"Sou um dos 16 filhos de uma família muito pobre. No momento em que nasci não tinha quase nada e o meu futuro não era muito diferente daquele que aguardava outras crianças pobres por todo o país", revelou o parlamentar monárquico, que disse ter consciência de que este "testemunho pessoal" poderá ser politicamente "imprudente".
Paulo Estevão recordou que apenas conseguiu livrar-se da pobreza porque foi adotado quando tinha três meses de idade, por uma família com melhores condições financeiras do que a sua família biológica, o que lhe permitiu ter uma melhor educação e melhor desempenho escolar.
"Tive as condições que os meus irmãos naturais não tiveram. Por isso, tive um aproveitamento escolar semelhante aos que não eram pobres", lembrou o deputado do PPM, destacando que existem muitas outras "histórias de vida" como a sua.
No seu entender, é necessária uma "revolução de políticas" nos Açores, que permita combater o flagelo em que vivem muitas famílias na região, vítimas da "indiferença e do preconceito absurdo" de muitas pessoas.
"Do que falo é de uma revolução nas mentalidades e nas prioridades da governação" disse o parlamentar monárquico, lamentando que o atual executivo socialista açoriano não tenha tido capacidade para resolver o problema da pobreza.
Paulo Estevão lembrou que os dados estatísticos sobre a situação social dos Açores são "arrepiantes", dando como exemplo a esperança de vida mais baixa do país (77 anos), a mais alta taxa de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (7,5% da população) ou as taxas de retenção e desistência no ensino regular, superiores ao resto do país.
"Os dados estatísticos são péssimos. O Governo Regional tem, obrigatoriamente, de assumir responsabilidades e de fazer uma autocrítica ao seu desempenho nos últimos 21 anos", insistiu o parlamentar monárquico.
Por seu lado, a secretária regional da Solidariedade Social, Andreia Cardoso, tem uma perspetiva mais otimista dos dados estatísticos e realça as melhorias, entretanto, verificadas, no aumento do rendimento das famílias açorianas ou na redução da taxa de desemprego, que é agora uma das mais baixas do país.
A governante realçou também a importância da Estratégia Regional de Combate à Pobreza e à Exclusão Social que o Governo pretende implementar na região ao longo dos próximos dez anos.
Para a deputada Mónica Seidi, do PSD, o Governo Regional podia ter feito muito mais nesta área, recordando que a bancada social-democrata já apresentou um conjunto de propostas no sentido de ajudar a combater a pobreza no arquipélago, que foram, porém, chumbadas pela bancada da maioria socialista que suporta o Governo.
"A situação social dos Açores é o resultado de um governo que não governa para resolver os problemas da população, mas vive antes preocupado com a sua sobrevivência política", lamentou Mónica Seidi.
Também Artur Lima, da bancada do CDS, critica a "falta de estratégia e de ação" do Governo Regional no combate à pobreza na região, recordando que os anteriores executivos do PS também se propuseram combater este flagelo, com medidas idênticas às que o governo de Vasco Cordeiro agora apresenta.
"Estas medidas que os senhores agora propõem estão condenadas ao fracasso", sublinhou o dirigente centrista, que acusa o executivo de Vasco Cordeiro de "reciclar" propostas do passado, e de não ter "capacidade" nem "vontade" de resolver o problema.
José San Bento, do PS, manifestou, mesmo assim, o seu "orgulho" nas medidas adotadas pelos governos socialistas na região, de combate à pobreza, recordando que os números até podiam ser melhores, se não tivesse existido o Governo de Passos Coelho.
"Os números da pobreza nos Açores não representam nenhum falhanço da governação do PS. Eles traduzem sim a calamidade que foi o Governo de Passos Coelho a nível nacional", lembrou o parlamentar socialista, recordando que muitas das medidas aplicadas na região, nessa altura, se destinavam a minimizar o impacto das restrições impostas pela República.
Os partidos mais à esquerda, preocuparam-se, por outro lado, em desmontar a argumentação socialista, com António Lima, do Bloco de Esquerda, a destacar que o desemprego nos Açores não diminuiu, ao contrário do que revelam as estatísticas, porque os desempregados apenas "transitaram" para os programas ocupacionais.
Já João Paulo Corvelo, do PCP, lembra que o PS tem chumbado várias propostas apresentadas pelo seu partido, que poderiam ajudar a combater a pobreza, como é o caso do aumento do acréscimo regional ao salário mínimo, ou do aumento das pensões, considerando que já é tempo de se acabar com o "faz de conta no combate à pobreza e à exclusão social" nos Açores.
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