Apenas Portugal, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e Roménia não contam, neste momento, com partidos nacionalistas de direita ou de extrema-direita nem nos governos, nem nos parlamentos.

O peso de cada um destes partidos vai refletir-se no próximo Parlamento Europeu (PE), que vai ser eleito entre 23 e 26 de maio, com estudos de opinião a preverem que a direita e a extrema-direita possam ser a terceira maior família política.

Governos maioritários de direita nacionalista

Hungria

Viktor Orbán é quase um símbolo do populismo anti-imigração na UE e o seu discurso em defesa de uma “Europa cristã” ameaçada pela “invasão muçulmana” tornou-o um ícone da direita radical europeia, como a germânica Alternativa para a Alemanha (AfD), a francesa União Nacional (ex-Frente Nacional) e a italiana Liga.

Orbán, 55 anos, obteve em 2010 uma maioria parlamentar de dois terços com o seu partido Fidesz (Aliança Cívica Húngara), o que lhe permitiu aprovar uma nova Constituição e restringir a liberdade de imprensa, lançando uma “democracia iliberal” limitando as liberdades em nome do interesse nacional.

Em 2018, culminando uma campanha com um discurso anti-imigração e o encerramento das fronteiras à vaga de migrantes registada na Europa em 2015, foi reeleito com quase 50% dos votos, elegendo 133 deputados (em 199).

 Polónia

O partido Lei e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, governa com maioria desde 2015, quando obteve 37% dos votos, a que correspondem 234 deputados (em 460), e lançou uma série de reformas do aparelho judicial que levaram Bruxelas a abrir um procedimento por desrespeito da independência da Justiça e do Estado de Direito.

O PiS aceitou voltar atrás em algumas medidas, mas a oposição afirma que os sucessivos “braços de ferro” do governo com a UE possam conduzir a um “Polexit”.

O partido no poder nunca defendeu uma saída da UE, mas o seu líder é uma das principais figuras populistas europeias que defende a soberania dos Estados contra a ideia de federalismo.

Governos de coligação que integram partidos de direita nacionalista ou extrema-direita

Itália

A Liga, que até às legislativas de março de 2018 era um partido regional secessionista, conheceu com Matteo Salvini um salto de popularidade, passando de 4% de votos em 2014 para 14% em 2018.

Nas legislativas desse ano, concorreu aliada à Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e aos Irmãos de Itália, de Giorgia Merloni, tendo obtido 17% dos votos (123 deputados em 630) e acabando por alcançar o poder coligada com o Movimento 5 Estrelas (219 deputados), o partido individualmente mais votado naquela eleição (33%).

Em pouco mais de um ano de governação, a Liga cresceu em popularidade e ultrapassou o M5S, registando em sondagens recentes mais de 30% das intenções de voto, uma vantagem de cerca de dez pontos percentuais sobre o parceiro de coligação.

Aliado da Frente Nacional francesa, admirador de Vladimir Putin e de Donald Trump, e com um discurso fortemente anti-imigração, anti-Islão e anti-euro, Matteo Salvini quer agora liderar uma aliança europeia de nacionalistas.

Áustria

As legislativas de outubro de 2017 marcaram o regresso ao governo do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), de Heinz-Christian Strache, que obteve 26% dos votos (51 deputados em 183) e integrou a coligação chefiada pelos conservadores do ÖVP, do chanceler Sebastian Kurz (61 deputados).

O FPÖ é provavelmente o mais antigo partido nacionalista da UE. Fundado em 1956 por Anton Reinthaller, um antigo oficial das SS, o partido é declaradamente nacionalista, conservador e eurocético, mas foi com a eleição para a liderança de Jörg Haider, em 1986, que se deu a viragem para o populismo de extrema-direita.

Na campanha para as europeias, Strache escolheu o lema “Menos Europa” e anunciou a adesão do FPÖ à aliança de partidos nacionalistas de Matteo Salvini.

República Checa

Andrej Babis, um industrial considerado um dos homens mais ricos da Europa central, governa a República Checa desde dezembro de 2017, quando o seu partido Aliança dos Cidadãos Descontentes (ANO), populista, anti-imigração e eurocético, venceu as legislativas com 29,6% dos votos, elegendo 78 deputados num total de 200.

