Numa comunicação interna, a que a Lusa teve hoje acesso, a administração da Global Media Group refere que "aceitou o pedido de demissão dos jornalistas Ferreira Fernandes e Catarina Carvalho, de diretor e diretora executiva do Diário de Notícias", sem adiantar os motivos da mesma.

Foi nomeado "interinamente o atual subdiretor Leonídio Paulo Ferreira, em quem confiamos para dar continuidade a uma informação plural, de rigor e isenção como é timbre deste jornal centenário", adianta o Conselho de Administração, que "aproveita esta oportunidade para endereçar um profundo agradecimento a Ferreira Fernandes e a Catarina Carvalho, pelo enorme esforço que têm dado à empresa e ao DN, e pelo profissionalismo na liderança deste projeto editorial, que exerceram nos últimos dois anos, num contexto especialmente difícil para a generalidade da imprensa em Portugal".

Na nota interna, a administração adianta que "Ferreira Fernandes, um dos cronistas mais reconhecidos e talentosos do país, com créditos firmados no jornalismo de língua portuguesa, e Catarina Carvalho manter-se-ão no Global Media Group, ligados ao Diário de Notícias, uma marca comprometida há mais de 155 anos com a informação de qualidade e que sempre soube antecipar as grandes mudanças da história".

Leonídio Paulo Ferreira, "que agora assume a responsabilidade de diretor interino, é jornalista do Diário de Notícias desde 1992, numa carreira em que por várias vezes assumiu funções de chefia e direção, tendo-se especializado em jornalismo de política internacional".

Licenciado em Comunicação Social pela Universidade de Lisboa, Leonídio Paulo Ferreira é mestre em Estudos Americanos e doutorando em História Contemporânea na Universidade de Évora.

Entretanto, numa mensagem enviada à redação do DN, Ferreira Fernandes faz o balanço de dois anos à frente do título e adianta que a crise da pandemia do novo coronavírus vai levar a Global Media a medidas em que a redação do Diário de Notícias "está entre as mais atingidas" do grupo.

"Fomos informados pela administração que a crise da covid-19 vai levar o grupo GMG a medidas em que a redação do DN está entre as mais atingidas – decidiu a administração. Lamentamos. Por isso, a partir de hoje, Ferreira Fernandes e Catarina Carvalho não podem continuar na direção do DN – porque o nosso critério, como sempre, é o DN", afirma o ex-diretor, no mail à redação do jornal, justificando assim o pedido de demissão.

"Há dois anos, eu e Catarina Carvalho fomos convidados a dirigir o DN. O jornal e o seu grupo estavam em crise, tal como o conjunto das empresas de jornais. Aceitámos sem exigir qualquer aumento salarial ou regalia, aceitámos ficar com os membros da anterior direção e aceitámos o que já havia sido decidido pela administração: passar o DN a jornal digital com uma edição semanal em papel", começa Ferreira Fernandes, na carta.

"Antes dos prazos propostos, uma redação que tinha meia dúzia jornalistas no 'online' passou toda ela, num mês, a integrar a produção digital", prossegue.

"A nossa carreira, minha e da Catarina, passara por vários títulos de jornais e éramos quadros da empresa. Mas o que nos levou a aceitar a direção foi a comum admiração pelo DN: pelo que ele fora de fundador do jornalismo moderno em Portugal, pelo que ele era memória da história nacional e pela marca que deixara na sua Lisboa. Tudo quanto fizemos ou propusemos fazer – sabem a administração e os jornalistas porque o dissemos sempre – tinha um critério: o DN", salienta.

"No cimo da ficha técnica vinha o meu nome, mas quem mandou editorialmente no DN foi a Catarina Carvalho. Porque era quem mais no DN, certamente no grupo, e como poucos em Portugal, se interrogava como passar de um jornalismo obsoleto para o jornalismo que aí vem. Quando fui convidado, lembrei o óbvio nome dela para diretora, mas como uma prova de jornalismo obsoleto insistiram no meu, por causa do irrelevante argumento de ser mais conhecido. Aceitámos porque pudemos fazer o que era para fazer, ser ela a mandar – o que era reconhecido na redação e na administração", acrescenta Ferreira Fernandes.

"Desde há um ano, a direção defendeu para o DN uma organização mais ágil, mais pequena, mais nova e mais barata – a exemplo das soluções que por todo o mundo se discutiam e já se praticam. A direção propôs que se pensassem alternativas, inclusive de rutura, como transformar o DN em fundação, embora ligado à empresa, dedicado à cidade e trabalhando como jornal-escola, com universidades, das quais a direção já tinha ouvido interesse e entusiasmo", refere, apontando que "a administração, argumentando com as dificuldades financeiras, apresentava como solução uma reestruturação, que na prática significava cortes na redação".

Ora, "a direção do DN admitia evidentemente as dificuldades financeiras, mas não aceitava cortes na redação sem estarem integrados num plano do que fazer com o DN. Para nós, o critério, mais uma vez e sempre era: tudo pelo DN, até sacrifícios, logo que a razão do nosso trabalho, o DN, fosse resguardado. Se não, não", sublinha.

"Como foi anunciado na semana passada, entre os sete 'sites' de informação generalista com mais de três milhões de utilizadores (auditados pela netAudience), o DN foi o título, no mês de março de todo os recordes de visualização, o que mais subiu percentualmente (59%)", no entanto, "a redação do DN só tem um terço dos jornalistas de qualquer" um dos outros, apontou.

(Notícia atualizada às 18h21)