O data, que comemora este ano o 31.º aniversário da independência da Ucrânia - declarada em 24 de agosto de 1991, pouco antes da dissolução formal da União Soviética, de que fazia parte -, é assinalada com restrições e medidas adicionais de segurança um pouco por todo o país, devido ao receio de mais ataques russos numa semana de forte simbolismo.

O dia da independência fica manchado por coincidir com a marca dos seis meses de guerra que assombra o país desde fevereiro e que causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos —, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

No fim de semana, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante um dos seus discursos diários, declarou que os ucranianos devem estar atentos aos movimentos russos, considerando a data comemorada.

"[A próxima semana] é muito importante para todos nós, para o nosso país. O nosso Dia da Bandeira, o nosso Dia da Independência, está à nossa frente. A comemoração dos veteranos da guerra pela liberdade da Ucrânia está à frente", disse Zelensky.

Contudo, advertiu: "Devemos estar conscientes de que esta semana a Rússia pode tentar fazer algo particularmente desagradável, algo particularmente cruel", observando ao mesmo tempo que seria "como em qualquer outra semana durante estes seis meses, a Rússia fez sempre a mesma coisa: desagradável e cruel".

“[Uma das] tarefas-chave do inimigo é humilhar-nos, ucranianos, desvalorizar as nossas capacidades, os nossos heróis, semear o desespero, o medo, semear conflitos", criticou.

O presidente ucraniano acrescentou ainda que este ano é "realmente especial", considerando que "se pode literalmente sentir no ar da Crimeia que a ocupação lá é temporária e que a Ucrânia está a regressar”.

A sensação de medo que permeia a guerra concentra-se principalmente em relação à central nuclear de Zaporijia, no sudeste da Ucrânia, onde os contínuos bombardeamentos e combates levantaram temores de uma catástrofe nuclear, e nos edifícios governamentais e alvos civis, a propósito da comemoração dos 31 anos da independência no país.

Na terça-feira, os Estados Unidos manifestaram preocupação com possíveis ataques russos a alvos específicos do governo e civis ucranianos durante o Dia de Independência da Ucrânia.

A embaixada dos Estados Unidos em Kiev emitiu um alerta de segurança, no qual sublinhou ter “informações que a Rússia está a intensificar os esforços para lançar ataques contra a infraestrutura civil e instalações governamentais na Ucrânia nos próximos dias”.

Washington pediu mesmo aos cidadãos norte-americanos que saiam da Ucrânia pelos "meios de transporte terrestre privados disponíveis".

Perante estes receios, as autoridades de Kiev anunciaram a proibição de qualquer manifestação pública de 22 a 25 de agosto na capital.

No sábado, o governador da região de Kharkiv anunciou um longo toque de recolher de 23 a 25 de agosto. "Vamos ser o mais vigilantes que pudermos durante o feriado da nossa independência", argumentou Oleg Synegubov no Telegram.

A todo este contexto de tensão soma-se a acusação da Rússia aos serviços secretos ucranianos relativamente ao assassínio de Daria Dugina, filha do filósofo russo Alexander Dugin, próximo do Kremlin, no qual a Ucrânia nega qualquer envolvimento.

Daria Dugina, uma jornalista de 29 anos de um canal de televisão nacionalista russo, morreu na explosão do carro que conduzia na região de Moscovo, no sábado à noite.

A efeméride será também assinalada em outras cidades europeias, como é caso de Lisboa, com a realização de uma cerimónia simbólica comemorativa, e de Berlim, onde está agendada uma “marcha pela liberdade”.

O festival solidário "Connect for Ukraine", que começa hoje em Oeiras e que decorrerá até domingo no Estádio Municipal Mário Wilson, espera cerca de 7.000 pessoas por dia, com as receitas a reverterem para o apoio aos refugiados ucranianos.

Durante cinco dias, pelo festival vão passar cerca de uma dezena de grupos e artistas portugueses, ucranianos e do espaço da lusofonia, como Luís Represas, HMB, Aurea, Martinho da Vila, Matias Damásio, Anna Trincher, Iryna Fedyshyn e Oleksandr Ponomariov.