Formou um governo minoritário, mas, depois de em janeiro seguinte ver chumbada uma moção de confiança ao seu executivo, aceitou coligar-se com os sociais-democratas do CSSC, com quem governa desde então.

Babis, 64 anos, é uma figura controversa, conhecido como “Berlusconi checo” por controlar dois grandes diários e a primeira rádio privada do país e foi investigado por suspeitas de envolvimento numa fraude de 2 milhões de euros de fundos europeus.

Bulgária

A aliança ultranacionalista búlgara Patriotas Unidos integra o governo de coligação dirigido pelo populista conservador Boiko Borissov desde as eleições de 2017, em que obteve 9% dos votos e elegeu 27 deputados (em 240).

A aliança é constituída pelo partido antissemita Ataka e pelos nacionalistas VMRO e Frente Nacional de Salvação da Bulgária (NFSB). Às europeias, os três partidos concorrem separadamente, e as sondagens colocam-nos todos abaixo dos 5% das intenções de voto, com apenas o VMRO a poder eleger um eurodeputado.

O país, que aderiu à UE em 2007, é o mais pobre da União e o que regista maior desigualdade de rendimentos, índices atribuídos ao alto nível de corrupção, que atinge o governo Borissov, envolvido numa série de escândalos de compras imobiliárias abaixo do valor do mercado.

Eslováquia

A Eslováquia é governada pelo SMER-SD, um partido de centro-esquerda que perdeu popularidade em 2016 com a derrota do líder, Robert Fico (54 anos), nas presidenciais, e, segundo analistas, tentou recuperar eleitores encetando uma deriva para a direita e adotando a retórica anti-imigração dos populistas.

A estratégia não resultou e o SMER-SD perdeu quase metade dos votos nas eleições de 2016, ficando-se pelos 28% (49 deputados em 150), com partidos como o Partido Popular A Nossa Eslováquia (L’SNS, extrema-direita) ou o Sme Rodina (direita) a obterem, juntos, um quarto dos votos.

O SMER-SD forjou então uma coligação com o Partido Nacional Eslovaco (SNS, ultranacionalista cristão), que obteve 8,6% e elegeu 15 deputados, e os liberais conservadores do MOST-HID (6,9%, 13 deputados), com governo envolvido em polémicos casos de corrupção e no assassínio de um jornalista, Ján Kuciak, que investigava ligações de colaboradores de Fico à máfia italiana.

Croácia

A Croácia é governada pela União Democrática Croata (HDZ), partido conservador nacionalista, em coligação com o Partido Popular Croata (HNS), que têm respetivamente 55 e quatro deputados (em 151) e governam com o apoio parlamentar de quatro pequenos partidos.

Com o atual líder, Andrej Plenkovic, no cargo desde 2016, a HDZ conheceu um “recentramento” após a liderança de Tomislav Karmarko, que em 2015 chegou a encabeçar uma aliança eleitoral designada “coligação patriótica” que incluía partidos da direita radical e simpatizantes do regime croata Ustasha, que se aliou à Alemanha nazi.

Estónia

As eleições de março de 2019 ficaram marcadas pela subida do Partido Popular Conservador da Estónia (EKRE, nacionalista e eurocético), terceiro partido mais votado, com 17,8% dos votos e 19 deputados eleitos num parlamento de 101.

O governo, liderado pelo Partido do Centro (centro-esquerda), de Juri Ratas, que obteve 24,8% dos votos (27 deputados), optou por formar uma coligação com o EKRE, anti-imigração e partidário de uma aliança com Matteo Salvini no PE, e com o partido conservador Pró-Pátria (13,7%, 14 deputados).

O EKRE tem dividido o eleitorado desde que entrou para o parlamento, em 2015, com um discurso contra as uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, contra a lei do aborto e contra os refugiados.

Letónia

As eleições de outubro de 2018 levaram o partido populista de direita eurocético KPV-LV (Quem Controla O País), fundado em 2016 por Artuss Kaimins, um ator, político e locutor de rádio de 38 anos, a tornar-se o segundo partido mais votado, com 14,5% e 16 deputados eleitos para um parlamento de 100.

Depois de quatro meses de negociações, o primeiro-ministro, Krisjanis Karins, do partido de centro-direita Nova Era, anunciou um governo de coligação de cinco dos sete partidos representados no parlamento, incluindo o KPV-LV.

