“A maior estupidez foi a de ir almoçar com o doutor Francisco Balsemão [então presidente da Impresa], a dizer ‘estás com problemas financeiros, vamos fazer um aumento de capital e eu fico a CEO [presidente executivo]'”, começou por dizer Rafael Mora aos deputados.
Segundo o gestor, quando Nuno Vasconcellos à sua frente, “à frente da sua mãe e do seu padrasto […] disse que ia fazer aquilo”, Rafael Mora avisou-o de que seria “insano” e de que seria “trucidado”.
O gestor está a ser ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
Rafael Mora, que revelou ter sido consultor durante mais de dez anos com Franscisco Pinto Balsemão e Luís Vasconcellos, pai de Nuno Vasconcellos, advertiu que a ideia de tomar o poder na Impresa não cabia “na cabeça de ninguém”.
“Tu leste o artigo que o doutor Balsemão escreveu no dia que o teu pai morreu, no Expresso. Tu achas que alguém que escreve um artigo sentido – e eu sabia que era sentido – dizendo que ‘era o meu melhor amigo, mas foi sempre o meu número dois’, pode vir o filho e ser o número um?”, relatou Rafael Mora aos deputados.
Segundo o antigo sócio de Nuno Vasconcellos, “a mãe, curiosamente, disse-lhe o mesmo”, tal como o padrasto, “mas não, insistiu e foi”.
Questionado pelo deputado Hugo Carneiro (PSD) se Nuno Vasconcellos “era influenciado pelo BES”, Rafael Mora afirmou acreditar que “nessa decisão foi influenciado diretamente pelo doutor Ricardo Salgado”.
“Isto é teoria, não tenho dados, é o meu pensamento, a minha intuição”, disse lembrando que havia “três pessoas próximas dele, que tinham alguma influência intelectual no comportamento dele, especialmente a mãe, que era a dona do grupo”, que não o conseguiram demover.
Rafael Mora disse ainda para se observar “todas as semanas os Expressos do ano anterior a esse anúncio”, considerando que “o alvo de estimação era sempre o BES”.
“Se consegues desviar a atenção do dr Balsemão para um inimigo de estimação muito maior… Aconteceu. A partir daquele dia o inimigo de estimação passou a ser a Ongoing, que até era bem vista e passou a ser mal vista, e curiosamente o BES desapareceu do radar”, disse aos deputados.
Rafael Mora disse ainda que alguns anos depois Francisco Pinto Balesemão e Ricardo Salgado “assinaram a paz” e “subsequentemente o BES reestruturou a dívida da Impresa”.
“Pode não ser ‘vero’, mas de certeza absoluta é ‘vero trovato’. Se tem cabeça de leão, tem juba de leão, tem corpo de leão, ruge de como um leão…não consigo garantir que seja um leão”, disse.
Rafael Mora acrescentou ainda que “a cereja no topo do bolo foi contratar o chefe das secretas, das espias”, Silva Carvalho.
“A contratação do doutor Silva Carvalho é a cereja no topo do bolo. E quando se está a fazer muita estupidez, acaba por se fazer a última. E a partir daí só havia uma saída para o grupo: era ir para o Brasil, não havia outra”, concluiu.
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