Mais de cinco mil educadores de infância e professores do ensino básico e secundário de todo o país responderam a um inquérito ‘online’ realizado em novembro, no qual alertaram para a falta de recursos humanos nas escolas.
Nove em cada 10 docentes (92,6%) afirmam que as medidas de segurança sanitária adotadas dificultam o processo ensino-aprendizagem, sendo que metade (54,1%) acredita que a situação poderia ser minimizada se o Ministério da Educação tivesse reforçado os recursos existentes nas escolas.
“O problema maior é que se tivesse havido um reforço dos meios provavelmente esses problemas poderiam ter sido mitigados, mas não tendo havido reforço, as aprendizagens acabam por ser prejudicadas”, lamenta o secretário-geral da Fenprof, em declarações à agência Lusa.
Mário Nogueira lembra que “há deficits que vêm do ano letivo passado”, altura em que a maioria dos alunos deixou de ter aulas presenciais em meados de março, devido à pandemia.
Sem gente suficiente, surgem problemas no processo ensino-aprendizagem, na relação com os alunos dentro das salas de aula e até no apoio que é preciso dar aos estudantes que não estão presentes.
Nove em cada 10 professores (90,8%) acreditam que ter turmas mais pequenas poderia minimizar os impactos das novas regras durante a pandemia.
Mas para mais de metade dos inquiridos (55,5%) a redução de alunos por turma continuaria a ser insuficiente, sendo necessário reforçar os apoios existentes para fazer face às exigências deste ano letivo, mas também para recuperar dos défices que se acumularam no ano anterior.
“É opinião dos professores que a situação epidemiológica que o país vive dificulta o ensino presencial e daqueles que não conseguem estar presentes, e estão a distância, mas que se agrava pelas escolas não terem podido reforçar os recursos humanos com que contam e terem de fazer muito mais com aquilo que já era insuficiente”, resumiu Mário Nogueira.
A falta de recursos humanos afeta também as aprendizagens dos alunos que não vão às aulas porque estão em isolamento profilático ou de quarentena, em especial quando a sua turma continua a ter ensino presencial.
Já quando toda a turma se encontra em quarentena o problema pode-se resolver com a utilização do horário estabelecido para o desenvolvimento de atividades síncronas e assíncronas.
Três em cada quatro docentes (77,4%) defendem que as escolas deviam ter mais gente para garantir o acompanhamento destes alunos, que estão temporariamente afastados da turma.
Para o secretário-geral da Fenprof, a solução poderia passar por recorrer aos docentes de grupos de risco, que podem desenvolver atividade em teletrabalho, ou então contratando outros professores.
No entanto, as escolas têm optado por instalar câmaras nas salas de aulas ou então pedir aos docentes que, após o seu dia de trabalho, deem apoio aos que estão em casa.
Mário Nogueira alertou que as filmagens e divulgação ‘online’ de aulas presenciais são “estratégias de legalidade duvidosas”, assim como pedir aos docentes para ensinar os alunos depois das aulas.
Segundo a Fenprof, um dos casos viola o limite legal do horário de trabalho e o outro é de “legalidade duvidosa” por razões relacionadas com direitos estabelecidos no Estatuto da Carreira Docente.
No caso das filmagens, colocam-se também problemas de natureza pedagógica que afetam os estudantes que se encontram na sala de aula assim como os que se encontram à distância. Também nestas situações, os docentes acabam por ser prejudicados na relação que estabelecem com ambos os alunos.
A hipótese de colocar câmaras de vídeo na sala de aula teve o acordo de 15% dos docentes, mas a ideia de os alunos que estão ausentes terem apoio após o horário de trabalho dos docentes só foi acompanhada por 11,1% dos inquiridos.
Outro dos problemas que se destaca dos dados hoje divulgados é o agravamento dos processos de inclusão.
Dois em cada três inquiridos (66,7%) admitiu que se “faz o possível, mas as condições sanitárias e a falta de recursos humanos acabam por anular esse esforço”, lembrou Mário Nogueira.
Em relação aos currículos, mais de dois em cada três professores (67,4%) consideram que já eram desajustados e que o problema se agravou com a pandemia.
Os restantes 32,6% afirmam que os currículos eram adequados antes da pandemia, mas, destes, 21,8% consideram que a atual situação epidemiológica impôs condições que os torna desajustados.
O inquérito contou com 5.218 respostas validadas, recolhidas em plataforma eletrónica, entre 13 e 25 de novembro, junto de professores e educadores do continente de todos os níveis de ensino.
A maioria das respostas foi dada por sindicalizados ligados à Fenprof, mas também houve respostas de sindicalizados em outras organizações e não sindicalizados.
Perante estes resultados, Mário Nogueira voltou a salientar a necessidade de os professores reunirem com o ME, um pedido feito há já vários meses pela Fenprof, e recordar que caso não haja abertura por parte da tutela para discutir os docentes irão avançar com a greve geral convocada para 11 de dezembro.
Em junho, o ministro anunciou que o programa tutorial específico seria este ano alargado ao ensino secundário e que havia um novo pacote de 125 milhões de euros para reforçar a contratação de mais professores, funcionários e técnicos especializados.
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