O domingo sempre foi um dia que me roubou as raízes. Desde que me mudei para Lisboa, há seis anos, que o passo ora na angústia de voltar à capital, de deixar por mais uma linha de tempo indeterminado a terra onde nasci, cresci, onde tenho os meus amigos de infância e a família, ora na angústia de não a ter deixado o último andar de um prédio que estremece com os primeiros autocarros da madrugada.

Não me entenda mal, por favor. Apaixonei-me depressa pela vida na cidade, mas quando a maior parte do tempo entre estes dois amores é vivido na nacional nº1, sinto que pertenço mais à cadeira ao balcão do Bigodes ou à última fila de um autocarro da Rede Expressos do que à redação ou aquele que foi o meu quarto e que é agora o sítio onde vou dormir quando vou passar uns dias a casa.

O domingo é, na minha vida, despedida e saudade, esse fado tão português dos tempos modernos, causado por um país centralizado.

Este não era para ser um texto de lamento, mas quando ouvi Pedro Mexia falar sobre o mais recente livro de Jorge Silva Melono PBX do mês passado, e de como o dramaturgo fala de uma Lisboa onde se sente um estranho, lembrei-me que desde que me mudei para Lisboa que não passo tempo suficiente em nenhum lado para sentir estranheza e que a ausência do lamento causado pelo moderno a sobrepor-se em camadas sobre as memórias de infância é o mais estranho disto tudo.

Sugestões capazes - até - de alegrar domingos:

  • A minha despedida a Roberto Leal será feita pela madrugada fora, aproveitando o facto de amanhã só dar entrada às 15 horas vou rever, de uma ponta a outra, o Último a Sair;
  • A série documental “El Pionero” que conta a história do antigo presidente do Atlético de Madrid Jesús Gil;
  • O álbum “Face Your Fear” de Curtis Harding que vai estar em novembro em Portugal no Super Bock Em Stock.

Eu sou o Tomás Gomes e hoje o dia foi assim.