Desde então o apoio eleitoral do KPV-LV caiu significativamente, para cerca de 2% nas últimas sondagens.

Parlamentos nacionais em que estão representados partidos de direita nacionalista e extrema-direita

Espanha

As legislativas de 29 de abril, que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Pedro Sánchez, venceu com 28,8% dos votos e 123 deputados (num total de 350), ficaram marcadas pela entrada do partido de extrema-direita Vox na câmara baixa do parlamento, com 10% dos votos e 24 deputados.

De discurso nacionalista, contra a independência da Catalunha e contra a imigração, anti-feminista e anti-aborto, o Vox, criado em 2013, ganhou projeção em 2018 com o debate sobre a Lei da Memória Histórica e a exumação dos restos do ditador Fernando Franco, passando, em poucos meses, de três mil para 11 mil militantes.

O partido afirmou-se politicamente em dezembro de 2018, nas eleições na Andaluzia, onde elegeu 12 deputados ao parlamento regional e, apoiando uma coligação entre o Partido Popular (PP) e o Cidadãos, pôs fim a 36 anos de governo socialista na região.

França

A Frente Nacional (FN), que em 2018 se rebatizou União Nacional (RN), é um dos mais antigos partidos de extrema-direita europeus em atividade.

Na atual Assembleia Nacional francesa, de 577 deputados, a RN conta oito, eleitos em 2016, quando o partido de extrema-direita obteve 13,2% dos votos.

Fundado em 1972, o partido, eurocético, protecionista e anti-imigração, não tem tido uma importante tradução parlamentar dos votos que obtém devido ao sistema eleitoral francês, mas nas presidenciais chegou à segunda volta em 2002, com Jean-Marie Le Pen, e em 2017, com a filha, Marine Le Pen, e nas europeias de 2014 obteve quase 25% dos votos, ultrapassando todos os outros partidos franceses e elegendo 24 eurodeputados.

Alemanha

A Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, é a principal força da oposição na câmara baixa do parlamento (Bundestag).

Nas legislativas de setembro de 2017, obteve 12% dos votos e elegeu 91 deputados (em 709), marcando a entrada, pela primeira vez desde o pós-guerra, da extrema-direita no Bundestag e tornando-se o principal partido da oposição ao governo de coligação entre os conservadores da União Democrata-Cristã (CDU), a União Social-Cristã (CSU) e o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD).

Criada por um grupo de académicos e intelectuais que se opunha ao euro e aos resgates financeiros, a AfD foi assumindo posições nacionalistas e, com a crise migratória de 2015 e o acolhimento de quase um milhão de refugiados pela Alemanha, consolidou um discurso anti-imigração e islamófobo.

Bélgica

A Bélgica realiza eleições federais no mesmo dia das próximas eleições europeias, 26 de maio.

Na atual câmara baixa do parlamento, constituída por 150 deputados, têm assento três deputados do partido flamengo de direita nacionalista e populista Vlaams Belang (VB).

As projeções indicam que o partido flamengo pode eleger de seis a 10 deputados no próximo parlamento.

Holanda

As eleições de 2016 para a Câmara dos Representantes foram um dos primeiros testes na UE ao peso das forças de extrema-direita, com o Partido para a Liberdade (PVV), de Geert Wilders, bem colocado nas sondagens.

A eleição acabou por ser ganha pela direita do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, com 21,3% dos votos e 33 deputados eleitos, mas Wilders ficou em segundo lugar, com 13% e 20 deputados eleitos, numa assembleia com 150 assentos.

A par do PVV, que regista atualmente um apoio eleitoral à volta dos 10%, a formação de extrema-direita Fórum para a Democracia (FvD), de Thierry Baudet conseguiu tirar a maioria à coligação governamental no Senado nas eleições provinciais de 20 de março passado, em que obteve 14,5% e elegeu 10 senadores.

Dinamarca

O Partido do Povo Dinamarquês (DPP), tido como populista e de extrema-direita, foi considerado o grande vencedor das legislativas de 2015, ao obter 21% dos votos (37 deputados num total de 179) e tornar-se a segunda maior formação política.

Em 2016, o DPP aceitou um acordo de apoio parlamentar ao governo de coligação entre os liberais do Venstre, do primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen, a Aliança Liberal e o Partido Popular Conservador.

