Já Depp declarou que foi "brutal" escutar as "hediondas" e "extravagantes" acusações de abuso doméstico da ex-esposa.

"Nenhum ser humano é perfeito, claro que não, nenhum de nós é, mas nunca cometi agressões sexuais nem abuso físico na minha vida", disse.

Como é que todo o caso de Depp Vs. Amber afetou a carreira dos dois atores?

Amber Heard e Johnny Depp estivaram casados entre 2015 e 2017. Em maio de 2016, a atriz obteve medidas de proteção contra o seu então marido, alegando ter sofrido de violência doméstica.

O ator apresentou uma ação por difamação em Londres contra o jornal The Sun por chamá-lo de "espancador de esposas", mas perdeu o caso em novembro de 2020.

Ambos, porém, alegam danos nas suas carreiras em Hollywood.

A equipa legal de Amber apresentou um especialista da indústria de entretenimento durante as sessões, tendo este estimado que a atriz perdeu contratos e promoções em cinema e televisão no valor total de 45 a 50 milhões de dólares.

Um especialista do mesmo setor, contratado pelos advogados de Depp, disse que o ator perdeu milhões devido às acusações de abuso, incluindo um pagamento de 22,5 milhões de dólares pelo sexto filme da série "Piratas das Caraíbas".