Em conferência de imprensa na sede do PSD, em Lisboa, sobre a operação de buscas que a Polícia Judiciária (PJ) realizou hoje em todo o país, incluindo a autarquias, sociedades e instalações partidárias, José Silvano frisou que a investigação que está a decorrer incide “sobre factos anteriores à eleição deste líder e desta direção”.

“Quando assumimos a direção do partido, Rui Rio e eu próprio assumimos publicamente estes princípios: não tínhamos medo de nada de ninguém, o mandato para que fomos eleitos teria como foco principal o combate à corrupção, compadrios e falta de transparência na vida política e nunca colocaríamos quaisquer obstáculos à procura da verdade, doesse a quem doesse”, sublinhou.

Por essa razão, hoje quando foi “surpreendido” com um mandado de busca na sede nacional do PSD – onde estão consolidadas as contas de todas as estruturas do partido – o partido disponibilizou “todos os documentos pedidos e espaços para consulta sem quaisquer restrições”, numa operação que ainda decorre na sede da São Caetano à Lapa.

Sobre consequências internas, José Silvano recusou pronunciar-se sobre pessoas e casos concretos – dizendo que a comunicação social parece ter mais informações do que o PSD – e salientou que estas só poderão vir a acontecer caso haja uma sentença com trânsito em julgado.

“Queremos que a verdade dos factos imputados seja total, plena e com a máxima celeridade. Nada justifica a existência de comportamentos lesivos do interesse público, nem situações menos claras e transparentes. Os portugueses têm o direito de saber a verdade”, defendeu, pedindo “celeridade” para que quer os visados quer as entidades afetadas se possam defender.

Questionado se esta investigação pode prejudicar a imagem do partido, o secretário-geral do PSD admitiu que sim: “Normalmente nestas questões paga o justo pelo pecador. É como um saco de batatas: se houver uma batata podre, pode contaminar todas as batatas”.

“Quer o presidente do partido quer eu próprio não temos medo de nada isto, se houver algum facto que leve à má imagem do partido ou à falta de confiança do partido, nós seremos os primeiros a tomar medidas, primeiro deixem decorrer a investigação”, apelou.

O secretário-geral salientou ainda desconhecer quem são os eventuais acusados no âmbito desta investigação ou que crimes lhes estarão imputados porque a informação está em segredo de justiça. Por essa razão, recusou comentar o alegado envolvimento de nomes como Carlos Eduardo Reis, conselheiro nacional do PSD, citado por alguns meios de comunicação social.

“Não posso falar sobre factos que desconheço”, disse, estranhando que a comunicação social tenha acesso a matérias que estarão em segredo de justiça.

Silvano rejeitou que o PSD possa fazer, para já, qualquer averiguação interna, salientando que o partido “não é um órgão de investigação criminal” e que os estatutos do partido só preveem sanções a militantes após sentenças transitadas em julgado.

A PJ realizou hoje cerca de 70 buscas, incluindo a autarquias, sociedades e instalações partidárias, no continente e no arquipélago dos Açores, segundo a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL), adiantando estarem em causa crimes económicos, como corrupção.

No âmbito deste inquérito, investigam-se crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido.

“Segundo os fortes indícios recolhidos apurou-se, no essencial, que um grupo de indivíduos ligados às estruturas de partido político [desenvolveu] influências destinadas a alcançar a celebração de contratos públicos, incluindo avenças com pessoas singulares e outras posições estratégicas”, refere a PGDL, na sua página da internet.

Entre os locais alvos de buscas, contam-se a concelhia de Lisboa do PS, a distrital de Lisboa do PSD e em três juntas de freguesia da capital, Santo António, Estrela e Areeiro.

(Notícia atualizada às 13h55)