No século XIX antes da nossa era, um primeiro canal foi escavado entre o Golfo de Suez e o delta do Nilo, sob o reinado de Sesóstris III. Foi utilizado, com interrupções, até que, no século VIII da nossa era, foi abandonado pelo alto custo da dragagem contínua.

A partir do século XVI, o projeto volta a ser estudado, sucessivamente pelos venezianos, os sábios que acompanharam Napoleão Bonaparte na sua expedição ao Egito, ou pelos adeptos do industrialismo.

Em 1854, a ascensão de Said Pacha ao trono de vice-rei do Egito dá um novo impulso ao projeto.

Dez anos de obras

Em 30 de novembro de 1854, Said Pacha assina uma concessão de 99 anos, autorizando o diplomata francês Ferdinand de Lesseps, seu ex-professor de hipismo, a cavar o canal no istmo de Suez.

No ano seguinte, o francês funda a Companhia de Suez. Apoiado por Napoleão III e pela imperatriz Eugênia, consegue captar por assinatura mais da metade do capital necessário. O vice-rei compra a outra metade das ações.

De acordo com especialistas, milhares de operários morreram durante a construção.

Com 154 quilómetros de extensão, o Canal do Suez "não é prerrogativa de uma nação: deve o seu nascimento e pertence a uma aspiração da humanidade", afirmou Lesseps em 1864, quatro mil anos depois dos primeiros projetos imaginados pelos faraós.

O canal foi oficialmente inaugurado em 17 de novembro de 1869 pela imperatriz Eugénia, após dez anos de obras.

Inauguração do Canal de Suez em 1869
This file photo taken in Novembre 1869 shows the inauguration of the Suez Canal in Egypt. - As the Suez Canal marks its 150th anniversary, Egypt which nationalised the crucial international waterway in 1956 can boast of its modern-day significance to the country's economy. The canal, which links the Mediterranean to the Red Sea, was opened to navigation in 1869 and was expanded in 2015 to accommodate larger ships. (Photo by - / AFP) créditos: AFP or licensors

Um assunto franco-britânico

Em 1875, o vice-rei Ismail Pacha, muito endividado, vende as suas ações ao governo britânico. Cinco anos depois, vende ao Crédit Foncier da França a participação nos lucros. A Companhia de Suez, cuja vocação era originalmente universal, transforma-se, assim, num assunto franco-britânico.

Em 1888, um tratado outorga ao canal o estatuto internacional. Pode ser utilizado por todos os barcos sem exceção, em tempos de guerra e paz, embora isso nem sempre seja respeitado.

Nasser nacionaliza o canal

Em 26 de julho de 1956, o então presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, nacionaliza a Companhia do Canal do Suez para financiar a construção da barragem de Assuão, no sul do país, após a recusa dos Estados Unidos em conceder um empréstimo.

Em 29 de outubro, Israel ataca o Egito na península do Sinai em virtude de um acordo secreto assinado com Paris e Londres, principais acionistas da Companhia.

Dois dias depois, bombardeios franco-britânicos destroem parte da aviação egípcia. A ofensiva dura uma semana.

Em 3 de novembro, o Egito obstrui o canal ao afundar navios.

No dia 6, sob pressão dos Estados Unidos e da URSS, Londres anuncia um cessar-fogo, seguido por Paris. Moscovo ameaça de forma velada usar uma arma nuclear, e Washington, de deixar a libra esterlina afundar.

O Canal do Suez, agora egípcio, reabre para navegação em 29 de março de 1957.

Oito anos fechado

Em junho de 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, o Exército israelita entrou no Sinai e iniciou a ocupação do lado oriental do canal, que foi fechado à navegação.

Em 6 de outubro de 1973, explode o conflito israel-árabe. Os egípcios surpreendem os israelitas e passam pelo Canal do Suez. Uma semana depois, é Israel que passa no sentido inverso.

Os capacetes azuis da ONU são mobilizados para o local. Os dois lados voltam a passar para o controle egípcio em fevereiro de 1974, graças a um acordo entre os dois países beligerantes.

Após 15 meses de obras de desminagem, o Canal do Suez volta a abrir em 5 de junho de 1975.

Canal de Suez, 1973
In this file photo taken on November 10, 1973, Egyptians unload an amphibious vehicle carrying supplies for the Egyptian third army encircled in the Sinai on the Suez Canal, during the Yom Kippur War. On October 6, 1973, on the Jewish holiday Yom Kippur, a two-pronged assault on Israel was launched: Egyptian forces stuck eastward across the Suez Canal and pushed Israelis back, while Syrians advanced from the north and had broken through the Israeli lines on the Golan Heights. - As the Suez Canal marks its 150th anniversary, Egypt which nationalised the crucial international waterway in 1956 can boast of its modern-day significance to the country's economy. The canal, which links the Mediterranean to the Red Sea, was opened to navigation in 1869 and was expanded in 2015 to accommodate larger ships. (Photo by GABRIEL DUVAL / AFP) créditos: AFP or licensors

Modernização

Com o tratado de paz, a história do Canal apazigua a partir de 1975.

O canal cresce e moderniza-se progressivamente. Em agosto de 2015, o presidente Al-Sissi inaugura uma ampliação que permitirá duplicar o tráfego em 2023.

Na atualidade o canal, continuamente transformado e ampliado para receber navios cada vez maiores, é um ativo económico importante (com milhares de milhões de dólares de receita por ano) através do qual passa aproximadamente 10% do comércio marítimo internacional.

Localizado na orla do Sinai, é cenário de gigantescas medidas de segurança pelo Exército egípcio, que combate desde 2013 uma insurreição jihadista no norte dessa península.

"Cada um escreve a história da sua maneira"

O atual presidente, Abdel Fattah al-Sissi, inaugurou o "novo Canal do Suez" com pompa em 2015 - uma duplicação de parte da via fluvial -, mas não está planeada uma grande celebração para os 150 anos.

As festas, os banquetes e desfiles equestres da inauguração de 1869 ficaram nos livros de história. Este ano predominam a discrição e a austeridade.

No Egito e em França, foi lançado um selo postal com a efígie de Lesseps. Em 13 de novembro, aconteceu um simpósio sobre o canal como "lugar de memória" na biblioteca de Alexandria.

Um museu do canal também está programado para abrir em Ismailia, nas instalações históricas da Companhia do Canal do Suez, mas os trabalhos ainda não terminaram.

"Cada um escreve a história da sua maneira", disse o embaixador francês no Egito, Stéphane Romatet, para quem o canal é uma "aventura franco-egípcia".

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