A Dinamarca deverá realizar eleições legislativas até meados de junho e as sondagens atribuem ao DPP entre 12% e 17% das intenções de voto.

Finlândia

O Partido Social-Democrata finlandês (SDP), de Antti Rinne, está a negociar uma coligação de governo que mantenha afastado do poder o partido nacionalista de extrema-direita Verdadeiros Finlandeses.

O SPD venceu as legislativas de 14 de abril, mas elegeu apenas mais um deputado que os nacionalistas, ficando com 40 dos 200 assentos no parlamento, e os Verdadeiros Finlandeses, 39.

“Não penso que possamos trabalhar com os Verdadeiros Finlandeses”, disse Rinne após as eleições, ao anunciar negociações com os conservadores do Partido da Coligação Nacional (38 deputados), os Verdes (20), a Aliança de Esquerda (16) e os liberais do Partido Popular Sueco da Finlândia (9) para formar executivo.

Suécia

O partido nacionalista de direita Democratas da Suécia (DS), chegou nas eleições de setembro de 2018 aos 17,5%, elegendo 62 deputados num parlamento de 349, tornando-se a terceira maior força política do país e o segundo maior partido da oposição ao governo de coligação entre socialistas e Verdes.

Liderado por Mimmie Akesson, o DS, criado em 1988 por antigos militantes do movimento nacional-socialista, entrou no parlamento pela primeira vez em 2010, quando elegeu 20 deputados, com base num discurso fortemente anti-imigração que contrasta com a tradição de abertura da Suécia aos migrantes e refugiados.

Eslovénia

O Partido Nacional Eslovaco (SNS), simpatizante do antigo ditador jugoslavo Josep Broz Tito, regressou em 2018 ao parlamento da Eslovénia com 4% dos votos e a eleição de quatro deputados, num total de 90.

Fundado em 1991, apresentou-se às legislativas pela primeira vez em 1992, quando obteve 10% dos votos e elegeu 12 deputados, mas o apoio caiu para menos de 3% nas eleições seguintes.

O SNS apresentou recentemente legislação para proteger os símbolos nacionais, que proibe nomeadamente que qualquer hino nacional estrangeiro fosse tocado em reuniões públicas, a menos que estivessem presentes delegações estrangeiras. A lei foi aprovada por maioria, mas deverá ser em breve vetada pelo presidente, Andrej Kiska.

Grécia

O partido de extrema-direita Associação Popular – Aurora Dourada tem 16 deputados no parlamento grego (300 assentos), desde que em 2015 foi a terceira força mais votada nas legislativas, com 7%, apenas atrás do Syriza e da Nova Democracia.

Descrito como neofascista e neonazi, o Aurora Dourada nega, mas é qualificado pelo próprio líder, Nikolaos Michaloliakos, como nacionalista e racista.

Michaloliakos e outros 68 membros respondem na justiça, acusados de organização criminosa, agressões e homicídios, um processo desencadeado após o assassínio em setembro de 2013 de um ‘rapper’, esfaqueado por um membro do Aurora Dourada.

Chipre

O partido neonazi Frente Nacional Popular (ELAM), que se define como nacionalista social e popular, obteve nas últimas legislativas, em 2016, 3,7% dos votos, elegendo dois deputados à câmara dos representantes, que conta 56 assentos.

O ELAM, fundado em 2008 e registado como partido político em 2011, defende o golpe de Estado nacionalista de 1974, apoiado pela então junta militar de extrema-direita no poder em Atenas, que pretendia a união da ilha à Grécia, e mantém ligações à Aurora Dourada.

Lituânia

O partido de direita nacionalista Ordem e Justiça assinou em 2018 um acordo de apoio parlamentar ao governo liderado por Saulius Skvernelis, da União dos Agricultores e Verdes da Lituânia (centro-direita), em coligação com o Partido Social-Democrata Trabalhista da Lituânia.

O Ordem e Justiça (PTT) foi fundado em 2002 e desde 2004 é o terceiro maior partido no parlamento, onde está atualmente representado por sete deputados, num total de 141 assentos, eleitos nas legislativas de 2016, quando obteve 7,6% dos votos.

As sondagens para as europeias atribuem-lhe cerca de 7% das intenções de voto.