Só em Arouca, entre 07 e 17 de agosto de 2016 arderam 15.500 hectares de floresta, o que provocou prejuízos que a autarquia estima em “mais de 100 milhões de euros”.
Segundo o presidente da Câmara, José Artur Neves, “as contas são fáceis de fazer: eucaliptos de 0 a 6 anos de idade não valem nada, mas de 6 a 10 anos ainda se podem vender. Ora, se metade da área ardida tinha eucaliptos com menos de seis anos, que se deram por perdidos, o prejuízo do proprietário foi de 8.000 euros por hectare”.
“Com mais 2.000 euros em custos de limpeza pós-incêndio e outros 2.000 para replantação, isso dá 12.000 euros de prejuízo por hectare. A multiplicar por 7.750, só aí chega-se aos 93 milhões”, acrescentou.
As restantes perdas prendem-se com o turismo, uma vez que o fogo obrigou ao encerramento por algumas semanas dos Passadiços do Paiva, que podem acolher até 3.000 visitantes por dia (ao preço de um euro por pessoa) e que também geram receitas nos restaurantes, hotéis, táxis e comércio locais.
A estrutura pedonal sobre o rio reabriu parcialmente em setembro, mas, como muitas visitas foram adiadas para março de 2017 (data da reativação integral do percurso), a afluência “baixou drasticamente”, estimando a autarquia que, só ao nível turístico, o prejuízo global tenha sido de quatro milhões de euros.
A isso acresce ainda a questão da perda de pasto natural para a criação pecuária local, o que obrigou 57 proprietários a adquirirem alimentação substituta para 349 cabeças de gado de raça arouquesa e ainda 836 pequenos ruminantes de raça ovina e caprina. A despesa estimada em setembro com a aquisição de pasto processado era de 430.000 euros.
A situação gerou, contudo, uma onda de solidariedade nacional, com cidadãos privados e produtores de outras regiões do país a fazerem donativos de várias toneladas de alimento à Cooperativa Agrícola de Arouca.
Segundo o presidente desse organismo, Joaquim Reis, “ninguém esteve à espera do Estado para resolver o que quer que fosse”.
“Na primeira fase distribuímos os donativos, na segunda comprámos nós o feno e na terceira pusemo-lo à venda a 50% do preço”, contou.
Aos apoios do Governo houve alguns candidatos, mas, um ano depois do incêndio que queimou 155 quilómetros quadrados de floresta no concelho, o presidente da autarquia disse que “do Estado ainda não veio um euro”.
Das 11 candidaturas “extremamente burocráticas” em cujo processo a Câmara apoiou os proprietários, duas, aliás, ainda estão “para análise” pelo Governo desde outubro, embora relativas a recursos tão essenciais na gestão pecuária diária quanto a reabilitação de um palheiro e a substituição de um sistema de rega.
Este fogo que começou em Arouca entrou no dia 08 de agosto no concelho vizinho de S. Pedro do Sul: primeiro surgiu uma frente em Fragoselas e Covas do Monte, depois outras em Gestoso, Bondança, Covas do Rio e a última em Carvalhais e Póvoa das Leiras.
De acordo com o presidente da Câmara, Vítor Figueiredo, o fogo provocou “cerca de nove mil hectares de área ardida”, tendo sido afetadas a União de S. Martinho das Moitas e Covas do Rio e as freguesias de Manhouce, Sul e Santa Cruz da Trapa.
O autarca sempre se escusou a apontar um número para o total dos prejuízos provocados por este incêndio, até porque nunca foi feito “um levantamento exaustivo sobre isso”.
“Não sabemos quantos pinheiros e carvalhos arderam, por exemplo. Por isso, seria sempre inventar números”, justificou.
O município viu aprovadas três candidaturas para reflorestação, abertura de estradões e reparação da rede viária existente, num total de cerca de meio milhão de euros, metade do valor que tinha sido pedido.
“Não fizemos muito até ao momento, porque as candidaturas foram aprovadas em abril/maio e já não era altura para se fazer a reflorestação dos pinhais”, explicou Vítor Figueiredo, acrescentando que está à espera dos meses mais frescos de outubro e novembro para lançar o concurso público.
Segundo o autarca, os privados foram uma grande ajuda, concretamente uma empresa que tem instalações no concelho e que forneceu alimentação para os animais que ficaram sem pastos.
Outro apoio chegou da Embaixada dos Estados Unidos da América, de cerca de 30 mil euros, “que deu para recuperar barracões de três agricultores de Outeiro de Sul, Manhouce e Carvalhais”, contou.
Na altura do incêndio, Vítor Figueiredo queixou-se do facto de nos primeiros quatro dias o incêndio apenas ter sido combatido com os bombeiros locais, o que motivou a abertura de um inquérito.
O autarca disse não conhecer ainda as conclusões deste inquérito, a cargo da Inspeção-Geral da Administração Interna.
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