O triplo triplo ouro de Usain Bolt, como era conhecido, caiu por terra no passado dia 25 de janeiro, quando o Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou que Nesta Carter, colega de equipa do homem mais rápido do mundo, foi desqualificado da prova de estafetas 4×100 metros dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
A amostra de Carter foi uma de 454 reanalisadas pelo COI. Os testes antidoping deram positivo, tinham sido encontrados traços de dimetilamilamina, um estimulante na lista negra da Agência Mundial Antidoping (WADA).
A equipa de estafeta da Jamaica foi desqualificada da prova, o recorde mundial anulado e o incrível registo de Bolt alterado. Passa de 9 para 8 medalhas de ouro olímpicas. Sem culpa, vê agora a equipa de Trinidade e Tobago ficar com a sua medalha.
“Ao longo dos anos, trabalhei arduamente para ser um campeão” disse o atleta olímpico jamaicano que classificou a situação como “devastadora”, mas, ao mesmo tempo, assumiu “que é uma daquelas coisas que acontecem na vida”.
Agora, Trinidade e Tobago, segundo classificado, recebe o ouro. Os terceiros classificados, a equipa do Japão, deixam o bronze e erguem a prata. No "quarto lugar", a equipa olímpica de estafeta do Brasil recebe o bronze.
Ou seja, os atletas brasileiros serão coroados com justiça, numa cerimónia a anunciar, mas não chegaram a ter o seu momento de glória, devido e merecido, em plenos Jogos Olímpicos. Não receberam a ovação, viveram desde 2008 sabendo que na China, em Pequim, ficaram a um lugar das medalhas.
O caso não é inédito. O SAPO24 fez as contas e criou um guia para perceber este mundo dos campeões que nunca chegaram a subir ao pódio e dos que arriscaram tudo para ter o momento de glória nos Jogos, mesmo sabendo que um dia poderiam ser riscados da lista dos campeões.
A equipa olímpica da Jamaica vai ter de, literalmente, devolver as medalhas?
Sim, o COI ordenou a devolução das medalhas de ouro, dos diplomas e dos pins de campeão olímpico, o que costuma ser o procedimento normal.
Quantas vezes já aconteceu semelhante situação à do Brasil, de um quarto lugar saltar para o pódio?
Já foram atribuídas 105 medalhas de bronze, 73 de prata e 38 de ouro fora do pódio dos Jogos Olímpicos. Ou seja, tratam-se de 216 medalhas que só foram atribuídas, corretamente, aos justos campeões após os eventos desportivos em causa.
Quantos atletas - diferentes - é que perderam as suas medalhas por doping?
192 atletas olímpicos de 31 países diferentes.
Quais os países que registam o maior número de caso de medalhas perdidas devido a doping?
A Rússia, com 32 casos, os Estados Unidos da América, com 11 casos, e o Cazaquistão com 10 casos. Foram estes os três países que perderam mais medalhas por causa do doping.
Qual a atleta que perdeu mais medalhas pelo mesmo motivo?
A norte-americana Marion James perdeu 5 medalhas, três de ouro e duas de bronze, em Sydney, em 2000.
Qual o caso que demorou mais tempo a ser revelado?
Provavelmente o caso mais mediático do desporto, o de Lance Armstrong. Medalha de bronze em Sydney, em 2000, o ciclista só foi riscado da lista de campeões olímpicos 13 anos depois.
Porque é que temos assistido a cada vez mais denúncias de casos de doping?
Se somarmos os casos já divulgados das edições de 2008, em Pequim, na China, e de 2012, em Londres, há 66 atletas riscados. Mais do que em todas as edições anteriores somadas. Os rastreios cada vez mais meticulosos, e constantes, e os avanços da medicina são as grandes razões.
Como correram os últimos Jogos Olímpicos, Rio 2016?
Houve 4 atletas - Izzat Artykov (Quirguistão), Serghei Tarnovschi (Moldávia), Gabriel Sîncrăian (Roménia), Mikhail Aloyan (Rússia) - que ficaram sem medalhas devido a casos de doping no Rio 2016.
Imaginemos que um atleta participa em 4 competições e conquista medalhas em todas elas. No entanto, prova-se mais tarde que se dopou num destes casos. Perde as medalhas todas?
Depende totalmente da substância. Diferentes drogas, diferentes efeitos, diferentes períodos de ação no corpo do atleta.
Quando foi o primeiro caso de doping que riscou um atleta do grupo de medalhados?
O primeiro caso de doping que levou à perda de uma medalha aconteceu em 1968, na Cidade do México, capital do México, na altura em que começaram a ser feitas análises com maior regularidade. Hans-Gunnar Liljenwall, viu a sua medalha de bronze da prova de pentatlo ser-lhe retirada. “Bebi duas cervejas para me acalmar”, disse na altura.
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