Portugal, a par de outros países europeus, está a registar um surto de hepatite A que está relacionado com o chamado "chemsex" (atividade sexual potencial por substâncias químicas).

Desde o início de 2017 que foram diagnosticados mais de 100 pessoas na região de Lisboa e Vale do Tejo. A notícia foi avançada pela SIC, que refere que o número registado até ao momento, é o maior dos últimos quarenta anos.

O diretor-geral da Saúde, Francisco George, esclareceu que o surto terá começado na Holanda num festival de música de verão, razão pela qual o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (EDDC, na sigla inglesa) emitiu uma avaliação de risco. Quanto aos casos registados em Portugal, ao PÚBLICO, adiantou que a maior parte dos diagnosticados são da região de Lisboa e que estão internados em várias unidades hospitalares.

“No ano passado na Europa começou-se a assistir a esta atividade anormal da doença. Parece ter tido origem na Holanda e espalhou-se depois para outros países. O Reino Unido foi o primeiro a reportar um aumento do número de casos e, atualmente, são cerca de 13 países que reportam este aumento, incluindo Portugal. Para lhe dar uma noção da grandeza, no ano passado tínhamos nesta altura seis casos reportados e agora temos uma centena”, explicou à agência Lusa Isabel Aldir, diretora do programa nacional para as hepatites virais da Direção-geral da Saúde (DGS).

A doença transmitisse primordialmente por via fecal-oral e uma grande percentagem dos diagnósticos terão sido efetuados na comunidade dos homens que fazem sexo com homens. Esclarece o PÚBLICO que no "chemsex", isto é, durante o ato sexual, os intervenientes estão envolvidos com múltiplos parceiros sob efeito de substâncias para prolongar a ereção. Porém, a doença pode afetar qualquer indivíduo independentemente da sua orientação sexual.

“Isto pode acontecer com qualquer indivíduo, com qualquer orientação sexual, mas o que tem sido até à data mais descrito, de facto, é um predomínio de casos em homens - não exclusivamente -, mas são muito mais frequentes os casos no sexo masculino comparativamente aos do sexo feminino. E dentro dos homens, parecem ser mais atingidos os homens que praticam sexo com outros homens”, sublinha esta responsável da DGS.

No entanto, é também passível de ser transmitida de pessoa a pessoa e por ingestão de água e alimentos contaminados.

A Direção-Geral de Saúde divulgou já um documento com orientações clínicas para que os médicos e enfermeiros lidem da melhor forma com este tipo de casos. Porém, esclarece que "não existe tratamento específico para a infeção por hepatite A" e que a "ingestão de álcool é totalmente desaconselhada". A DGS aconselha ainda que se tomem "medidas de controlo estritas, como a higiene pessoal, familiar e doméstica, com particular ênfase na lavagem das mãos mostraram-se altamente efetivas no controlo da transmissão".

Adianta também o PÚBLICO que a "hepatite A é uma indicção aguda causada por um vírus. É uma doença habitualmente curável, mas pode ser mais perigosa para pessoas com doenças do sistema imunitário e com doenças do fígado, como cirroses".

Mas ao contrário da hepatite B e da hepatite C, “que podem evoluir para a cronicidade a hepatite A é uma doença autolimitada, curável e benigna”, explica Isabel Aldir.

[Notícia atualizada às 01:09 de 29 de março.]