“Ficámos bastante orgulhosos que o nosso artigo tenha sido escolhido para capa. É o reconhecimento que a nossa investigação tem uma relevância científica extraordinária. E adicionalmente, porque esta investigação foi liderada e implementada pela nossa equipa”, disse hoje à agência Lusa Ricardo Jorge Lopes, investigador do CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto.
O reconhecimento internacional da investigação científica é ainda mais “gratificante” para Ricardo Jorge Lopes, porque a capa da Science vai ser com uma fotografia da sua autoria.
Até hoje, segundo explicou o cientista, o mundo desconhecia o mecanismo que permitia perceber como é que ocorria nas aves a diferença de cor entre machos e fêmea e a hipótese mais validade dessa diferenciação era justificada nos “milénios de competição entre machos pela atenção das fêmeas”.
“Como é que era possível haver machos com cores bastante vivas e fêmeas a terem cores bastante mais esbatidas” era uma dúvida por explicar e que a equipa de investigadores liderada pelo cientista português da Universidade do Porto Miguel Carneiro conseguiu descobrir.
Esta descoberta vai permitir que os cientistas estudem a evolução da expressão das cores em machos e fêmeas e contribuirá para entender como as estratégias de acasalamento e de nidificação, pressões de predação e a luz ambiental afetam a evolução da coloração em aves.
“Esse mecanismo é bastante simples. No caso dos canários vermelhos ou ‘mosaico’ só devido a diferenças num gene em particular permite que haja essas diferenças de cor entre os machos e as fêmeas com cores menos vivas. Essa é talvez a descoberta mais importante que neste caso é um gene que é responsável pela codificação de uma enzima que degrada carotenoides, pigmentos que vão entre o amarelo e o vermelho e que são responsáveis pelas cores em muitas aves, nomeadamente nos canários”, explica.
O estudo científico teve por base canários vermelhos ou ‘mosaico’, sexualmente dicromáticos (com duas colorações), tendo os machos penas de cores vivas e as fêmeas cores esbatidas.
Os canários vermelhos foram obtidos há várias décadas, quando criadores cruzaram canários com uma espécie similar, mas vermelha, da América do Sul, o Cardinalito da Venezuela.
Os cientistas encontraram uma única região divergente no ADN dos canários mosaico, quando comparado com o ADN de outras variedades de canários. E é nessa região que está um gene, que codifica a enzima Beta-Caroteno Oxigenase 2, a causa mais provável para estas diferenças de cores entre sexo masculino e feminino.
Segundo Ricardo Jorge Lopes, que é também curador de aves no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, a enzima degrada os pigmentos vermelhos e amarelos. A diferença entre os machos com cores vivas e as fêmeas com cores esbatidas é resultado da quantidade de pigmentos que são depositados nas penas. Assim, este tipo de gene pode dar origem a machos mais coloridos e fêmeas com menos cor.
A equipa interdisciplinar e internacional da Universidade do Porto, Universidade de Coimbra, Universidade Washington em St. Louis e a Universidade de Auburn (EUA)foi liderado pelo investigador Miguel Carneiro, que faz investigação em genética de populações, designadamente de aves.
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