Jorge Mario Bergoglio é o primeiro eclesiástico da Argentina a comandar os destinos da Igreja Católica. A 13 de março de 2013, escolheu o nome Francisco e na sua primeira aparição à janela da Basílica de São Pedro, no Vaticano, 'quebrou' com a tradição. O Papa Francisco falou aos fiéis ali presentes sem nenhum ornamento litúrgico.
Foi assim que começou e é assim que se tem caracterizado o papado do Papa Francisco. Um quebrar de protocolos, um quebrar de barreiras dentro da Igreja Católica e também de aproximação aos fiéis. Podem caracterizar-se estes últimos 10 anos pela sinodalidade: ouvir cada indivíduo, como membro da Igreja, para entender a forma de cada um interpretar a sua relação com Deus.
Francisco levou novos ares a Roma, optando por viver num apartamento, rejeitando o Palácio Apostólico, e frequentemente convidava para a sua mesa moradores de rua ou presidiários. Um estilo que também lhe rendeu várias críticas de setores que vêm nele uma dessacralização das suas funções.
Mas, não é só fora da Igreja que o Papa Francisco tem trabalhado. O antigo arcebispo de Buenos Aires nunca foi de fazer carreira nos corredores de Roma e ao contrário do seu antecessor, Bento XVI, mais tímido, representa uma mudança. A reforma da Cúria (o Governo da Santa Sé) e o saneamento das duvidosas finanças do Vaticano foram dois grandes pontos.
A reforma chegou no ano transato, com um nova Constituição que reorganiza os departamentos e dá prioridade à evangelização. O pontífice argentino queria descentralizar a instância e dar mais espaço aos laicos e às mulheres. Em termos de finanças, Francisco criou, em 2014, um Secretariado da Economia, implementou uma estrutura de investimento e de medidas anti-corrupção. Ordenou o reajuste do Banco do Vaticano, encerrando 5000 contas, mas, em plena Pandemia da COVID-19, este setor de mudança também sofreu um revés, aquando do caso Becciu, um Cardeal italiano julgado e condenado por uma aquisição mobiliária sem transparência por parte da Santa Sé.
Nos últimos 10 anos, a Igreja tem tido uma grande abertura e com o Papa Francisco tem abordado temas que outrora eram 'tabus'. A multiplicação dos escândalos sexuais na Igreja, que tem marcado os últimos dias em Portugal, tem sido um dos maiores desafios do Papa argentino. Após os fracassos de uma comissão internacional de especialistas criada em 2014 e uma controversa viagem ao Chile em 2018 que terminou com uma série de notórias renúncias e exclusões, o Papa Francisco pediu perdão publicamente por ter defendido um bispo de maneira errada. Um dos seus maiores gestos até agora foi em 2019, quando expulsou o cardeal americano Theodore McCarrick, que tinha sido condenado por agressões sexuais a menores, prometendo um política de "tolerância zero". O pontífice também criou uma comissão para a proteção de menores e mudou medidas como a supressão do segredo pontifíco sobre crimes de abuso sexual por parte do clero e obrigação de denúncia de qualquer caso relacionado com abusos. Inabalável continua o segredo da confissão.
Tendo dado importância uma maior aproximação da Igreja aos seus fiéis, Francisco, nas suas viagens ao exterior, tem dado prioridade às periferias, preferindo países do leste europeu e da África. Tem defendido o multilateralismo e denunciou implacavelmente o comércio de armas. Também tem optado pelo diálogo com todas as religiões, especialmente com a Islamica, como demonstrado pela sua visita ao Iraque em 2021. Durante seu pontificado, também chegou a um acordo inédito com o regime Chinês, em 2018, sobre a complicada questão da nomeação de bispos na China.
Nos dias que correm, com a Guerra da Ucrânia, continua a defender a paz, mas tem tido imensas dificuldades. A relação com a igreja ortodoxa russa também desmoronou desde o início da guerra, apesar do encontro histórico entre o Papa Francisco e os líderes da Igreja Oriental e Ocidental desde o Cisma de 1054.
O futuro? Nos últimos meses têm existido rumores de uma possível renúncia do Papa, que hoje em dia, aos 86 anos de idade, auxilia-se de uma cadeira de rodas para se deslocar. Mas, em entrevista ao jornal La Civiltà Cattolica, Francisco confirmou que até escreveu uma carta dois meses após ter sido eleito, mas que isso foi apenas uma precaução "para o caso de ter algum problema de saúde que me impeça de exercer o meu serviço e não esteja plenamente consciente. No entanto, isso não significa, de forma alguma, que a renúncia dos Papas deva virar 'moda', algo normal", esclareceu Francisco durante a entrevista. "Bento XVI teve a coragem de o fazer por causa da sua saúde. Isso não está na minha agenda de momento. Acredito que o ministério do Papa é ad vitam (para a vida). Não vejo qualquer razão para que não seja assim", prontificou Francisco.
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