“As pessoas estão a invadir o mangal e estão a construir novas habitações. As pessoas que já viviam aqui [na zona residencial] é que começam a sofrer com a fúria da água do mar”, conta à Lusa o jovem, que nasceu e cresceu no Bairro dos Pescadores, na praia de Costa do Sol, a principal de Maputo.
Apesar das placas do município da Cidade Maputo que classificam a área como “zona protegida”, o vasto mangal que cobria parte da praia começa a sucumbir face à construção, entre mansões de quem quer ter uma vista privilegiada, até pequenas moradias improvisadas por pessoas de outras províncias que procuram começar a vida na capital.
“A primeira consequência disto é a perda do ecossistema local. Esta era uma zona de mangal e agora quase todo ele foi retirado. Há espécies que se estavam a desenvolver e agora acabam se perdendo. São espécies que são uma fonte de subsistência para a própria população”, declarou a educadora ambiental Elisa Julai.
Se, por um lado, a construção na “zona protegida” ameaça o ecossistema, por outro, a erosão entra onde a floresta foi arrancada.
A força da água já não encontra barreiras naturais e começa a ter impacto direto na primeira área residencial, com alguns muros de vedação destruídos e as árvores que protegem a estrada a mostrarem as raízes face a “uma maré que anda muito alta nos últimos anos”.
Glória Ernesto, 28 anos, vive a quase 50 metros da placa que sinaliza a “zona protegida” e conta que em vários dias de chuva ou de maré alta já teve de acolher em sua casa alguns vizinhos.
“Quando a água da praia chega, as pessoas desta zona [antes protegida por mangais] vem pedir para dormir ao nosso lado”, conta à Lusa.
Para Elisa Julai, a resposta para o problema está na educação das comunidades, condição para que realmente Moçambique se concentre numa agenda ambiental .
“Algo está a falhar e nós temos de partir da educação: é preciso explicar às pessoas porque é que elas não podem estar aqui e quais são as consequências de construir em mangais”, frisou à Lusa.
Embora com baixos níveis de poluição, Moçambique, com uma costa de cerca de 2.700 quilómetros, está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais.
Este contexto coloca o país entre os mais interessados no alcance das metas do acordo de Paris para travar o aquecimento global, a subida dos oceanos e a proliferação de eventos meteorológicos extremos, mas os desafios são enormes face aos altos índices de pobreza e a ambição de alcançar uma economia industrializada, num momento em que alguns combustíveis fósseis continuam entre os principais produtos de exportação (como o carvão e o gás).
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 26) decorre de 31 de outubro a 12 de novembro e deverá atualizar as metas dos países que assinaram o acordo de Paris para travar o aquecimento global, definindo prazos concretos para atingirem a neutralidade nas emissões de gases poluentes com efeito de estufa.
O sucesso da cimeira dependerá de serem fixados objetivos nacionais mais ambiciosos e de se garantir o financiamento necessário para ajudar os países mais pobres a fazerem as suas próprias transições para economias menos poluentes e para se adaptarem aos efeitos das alterações climáticas.
O objetivo fixado em Paris é limitar até ao fim do século o aquecimento global a 1,5 graus centígrados em relação à era pré-industrial.
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