O estudo, intitulado “Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro”, destacou ainda que as milícias, grupos criminosos formados por ex-polícias e agentes do Estado para combater o tráfico de droga, já dominam 57,5% do território urbano do Rio de Janeiro.
O domínio dos outros 15,4% do território é distribuído pelas três maiores organizações do narcotráfico com atuação no Rio de Janeiro: Comando Vermelho, com 11,4%, o Terceiro Comando (3,7%) e a facção Amigos de Amigos (0,3%).
Segundo o mesmo estudo, 25,2% da área urbana do Rio de Janeiro é alvo de disputa entre as diferentes organizações criminosas, o que favorece os confrontos armados, e apenas 1,9% do território ‘carioca’ está livre do domínio de grupos criminosos.
Os confrontos armados entre gangues de traficantes que controlam as favelas, as milícias que as combatem e a própria polícia são comuns no Rio de Janeiro e fazem desta cidade uma das mais perigosas do Brasil.
Os 41 bairros dominados por milícias, um quarto dos da cidade (161), estendem-se por 686,7 quilómetros quadrados, o que representa mais da metade dos quase 1.200 quilómetros quadrados do município do Rio de Janeiro.
Cerca de 2,2 milhões de pessoas vivem nas áreas controladas pelas milícias, ou seja, 33,1% dos 6,74 milhões de habitantes da cidade.
A área dominada pelos traficantes, por sua vez, é de cerca de 185 quilómetros quadrados e está distribuída em 44 bairros (25% do total), onde vivem 1,6 milhão de pessoas.
O levantamento foi elaborado por investigadores do Grupo de Estudos sobre Grupos Ilegais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com entidades e ONG como o Fogo Cruzado e a plataforma digital Pista News.
Para desenvolver o mapa, os pesquisadores analisaram 37.883 relatos de cidadãos sobre a presença de grupos criminosos feitos em 2019 para uma central telefónica criada pelas autoridades para receber denúncias.
Os responsáveis destacaram o rápido crescimento da presença das milícias, que pela primeira vez superaram grupos de traficantes existentes desde a década de 1980 no controlo territorial.
As milícias, formadas por ex-agentes e polícias corruptos, nasceram para enfrentar os traficantes e inicialmente limitaram-se a cobrar taxas de segurança, mas rapidamente se tornaram grupos organizados que cobram taxas ilegais por serviços básicos como transporte e distribuição de gás, acesso à internet e a televisão por assinatura.
“Um dos motivos que fizeram as milícias crescerem rapidamente foi justamente a diversificação dos mercados legais e ilegais pelos quais cobram taxas, que incluem gás, eletricidade, construção ilegal, roubo, televisão por assinatura e até tráfico de drogas”, explicou Daniel Hirata, investigador da UFF e um dos participantes do estudo.
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