A larga maioria das músicas são feitas num processo em que há pouco ou nenhum dinheiro envolvido, com os candidatos a socorrerem-se de amigos ou conhecidos que habitam o concelho e têm experiência musical ou fazem da música um hobby.

A maioria recorre à música ligeira e a sonoridades pop, normalmente com composições próprias, mas os estilos encontrados pela agência Lusa são variados.

Na candidatura do PSD à freguesia de Silvares (Fundão) há laivos de canção lírica, a CDU dá um toque de cante alentejano em Viana do Alentejo, em Vizela um independente aposta no fado e em São Torcato (Guimarães) pegou-se na eletrónica para se fazer um hino para o PS.

Por entre as canções de campanha que vão surgindo, encontram-se algumas músicas conhecidas na sua base. "Despacito" surge como a aposta do PS em Vila Pouca de Aguiar e do PSD na Póvoa de Lanhoso, o mesmo concelho onde os socialistas escolheram a música oficial do Euro 2016, de David Guetta.

A candidatura de Zeferino Vieira à freguesia do Marco, pelo PSD, bebeu inspiração de uma publicidade da Sagres e assim nasceu "Somos Marco.

Já na Covilhã, a candidatura social-democrata usou o tema "Wavin' Fag" de K'naan para pedir "mudança" e o candidato do PS à Junta de Freguesia da Vila de Riba de Ave (Famalicão) usa "Juntos somos mais fortes", dos Amor Electro.

A maioria das palavras-chave dos hinos não difere muito entre candidaturas, quando se olha para as letras, cantadas com maior ou menor desafino.

O candidato é normalmente tratado apenas pelo primeiro nome e é descrito como "trabalhador", "transparente", "honesto" ou "experiente".

Sonhos, paixão e ambição também se entoam pelas letras dos hinos, nos quais "acreditar" e "ganhar" são verbos quase sempre presentes, assim como o apelo à união.

"Alguns dos candidatos dão a letra, outros dão tópicos. Quem está na oposição usa quase sempre as mesmas palavras - novos tempos, novos ventos - e quem está no poder fala de continuar", disse à agência Lusa o músico e também membro da lista do CDS à Câmara de Vila Verde Hugo Torres, que este ano fez hinos para seis campanhas, nos distritos de Braga, Coimbra e Porto.

O artista, que já faz hinos há "uns oito ou 12 anos", sublinhou que este ano os candidatos optam por fugir da música popular e procuram "batidas mais da pop, com nuances de eletrónica, mais sintetizadas".

O hino "tem que ter melodias fáceis, mensagens diretas e refrões orelhudos", comentou Hugo Torres. O músico não cobra nada pelos hinos - apenas as horas gastas na produção em estúdio -, utilizando as autárquicas como uma forma de projeção do seu nome enquanto artista.

Em Odivelas, o Juntos Pelo Povo (JPP) optou por recorrer a amigos para fazer o hino, tal como acontece na maioria dos casos.

"Em vez de recorrer a profissionais, optámos pela prata da casa, porque isso também mostra que queremos utilizar as pessoas da terra para as soluções", explicou o candidato António Oliveira Dias, referindo que a música e letra foram feitas por um elemento do projeto que tem a música apenas como hobby.

Em Viana do Alentejo, a CDU optou por fazer um hino como forma de passar "uma mensagem e para não ser apenas, mais uma vez, a dar ‘A Carvalhesa' de manhã à noite", disse à agência Lusa o cabeça de lista, Luís Miguel Duarte, explicando que a canção foi criada entre amigos que normalmente se reúnem às sextas-feiras para uma tertúlia onde cantam "umas modas alentejanas".

"Tivemos muito sucesso. Vou passando nas ruas com o carro de som e as pessoas vão dançaricando e vão-se mexendo", salientou Luís Miguel Duarte, referindo que é nas redes sociais que o hino tem mais impacto - conta com "sete mil visualizações, quando o concelho não chega aos seis mil habitantes".

Também na freguesia da Ponte, em Guimarães, o hino do PS foi feito com "prata da casa" e alcançou "mais de 25 mil visualizações", quando a localidade tem apenas oito mil habitantes, sublinhou o candidato Sérgio Costa Rocha, que escreveu grande parte da letra interpretada por um cantor da freguesia.

Em Vieira do Minho, o atual presidente, António Cardoso, aposta na estratégia vencedora de há quatro anos. Em 2013, optou por uma música mexida com algumas influências de reggaeton, à imagem da muita música ligeira portuguesa que tem surgido. Este ano segue uma fórmula semelhante.

Apesar do "sucesso" nas redes sociais, António Cardoso entende que é nas ações de campanha que o hino tem mais valor: "Se a música é animada, as pessoas na campanha estão também mais alegres e motivadas", notou o candidato, que tem como refrão de hino "Vai lá, vai lá e vê/ que o presidente amigo é o Cardoso, olé, olé".