Ao início da tarde o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, manifestava-se convicto de que  iria "ser feita história" na Cimeira para a Paz na Suíça, fazendo votos para que os esforços conjuntos a nível global garantam uma "paz justa tão cedo quanto possível".

Já antes o Chanceler alemão, Olaf Scholz, tinha criticado as exigências feitas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, para negociar a paz, que considerou que pretendem criar "uma paz ditada". Assim como o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, também criticou a proposta do Presidente russo, Vladimir Putin, para cessar a agressão à Ucrânia, considerando que o agressor "não pode ditar as condições para um cessar-fogo". Ainda do lado dos aliados o Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que a paz na Ucrânia "não pode ser uma capitulação" do país.

Se, por um lado, esta é a posição do Ocidente e se há uma onda de esperança a ser depositada nesta Cimeira, por outro o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, lamentou a resposta do Ocidente à proposta de cessar-fogo anunciada na sexta-feira pelo Presidente russo, Vladimir Putin, considerando as reações de "natureza não construtiva".

Posição também partilhada pelo Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que cancelou à última hora a participação na Conferência para a Paz na Ucrânia alegando que a cimeira irá prolongar a guerra. Também alinha pelo mesmo diapasão o Presidente do Brasil, Lula da Silva, que reafirmou que o Brasil só participará nas negociações de paz na Ucrânia se a Rússia também for convidada. Desresponsabilizando Putin pela invasão da Ucrânia e afirmando que as guerras na Ucrânia e em Gaza se devem "à fragilidade" da ONU, salientando que se esta assumisse um "papel de neutralidade" a paz já estaria a ser negociada. Lula da Silva recusou o convite e enviou o seu embaixador em Berna.

A ONU tem sido um ponto fundamental nesta cimeira e sê-lo-á nas conclusões do acordo, mas apenas Lula a culpada pela guerra. Desta forma, a presidente da Comissão Europeia, por exemplo, defendeu que é vital a comunidade internacional "reafirmar o primado da Carta das Nações Unidas", que a Rússia está a violar com a sua "guerra brutal".

Já o representante da bandeira portuguesa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que o sucesso da Cimeira para a Paz na Ucrânia será medido, além do número de participantes, pela adesão ao comunicado final e pelo teor do documento.

O encontro de dois dias é celebrado no luxuoso resort Burgenstock e reúne Zelensky e mais de 50 chefes de Estado e de Governo. O objetivo, segundo o país anfitrião, é preparar um caminho para a paz que mais tarde envolverá também a Rússia.

Putin, no entanto, chamou a cimeira de "truque para desviar a atenção".  Num discurso transmitido na televisão, o líder do Kremlin disse que ordenará um cessar-fogo e iniciará negociações "assim que" Kiev começar a retirar as tropas do disputado leste e sul da Ucrânia e renunciar à adesão à NATO. Zelensky rejeitou o "ultimato" de Putin e mencionou o estilo de Adolf Hitler.

A NATO e os Estados Unidos também repudiaram as condições de Moscovo para acabar com a guerra que começou com a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

O líder ucraniano afirmou este sábado que apresentará propostas de paz à Rússia assim que a comunidade internacional chegar a um consenso.  "Quando o plano de ação estiver sobre a mesa, aceite por todos e transparente para o povo, então iremos comunicá-lo aos representantes da Rússia, para que possamos realmente acabar com a guerra", declarou.

Estado da Guerra em dia paz

Depois de quase um ano de estagnação, a Ucrânia teve de abandonar dezenas de posições na frente nos últimos meses perante a ofensiva russa com tropas maiores e melhor equipadas.

Mas desde meados de maio, a Rússia reduziu o seu avanço e Zelensky espera inverter a tendência a partir desta cimeira e da anterior na Itália, com líderes do G7, encerrada com um empréstimo de 50 mil milhões de dólares a Kiev, financiado com juros dos ativos russos congelados.

Zelensky disse que o empréstimo seria usado "tanto para defesa quanto para reconstrução". Putin descreveu esta medida como "roubo" e advertiu que "não ficará impune".

Nesse mesmo fórum, Zelensky assinou com o seu homólogo americano, Joe Biden, um acordo bilateral de segurança que implicará o fornecimento de ajuda militar e treino às tropas de Kiev.

Biden é o único líder do G7 que não planeia viajar de Itália para a vizinha Suíça e a sua vice-presidente, Kamala Harris, foi no seu lugar.

Substituição que resultou no anuncio de uma ajuda de mais 1,4 mil milhões de euros para "impulsionar o setor energético ucraniano, responder às necessidades humanitárias da população civil e reforçar a segurança".

A cimeira conta com uma grande representação latino-americana, com os presidentes argentino Javier Milei, o chileno Gabriel Boric e o equatoriano Daniel Noboa.

Outros aliados da Rússia no grupo Brics, como a África do Sul e a Índia, enviarão representantes e a China recusou-se a participar.

A forte e diversificada adesão de países e organizações à Cimeira para a Paz na Ucrânia foi destacada por Marcelo Rebelo de Sousa que considerou que tal dá “um aspeto global muito importante” a este “primeiro passo” para o fim da guerra.

No total, os organizadores contam com 92 delegações nacionais que deverão chegar a acordo sobre uma declaração com alguns princípios básicos para um eventual processo de paz.  Estes princípios básicos serão extraídos do plano de paz de dez pontos apresentado por Zelensky no final de 2022 e de resoluções da ONU amplamente apoiadas.

*Com Lusa e AFP