Ao longo de 300 metros, distribuídos pelas duas bermas da via principal, junto ao também designado Hospital Geral, os manifestantes ostentavam dísticos diversos e pronunciavam frases de apoio à causa.

A concentração começou às 10:30 e prolongou-se pela manhã, com a participação de médicos, enfermeiros e demais profissionais do hospital, incluindo trabalhadores do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), bem como sindicalistas, autarcas e dirigentes locais de diferentes forças políticas.

“Fui ressuscitado pelo Hospital dos Covões. Obrigado!”, lia-se num cartaz exibido por Carlos Ventura, vizinho e utente da instituição, integrada há alguns anos no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Padecendo de problemas do foro respiratório, Carlos Ventura estava acompanhado pelo seu amigo Fernando Santos, paciente da área da cardiologia e “doente de risco” seguido nos últimos anos por médicos dos Covões.

Os dois justificaram à agência Lusa a sua presença com a necessidade de “impedir o encerramento” do hospital fundado por Bissaya Barreto, 'maçon' e professor da Faculdade de Medicina de Coimbra, que tinha ligações ao ditador Salazar desde os tempos em que os dois estudavam na Universidade local.

Atualmente reformado, Rui Pato, que na década passada presidiu ao então Centro Hospitalar de Coimbra (CHC), que incluía o Hospital Geral, marcou também presença na manifestação.

“Estou contente por ver que as pessoas aderiram. É a primeira vez que vejo a cidade interessada nesta questão”, declarou o pneumologista à Lusa.

Rui Pato recordou ter trabalhado “nesta casa praticamente 40 anos” e frisou que “não podia ficar alheio” à luta da cidade e da região Centro pela valorização do Hospital dos Covões e contra o seu desmantelamento.

Na sua opinião, a desvalorização por parte da administração do CHUC do complexo hospitalar, em território da União das Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, “é um ato que não tem justificação”.

Rui Pato recordou que António Arnaut, principal impulsionador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), foi utente do Hospital dos Covões e conheceu durante vários anos “a grande qualidade e a humanização dos cuidados” prestados.

O vice-presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Cidade, também participou no protesto na companhia de outros membros do executivo liderado pelo socialista Manuel Machado.

O também líder concelhio do PS afirmou à Lusa que cabe à autarquia “dar o seu contributo para garantir que os Covões sejam um hospital com condições”, em cujo espaço os socialistas querem ver instalada a nova maternidade de Coimbra.

“São questões políticas que estão aqui em causa”, não apenas técnicas, defendeu, corroborando o apelo que Manuel Machado fez, na segunda-feira, à ministra da Saúde, Marta Temido, para travar o desmantelamento do hospital da margem esquerda do rio Mondego.

Carlos Cidade realçou que a luta pela valorização da unidade é igualmente um ato de “respeito e consideração” por António Arnaut e Fernando Bissaya Barreto, enquanto fundadores do SNS e do Hospital Geral, respetivamente.

“SNS de tostões fecha os Covões”, “Não vai ficar tudo bem” e “Hospital dos Covões. De linha frente para o fim da linha. Obrigado, CHUC!” eram algumas das frases escritas nos cartazes.

Carlos Cortes, dirigente regional da Ordem dos Médicos, disse que o “cordão humano” chama a atenção “para um problema de Coimbra e da região Centro”, mas que é igualmente nacional.

Paula Marceneiro, trabalhadora do SUCH, e outras colegas estão preocupadas com o futuro.

“Estamos aqui em defesa do nosso posto de trabalho e pela nossa saúde”, explicou, enaltecendo o papel que o Hospital dos Covões desempenhou nos últimos meses, enquanto unidade de referência no combate à pandemia da covid-19.

Palmas e palavras de ordem diversas foram ouvidas durante a concentração.

“O povo unido jamais será vencido!” foi a frase mais repetida, remetendo para a esperança que há 46 anos dominava as manifestações associadas à revolução do 25 de Abril.

Jorge Gouveia Monteiro, coordenador do movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), que integra independentes e militantes do BE, salientou a necessidade de “defender uma rede hospitalar pública” na cidade, em que os Hospitais da Universidade (HUC) e o Hospital dos Covões poderão complementar-se.

“Foi nesta competição saudável que começou a rede”, em cuja defesa o CpC se envolveu nos últimos anos e que “hoje é uma causa popular”, referiu.

Francisco Queirós, da CDU, estava na companhia de sindicalistas e militantes do PCP, enquanto o Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) se fazia representar por Fátima Pinhão.

“Estou solidário com esta luta”, declarou à Lusa o vereador comunista, afirmando que o hospital “tem vindo a ser desvalorizado e desconsiderado”, num processo que acaba de incluir a transformação da urgência em “unidade de segunda categoria”.

O sindicalista Paulo Anacleto recordou que a criação do CHUC, no início da década, já tinha sido “o descalabro total”.

“Estamos aqui pelo não desmantelamento dos Covões”, acrescentou o dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

O presidente da Junta de Freguesia local e da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), Jorge Veloso, esteve na concentração com o mesmo objetivo.

“Queremos que haja reversão dos serviços que já foram tirados daqui”, preconizou o autarca do PS.

[Notícia atualizada às 16h34]

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